A multidão que protesta contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo é formada por uma diversidade de pessoas. Há gente de várias idades, bairros, profissões, ideologias e opiniões sobre o tema.
Nesta quinta-feira (13), o G1 percorreu as ruas da capital e ouviu histórias de quem decidiu protestar contra o preço da passagem a R$ 3,20. Embora o ato seja convocado por grupos e partidos políticos defensores da causa, a maioria dos participantes não tem vínculo com essas entidades e decidiu integrar o grupo por conta própria.
Leia abaixo as histórias de quem participou do ato desta quinta, o quarto de uma série de protestos iniciada no dia 6 e que tem parado as principais vias de São Paulo e afetado milhões de pessoas para pedir a revogação do reajuste do preço da passagem:
'Isso, sim, é torcida organizada'
Formada em letras e atualmente funcionária do Conselho Britânico, Adriana de Alencar Sorrenti, de 30 anos, diz que mudou de bairro para ficar mais perto do trabalho e não ter que depender tanto do transporte coletivo. Ela participou do ato pela primeira vez, com a colega Luiza Guerra, de 21 anos, e um cartaz que dizia "Torcedor brasileiro: isso, sim, é torcida organizada".
Formada em letras e atualmente funcionária do Conselho Britânico, Adriana de Alencar Sorrenti, de 30 anos, diz que mudou de bairro para ficar mais perto do trabalho e não ter que depender tanto do transporte coletivo. Ela participou do ato pela primeira vez, com a colega Luiza Guerra, de 21 anos, e um cartaz que dizia "Torcedor brasileiro: isso, sim, é torcida organizada".
Adriana afirmou que decidiu aderir porque é a primeira vez em muito tempo que ela presencia tamanha união de pessoas. "Se o brasileiro usasse todo o potencial que usa no futebol para lutar pelos seus direitos, o Brasil hoje seria um país de primeiro mundo."
'Para não voltar ferido, trouxe espuma'
O bacharel em matemática Wesley G., de 20 anos, disse compor o grupo que fica “no final” da manifestação.
“Somos o que a TV chama de vândalos. Ficamos no final para montar barricadas, colocar fogo, causar com a polícia. A ideia era ser algo pacífico, mas quem vandalizou foram eles, os policiais, que estão querendo briga”, disse. No terceiro protesto dos estudantes, na terça-feira (11), foi o momento em que Wesley tentou entregar uma flor para os policiais -- o que, segundo ele, iniciou a confusão.
O bacharel em matemática Wesley G., de 20 anos, disse compor o grupo que fica “no final” da manifestação.
“Somos o que a TV chama de vândalos. Ficamos no final para montar barricadas, colocar fogo, causar com a polícia. A ideia era ser algo pacífico, mas quem vandalizou foram eles, os policiais, que estão querendo briga”, disse. No terceiro protesto dos estudantes, na terça-feira (11), foi o momento em que Wesley tentou entregar uma flor para os policiais -- o que, segundo ele, iniciou a confusão.
“Eu era um dos que estavam em frente à Tropa de Choque tentando entregar uma flor para o PM. Ele não aceitou e daí me ajoelhei e ofereci novamente. Um policial atrás dele atirou para cima e daí começou tudo. Eles que estão querendo briga”, explicou o matemático.
“Levei bala de borracha nos braços, estou cheio de marcas. Nesta quinta-feira, para não voltar ferido, trouxe espuma de colchão. Pedi em uma alfaiataria perto de casa. Coloquei no peito e nas costas, embaixo do moletom, para proteger. Estou distribuindo aqui para os colegas também. É uma boa ideia, amortece a bala”, disse.
“Levei bala de borracha nos braços, estou cheio de marcas. Nesta quinta-feira, para não voltar ferido, trouxe espuma de colchão. Pedi em uma alfaiataria perto de casa. Coloquei no peito e nas costas, embaixo do moletom, para proteger. Estou distribuindo aqui para os colegas também. É uma boa ideia, amortece a bala”, disse.
'Nunca vi uma repressão tão brutal'
Ramón, de 24 anos, não quis dar seu sobrenome para não preocupar os parentes da sua cidade natal, em Goiás. Estudante de ciências sociais e trabalhador em São Paulo, ele estava revoltado às 23h na Avenida Paulista. Depois de fugir do confronto com a PM na Rua da Consolação, ele seguiu até o vão do Masp com um amigo e, quando estava em um grupo de cerca de 50 pessoas em silêncio, ele conta que foi surpreendido com uma abordagem de dezenas de policiais, decididos a debandar o grupo.
“Acima de tudo isso aqui é uma manifestação legítima e eu nunca vi (...) uma repressão tão brutal e sem sentido igual eu vi hoje [quinta-feira] na Avenida Paulista em São Paulo. Não faço parte da organização desse movimento, vim apenas compor, e fui recebido pela polícia com isso”, disse ele, apontando para um arranhão com mais de dez centímetros em seu braço esquerdo, que o deixou em carne viva.
Ramón, de 24 anos, não quis dar seu sobrenome para não preocupar os parentes da sua cidade natal, em Goiás. Estudante de ciências sociais e trabalhador em São Paulo, ele estava revoltado às 23h na Avenida Paulista. Depois de fugir do confronto com a PM na Rua da Consolação, ele seguiu até o vão do Masp com um amigo e, quando estava em um grupo de cerca de 50 pessoas em silêncio, ele conta que foi surpreendido com uma abordagem de dezenas de policiais, decididos a debandar o grupo.
“Acima de tudo isso aqui é uma manifestação legítima e eu nunca vi (...) uma repressão tão brutal e sem sentido igual eu vi hoje [quinta-feira] na Avenida Paulista em São Paulo. Não faço parte da organização desse movimento, vim apenas compor, e fui recebido pela polícia com isso”, disse ele, apontando para um arranhão com mais de dez centímetros em seu braço esquerdo, que o deixou em carne viva.
'Na Argentina não é caro assim'
Ayellen Fernández nasceu na Argentina, tem 20 anos e há cinco imigrou para o Brasil. Vendedora de uma loja perto do Theatro Municipal e moradora do Brás, a jovem, grávida de cinco meses, decidiu participar do ato por discordar do valor atual da tarifa. “Tem que baixar, na Argentina não é caro assim”, afirmou.
Ayellen Fernández nasceu na Argentina, tem 20 anos e há cinco imigrou para o Brasil. Vendedora de uma loja perto do Theatro Municipal e moradora do Brás, a jovem, grávida de cinco meses, decidiu participar do ato por discordar do valor atual da tarifa. “Tem que baixar, na Argentina não é caro assim”, afirmou.
Vestindo uma camiseta cor de rosa que evidenciava sua barriga em gestação, ela prometeu caminhar com a passeata apenas no início. Ayellen admitiu o medo da repressão policial e o risco de exposição ao gás lacrimogêneo. Acompanhada de uma amiga, ela seguiu pelo menos até o Edifício Copan, com uma máscara na mão.
'Somos inimigos só no campo'
Em frente ao Theatro Municipal, bem escondido, ao fundo dos manifestantes e encostado junto à parede de um banco, um grupo de sete homens observava a manifestação contra o aumento da tarifa. Todos eles usavam preto e alguns estavam com os rostos cobertos.
Em certo momento, retiraram fogos de artifício de uma sacola e esconderam debaixo das camisetas. “Vamos disparar durante a manifestação. Somos da Torcida Independente, do São Paulo”, explicou um deles.
Mais adiante, no acesso à Rua da Consolação, dois jovens também com os rostos cobertos conversavam junto a uma parede. Um se disse integrante da Gaviões da Fiel, a torcida organizada do Corinthians. O outro afirmou pertencer à Mancha Verde, torcida organizada do Palmeiras. Eles disseram ser acadêmicos de ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP).
Questionados sobre o porquê de dois jovens de torcidas rivais estarem juntos no protesto, responderam: “Somos inimigos só nos campos, aqui estamos juntos. Somos amigos, colegas de classe, estudamos e estamos sempre juntos. A causa aqui é única, não tem racha, não”, respondeu um deles, afirmando que moram no ABC paulista.
Em frente ao Theatro Municipal, bem escondido, ao fundo dos manifestantes e encostado junto à parede de um banco, um grupo de sete homens observava a manifestação contra o aumento da tarifa. Todos eles usavam preto e alguns estavam com os rostos cobertos.
Em certo momento, retiraram fogos de artifício de uma sacola e esconderam debaixo das camisetas. “Vamos disparar durante a manifestação. Somos da Torcida Independente, do São Paulo”, explicou um deles.
Mais adiante, no acesso à Rua da Consolação, dois jovens também com os rostos cobertos conversavam junto a uma parede. Um se disse integrante da Gaviões da Fiel, a torcida organizada do Corinthians. O outro afirmou pertencer à Mancha Verde, torcida organizada do Palmeiras. Eles disseram ser acadêmicos de ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP).
Questionados sobre o porquê de dois jovens de torcidas rivais estarem juntos no protesto, responderam: “Somos inimigos só nos campos, aqui estamos juntos. Somos amigos, colegas de classe, estudamos e estamos sempre juntos. A causa aqui é única, não tem racha, não”, respondeu um deles, afirmando que moram no ABC paulista.
'Essa briga tem que ser de todo mundo'
Com camisa, paletó e uma pasta executiva, Michel Perin, de 23 anos, observava a concentração de milhares de pessoas em frente ao Theatro Municipal, às 17h30 da quinta. “Não costumo participar, porque gosto de analisar antes”, disse. Mesmo sem ter certeza se caminharia com a passeata ou não, ele condenou o aumento da tarifa.
“Acho que está um absurdo, muito cara”, explicou o consultor que mora em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, e usa a CPTM e o Metrô para trabalhar no Centro e na Zona Sul. “Essa briga tem que ser de todo mundo.”
Com camisa, paletó e uma pasta executiva, Michel Perin, de 23 anos, observava a concentração de milhares de pessoas em frente ao Theatro Municipal, às 17h30 da quinta. “Não costumo participar, porque gosto de analisar antes”, disse. Mesmo sem ter certeza se caminharia com a passeata ou não, ele condenou o aumento da tarifa.
“Acho que está um absurdo, muito cara”, explicou o consultor que mora em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, e usa a CPTM e o Metrô para trabalhar no Centro e na Zona Sul. “Essa briga tem que ser de todo mundo.”
'Sou assediada dentro do ônibus lotado'
Militante do PSTU há nove anos, uma professora da rede pública de 45 anos participava do ato na quinta com uma camiseta de um grupo feminista da Conlutas e uma bandeira de seu partido. A moradora do Itaim Paulista, na Zona Leste de São Paulo, afirma que precisa pegar duas conduções todos os dias para ir e voltar do trabalho.
“Acho um absurdo pagar R$ 3,20, o transporte público só serve para dar lucro aos empresários. Enquanto mulher, me sinto mal porque sou assediada sexualmente dentro do ônibus lotado”, reclamou a professora, que não quis se identificar, durante a concentração do ato.
Militante do PSTU há nove anos, uma professora da rede pública de 45 anos participava do ato na quinta com uma camiseta de um grupo feminista da Conlutas e uma bandeira de seu partido. A moradora do Itaim Paulista, na Zona Leste de São Paulo, afirma que precisa pegar duas conduções todos os dias para ir e voltar do trabalho.
“Acho um absurdo pagar R$ 3,20, o transporte público só serve para dar lucro aos empresários. Enquanto mulher, me sinto mal porque sou assediada sexualmente dentro do ônibus lotado”, reclamou a professora, que não quis se identificar, durante a concentração do ato.
'Mudança do preço afeta família inteira'
Pais presentes, a poeta Carol Ubir, de 45 anos, e o marido Guto Carvalho Passos, de 51, foram à manifestação acompanhar dois dos três filhos, que integram o protesto contra o aumento da passagem. O terceiro filho não pôde ir, explicou Carol, porque estava trabalhando.
“Meus filhos falam sobre isso em casa e a mudança no preço afeta a família inteira. Não temos carro, só usamos transporte público”, diz Passos, que trabalha com pássaros e animais silvestres.
“As flores brancas são porque a ideia aqui é paz. Vimos as outras manifestações anteriores em que houve confusão. Mas temos o direito democrático de nos expressar, espero que tudo saia pacífico desta vez”, diz Carol.
Pais presentes, a poeta Carol Ubir, de 45 anos, e o marido Guto Carvalho Passos, de 51, foram à manifestação acompanhar dois dos três filhos, que integram o protesto contra o aumento da passagem. O terceiro filho não pôde ir, explicou Carol, porque estava trabalhando.
“Meus filhos falam sobre isso em casa e a mudança no preço afeta a família inteira. Não temos carro, só usamos transporte público”, diz Passos, que trabalha com pássaros e animais silvestres.
“As flores brancas são porque a ideia aqui é paz. Vimos as outras manifestações anteriores em que houve confusão. Mas temos o direito democrático de nos expressar, espero que tudo saia pacífico desta vez”, diz Carol.
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