BOLSA MENSALÃO
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Abro os jornais e vejo a foto
do gladiador José Dirceu. Ele voltou. Um mártir! Comandante-em-chefe de uma
legião acima de qualquer suspeita, teve generais de primeiríssima qualidade. No
seu batalhão não havia soldados rasos. Um esquadrão de elite. Num país de tão
fraca memória, não se pode deixar de homenagear essas heroicas figuras.
É impossíve esquecer
do José Genoíno, cidadão de uma grandeza moral que não se encontra
mais. Pudera! O que se espera do presidente de um partido que nem rouba, nem
deixa roubar?
Professor Delúbio, é outro incompreendido. Imaginem o sacrifício deste
rapaz. Durante longos anos, dedicou-se a dar aulas. Somente um espírito
superior poderia suportar aquele horrível pó de giz penetrando nas unhas, correção
de provas... Um cara brilhante a elucidar complexos problemas da matemática. Há
quem diga, até, que teria sido um dos operadores da duplicação do cubo. Era
secretário do partido da ética e da moral, enquanto mourejava na quadrilha,
digo, na equipe, de Zé Dirceu.
Tesoureiro do PT, o doce Silvinho
foi um dos generais daquela histórica cruzada cívica, o mensalão, que marcou o
início glorioso do governo do tipo mais ético do país, ninguém menos que Luiz
Inácio. Silvinho teve participação tão destacada que foi agraciado pelos
empresários com uma Land Rover, premiação apenas concedida aos ungidos.
Outra vítima da intolerância da
Suprema Corte, Marcos Valério foi uma das maiores aquisições do chefe Dirceu.
Louve-se o faro do guerrilheiro. Veterano de outras guerras, Valério trazia
marcadas no peito batalhas sob as montanhas ferrosas de Minas, onde teria cunhado
seu pendor. Investia nas ambições pecuniárias de amigos e eventuais
adversários. A intimidade com as diretorias de casas bancárias deixaria
Rockfeller envergonhado. Não se sabe bem o porquê, mas nosso guru, Luiz Inácio,
não pode ouvir falar desse nome.
Dentre outros, duas palavras
sobre João Paulo, um dos heróis do mensalão. Sua pureza d´alma é tão comovente que
não hesitou em mandar sua santa esposa apanhar na boca do caixa uma premiação
de modestos cinquenta mil. O impressionante é a humildade do sujeito:
presidente da Câmara dos Deputados submeter-se a merreca tão acachapante.
Restam assim inexplicáveis as
condenações pelo STF. Não fora a imprensa escrava, amordaçada pelo capital
estrangeiro, a inventar coisas contra esses mártires e tudo estaria resolvido. Urge anular.
Nada de novo julgamento. Inocentes não são julgados. A hora é de pedir
desculpas. Além disso, para compensar danos morais etc, há que se criar uma
bolsa-mensalão para as vítimas. Por fim, é imprescindível empastelar essa
imprensa nojenta, a soldo do sujo
dinheiro de Margaret Thatcher e Ronald Reagan.
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