LIVERPOOL DOS BEATLES E DE AVRIL ASHLEY
RONALD MENDONCA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Bebedouro da minha infância retorna com toda a força aqui em Liverpoool. A cidade cultua, exala e transpira os Beatles. Há outras paixoes, o futebol, por exemplo. Na Caverna (point obrigatório) admito que curti as velhas canções. Mas, sai um pouco frustrado pela não audição de Yesterday.
Fico chateado pelos meus amigos alucinados pelo quarteto de Liverpool. Quando ele (o quarteto ) surgiu, lá pelos anos sessenta do século passado, confesso, eu não curti. Talvez os mais experientes se recordem. As emissoras de rádio de Alagoas levariam tempo até aderir ao modismo dos Beatles. Bolerões e sambas-canções, embora em evidente declínio, ainda encontravam público. Como um tsunami, a música gerada em Liverpool foi ocupando espaços cada vez maiores. Até a recém criada bossa-nova acusaria o golpe. Roberto Carlos e as tardes de domingo, claramente influenciados pelo novo ritmo, quase transformariam o violão em peça de museu.
Ouvíamos Cauby Peixoto e Angela Maria bem baixinho, desconfiados, com medo que os vizinhos pudessem perceber nossa miséria moral. Nelson Gonçalves, nem pensar!
Penitencio-me perante os meus estoiocos leitores pela minha rude sensibilidade musical. Vou admitir claramente: matuto complexado de Bebedouro, não gostava de canções estrangeiras. Era um xenófobo de carteirinha, se é que voces me entendem. Aos 12-13 anos detestava os Beatles, Frank Sinatra, Elvis Presley… Tinha, com reservas, uma certa simpatia por Edith Piafh, muito mais mais pela sonoridade linguistica.
Francisco Alves, Vicente Celestino, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa,Elizete Cardoso, Dalva de Oliveira, Núbia Lafayette e algumas mais preenchiam o universo sonoro da minha adolescência. Não nego a atração pelos fados portugueses.
A grande verdade é que não evoluí muito no quesito gosto musical. Mas, eis que de repente, o velho dinossauro bebedourense está em Liverpool. Convocado para palestras no Velho Mundo, na mala mais de cinco mil neurocirurgias, alguém achou que minha presença e do colega Aldo Calaça poderiam ser interessantes.
Não foi, assim, a paixão pelos Beatles que me trouxe a Liverpool. Muito menos, a história de madame Avril Ashley, a primeira transsexual operada no mundo, ícone mundial do transsexualismo, orgulho e glória dos nativos da cidade.
Por fim, (respondendo a uma pergunta) o compromisso de bem informar impele-me: nesses poucos dias de observação da dinâmica cidade, para desgosto dos torcedores do Flamengo e do Corinthians, concluo que os companheiros teriam dificuldades em parasitar por essas plagas."
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