RENÚNCIAS, DESGOSTOS QUE NÃO TÊM REMÉDIOS
RONALD MENDONÇA –
médico e membro da AAL.
Ao renunciar à Presidência da República, em 1961, poucos meses depois de assumir, o imprevisível Jânio da Silva Quadros provocaria uma diabólica crise institucional. Finalmente, um meio termo seria encontrado: João Goulart, vice e natural substituto, assumiria num transitório parlamentarismo meia-boca. Um golpe militar, em 1964, detonaria o mandato do anfótero Jango.
O que parecia ser a duração de uma ressaca de agosto, a aventura castrense se estenderia por longos 21 anos, até o ladino Zé Sarney, por vias tortas, assumir. Seu sucessor, após impor, na primeira eleição direta pós-ditadura, acachapante derrota ao adversário, renunciaria na metade do mandato. Quartéis emudecidos, a Constituição prevaleceu e o vice, Itamar, tomou posse sem sustos. Mas isso é outra história.
A vida é feita de renúncias, muitas vezes provocando desgostos que não têm remédios. Direito garantido até pela Carta Magna, a não ser nas ditaduras, abrir mão de cargos deveria ser considerado normal.
Mesmo tratando-se de um déspota, como é o caso do nosso Fidel I, que anos atrás abdicou em favor de seu irmãozinho caçula. Ainda que seja um papa, tal qual tem-se hoje com a desistência de Bento 16.
Abro parêntese para dizer que ao perder um tirano, Cuba ganhou um progressista deputado. É que Fidel Castro foi eleito e ninguém sabia. Pelo frisson que sua augusta presença causou, no conclave de aclamação de Raulzito, conclui-se que o ex-ditador é tão faltoso quanto boa parte dos seus eminentes colegas brasileiros.
É possível que (como ocorre no parlamento brasileiro) os compromissos de Castro com a na Câmara cubana sejam substituídos pelas clássicas visitas aos eleitores. Atire a primeira pedra aquele que nunca precisou de uma mão amiga em inopinados funerais de parentes; no inesperado parto de uma filha; na recomposição de um muro fustigado pelos temíveis ciclones tropicais... De uma ajudinha em prosaicas passagens para Miami, ou até para o Brasil. Afinal, eleitores carentes e políticos magnânimos são encontradiços em qualquer parte do mundo. Talvez alguém possa até informar se em Cuba existe a avançada lei social que assegura 14º e 15º salários aos dedicados parlamentares brasileiros.
A tristeza está roendo. Chora a pátria mãe gentil. Choram Marias e Clarisses. Não é para menos. Aconteceu o que todos temiam. Decepcionado, ele não voltará. Se já não bastassem as perdas de Zé Dirceu, Palocci e outros, a nação terá que conviver com a terrível ausência do deputado Tiririca."
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