A COMPLEXIDADE DO SIMPLES
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Academia Maceioense de Letras
Outro dia, ao ler documento publicado em órgão oficial do governo, fiquei surpreso com a atitude de uma autoridade, que, necessitando de “laudo conclusivo”, para subsidiar importante “parecer” que deveria emitir, determinou fosse escolhido o “melhor dos profissionais” atualmente militando na área específica e, ao final do texto, após externar elogios aos conhecimentos técnicos do “convocado”, recomendou, com veemência, a seus subordinados, que: “pela simplicidade da tarefa, fosse pago pela mesma, dois terços do salário mínimo”.
Voltei no tempo. Vi-me sentado em um dos bancos existentes na Capela Sistina, situada no Palácio Apostólico, na cidade do Vaticano, admirando a obra prima de Michelangelo, “a Criação de Adão”, que representa Deus, com seu braço direito esticado oferecendo o poder da vida ao “primeiro dos homens” que, por sua vez, tem seu membro superior esquerdo estendido em contraposição ao criador. Um trabalho árduo, mas, extremamente simples, para quem possui o dom de criar , de esculpir, de pintar. Impagável o trabalho do “grande artista” ao materializar sua capacidade de “conceber”, imortalizando o Papa Júlio II, que nele acreditou.
Como Engenheiro Civil, entendo inexistir algo mais “primário” que construir paredes de tijolos cerâmicos. Contudo, o sucesso da obra está na capacidade que o pedreiro possui em edificar, sempre “dentro do prumo”, a alvenaria que, no futuro, se transformará em habitação. Não existe preço para este profissional, sob pena de “o barato sair caro”.
Ainda sob efeito do texto, divulgado no “periódico governamental”, pensei nos Jogos Olímpicos, ora disputados em Londres e nas corridas que compõem seu calendário. A mais curta é a de cem metros, a mais longa é a maratona. Por sua simplicidade, o primeiro trajeto seria percorrido, até, por “Sancho Pança”, o gordinho companheiro de D. Quixote, personagens de Cervantes. Contudo, esta é a de maior responsabilidade, sendo considerada a “rainha das provas” que tem em “Usain Bolt”, o homem a ser vencido. Inexistem valores para fazer frente à história que o jamaicano escreve.
A vida tem destas coisas. Muitas vezes somos compelidos a tentar oferecer à sociedade uma imagem de que sempre “são fáceis e simples” as atividades desenvolvidas por nossos semelhantes cometendo a infame leviandade de esquecer que “ninguém” é grande sozinho, pois, a vida, é um “jogo coletivo”. Se nos atrevermos a imaginar podermos julgar as ações dos que desenvolvem tarefas, nas mais varidades áreas de trabalho, nivelando-as pela base da pirâmide, estaremos, não somente, externado o fato de sermos incapazes de separar o “jóio do trigo” mas, acima de tudo, estabelendo: o que gostamos, mesmo, é de termos em nosso entorno um “secto” de nulidades.
Nunca é tarde para aprendermos ser bastante complexo obter-se algo “simples”, pois, a sabedoria de um homem reside em sua capacidade de cultivar o “bom senso”.
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