12 de outubro de 1968: 1.240 presos no Congresso de Ibiúna
Cento e cinquenta soldados da Força Pública paulista, auxiliados por agentes do DOPS, surpreenderam, as 7h45 da manhã de um sábado, os participantes do 30º Congresso da extinta UNE, que estavam reunidos no Sítio Soares, em Ibiúna, cidade do interior de São Paulo, com então 5 mil habitantes, distante uma hora e meia da capital, e prenderam 1.240 estudantes (940 homens e 300 moças).
Cercados, os estudantes não ofereceram resistência, sendo conduzidos para a capital paulista em seis camionetas, cinco caminhões e oito ônibus. José Dirceu (presidente da ex-UEE paulista), Luis Travassos (presidente da ex-UNE) e Antônio Guilherme Ribas (presidente da ex-UPES) foram transportados isoladamente. Os líderes estudantis estavam com prisão preventiva decretada, finalmente executada depois de muitas vezes terem enganado a polícia e seguiram para depoimento no DOPS. Os demais estudantes foram para a Casa de Detenção da Avenida Tiradentes. Somente quando lá chegaram os policiais reconheceram Vladimir Palmeira (presidente da ex-UME), que numa tentativa de fugir do grupo, chegou a correr pela rua, mas acabou mobilizado e encaminhado para reunir-se aos demais líderes no DOPS.
A operação começou a ser executada ainda no final da noite de sexta-feira anterior, coordenada pelo Governador Abreu Sodré, que no final da madrugada determinou ao Secretário de Segurança que iniciasse o cerco. Entre os presos, vários jornalistas, inclusive Eduardo Pinto, designado peloJornal do Brasil para cobrir o Congresso.
Ao final da operação, o Governador Abreu Sodré, declarou em coletiva que a prisão dos participantes do Congresso clandestino siginificava "um basta à desordem, e estou certo de que mais tarde não serei chamado de covarde ou omisso pelos trabalhadores e pessoas de bom senso".Observou ele ainda que agiu com energia e autoridade para reprimir a agitação e a subversão, em favor da democracia: "... declaro que não permitiremos que os subversivos, covardes e terroristas agitem este Estado em sua obra depredatória de subverter a ordem pública, gerando a intranquilidade e o caos. Com a prisão dos baderneiros, evito que a violência se torne regra e os traidores se transformem em herois na nossa terra".
Após uma triagem, os estudantes considerados de menor periculosidade começariam a ser libertados no dia seguinte. Mas o grupo dos quatro ficaria preso por uma longa temporada e peregrinaria uma verdadeira via crucispelos cárceres da ditadura até retomarem a liberdade.
Outras efemérides de 12 de outubro
1931: A inauguração do Cristo Redentor
1968: Começam as Olimpíadas no México
1984: IRA realiza atentado contra Margaret Thatcher
Os rapazes e moças enrolados em cobertores coloridos, que renderam-se sem qualquer resistência ao cerco policial naquela fria manhã de sábado, não pareciam os perigosos estudantes perseguidos pelo Brasil inteiro. Imaginar que a ousadia extremamente ingênua de realizar uma reunião clandestina num lugarejo do interior paulistano não chamaria atenção para aquela "gente muito jovem com jeito de cidade", como observariam moradores da pacata cidadezinha. Ou que desconsiderar que a explosão de consumo que da noite para o dia esgotaria os estoques dos comerciantes locais não seria alvo de comentários. E ainda que, ignorar que qualquer panfleto, poster ou outro registro que fosse sobre os assuntos discutidos no congresso caídos em mãos erradas seriam suficientes para motivar buscas das mais ávidas forças de segurança a serviço do regime pela região... Era questão de horas para que o 30º Congresso da extinta UNE desse no que deu.
Com a prisão dos quatro líderes, a classe estudantil sofreu a sua maior derrota desde que se transformou num movimento contra o regime.
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