ALMAS
IMPREVISÍVEIS
-
"Neguinha, tenha certeza, isso é mulher nova, bonita e carinhosa, só você
não quer enxergar, procure um detetive, disse em tom de mofa Alzirinha".
Marlene
ao ouvir a amiga deu vontade de chorar, a raiva tomou conta de sua alma; não
queria acreditar nas suspeitas, a opinião da melhor amiga deu-lhe
quase certeza, Eurico lhe traía, há mais de quatro meses não fazia amor.
Precisava ter calma, muita calma, despediu-se de Alzirinha, saiu da pizzaria,
no estacionamento a cabeça rodava, pensava não ser ciumenta, entretanto, o
ciúme penetrou em suas entranhas, em sua mente.
Eram
quatro da tarde, sentou-se na confortável cadeira na varanda do apartamento, a
vista encantadora da praia de Pajuçara, coqueiros e o azul-esverdeado do mar
deu-lhe volta a tranquilidade, pensava
como agir, ficou matutando até às oito da noite quando Euricão chegou do trabalho.
Depois
do jantar, ela pediu uma conversa, foram à varanda, Marlene perguntou na bucha:
-"Eurico
já não somos crianças, temos filhos bem encaminhados, exijo sinceridade. Existe
outra mulher em sua vida?"
O
marido levou um susto com a pergunta tempestiva. Suspirou para responder.
- "O
que é isso Marlene? Por que você botou essa história na cabeça?"
- "Estou
perguntando tem ou não tem alguma mulher?"
- "Claro
que não meu amor, para que preciso de uma amante? Tenho você, companheira por
mais de trinta anos."
Eurico
se achegou, acariciou o rosto da mulher, beijou-lhe a face, a boca, iniciou algumas
carícias pelas costas descendo até levá-la à cama, uma noite de amor como nunca
mais havia acontecido.
Marlene
não perdeu a desconfiança, contratou o detetive Audálio no Edifício Breda,
centro da cidade, diária, R$ 100,00. Quinze dias de investigação, Marlene
retornou ao escritório, ao ver as
fotografias de Eurico entrando no motel, desabou a chorar, a raiva aumentou ao
perceber um detalhe, a acompanhante era Silvinha, secretária de total confiança,
esposa de seu primo Edmundo. Marlene sufocada pela dor do ciúme, desceu pelo
elevador, foi à Casa do Esporte, comprou
um chicote de equitação. Dirigindo o carro rumou ao escritório da construtora no bairro do
Tabuleiro.
Foi
entrando com o chicote na mão, perguntando pela Silvinha. Cadê Silvinha?
gritava. Ao ver a loura, bonita, 26 aninhos,
deu-lhe uma chicotada na cara, continuou a surra, gritando para todos
ouvirem, "Rapariga, filha de uma égua..." Um funcionário teve a coragem de tomar o
chicote abraçando Marlene, acalmou-a
falando baixo, conseguiu tirá-la
do local. Levou-a para casa em seu carro. Deixou a mulher do patrão no apartamento,
retornou de ônibus.
Eurico
foi chamado com urgência ao escritório.
O que mais doía em Silvinha não eram os edemas das chicotadas, era o marido
saber da traição, acabar o casamento de cinco anos, uma filhinha de três, ao
pensar na família desandava a chorar.
Eurico
não teve coragem de ir ao apartamento àquela hora, telefonou para Alzirinha,
pediu para acalmar a mulher. Retornou à
casa ao anoitecer, ao chegar no edifício
suas malas estavam na portaria, em um envelope pardo um bilhete."Nem ouse
subir".
O
fato se deu exatamente ha um ano. Hoje Marlene vive em busca do tempo perdido,
é a coroa mais charmosa e assídua nos bares da boemia. Eurico fez tudo para voltar, ela nem quer vê-lo. E
quanto a Silvinha, o maridão depois de algum tempo perdoou, vivem na maior
felicidade. Imprevisível a alma de um corno ou de uma corna.

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