AO SABOR DO IMPROVISO
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Alio-me ao misericordioso coro de orações do povo brasileiro pelo restabelecimento do ex-presidente José Sarney. Com fama de incurável patrimonialista,o famoso bigode, queira-se ou não, fez uma expressiva carreira política. Ao assumir, por um aborto, a chefia máxima da nação, teve chance (e até tentou) de entrar na História como um grande presidente. Talvez tenha sido um dos mais nanicos. Embora habilidoso no trato com os colegas, a incúria, o permissivo desempenho como presidente do Senado é motivo de chacotas. No fundo, um adesista que até criou escola. Há quem diga que foi superado pelos pupilos.
Quer-se crer que, a essa altura, ninguém
de bom senso é contrário à ida do José Sarney para São Paulo. Questão humanitária. Com
efeito, aparentemente acometido por grave doença pulmonar (aguda ?), o ladino
senador cumpre o ritual dos figurões da atual República: antes de alçar o
último voo rumo ao Pai, ter a alegria de ser recebido pelo polivalente Roberto
Kalil, o oportuno coringa da medicina brasileira.
Sem dúvidas, seria uma desfeita ao
velho político deixá-lo fenecer no distante Maranhão, longe dos holofotes da
paulistana mídia hegemônica e golpista. Seria inconcebível, dentro do rigor
ideológico e concepção de amparo aos amigos e sócios do governo
socialista/petista. Um parceiro como
Sarney jamais poderia ficar de fora do“ último baile fiscal” no Hospital Sírio Libanês.
Assim, a transferência do
moribundo para o HSL delineia-se como mera formalidade. Pura questão cultural.
Uma tradição que teria se iniciado com as jornadas vitoriosas do
vice-presidente José Alencar e continuado com os caranguejos de Dilma e do
próprio Lula.
O imortal da ABL bem que poderia
ser atendido em um hospital do Sus, lá do seu progressista Maranhão. Infelizmente,
doença não marca encontro, não pede licença. Se não, seria até mais patriótico
que aguardasse a vinda dos médicos cubanos. Iria calar a boca desses mafiosos
de branco do Brasil. Uns mercantilistas.
Corporativistas que só pensam em lucro. Seria um gol de placa o
ex-presidente Sarney ser salvo das garras da “malvada” por um dos
representantes do “mais médicos”.
Vivenciando as últimas etapas na
vida médica (sobram-me 15 ou 20 anos), jamais imaginei testemunhar tamanhas demonstrações de
competência. Cotas para a universidade, vestibular unificado, faculdades de
medicina travestidas de escolas de cidadania, importação de médicos sem
avaliação de conhecimentos, e, finalmente, dentre outras, proposta/desistência de prolongar o curso médico para oito anos.
Salta aos olhos o alto grau de planejamento governamental. Impagáveis surtos de
genialidade.
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