AMOR E BRIGA NO
TABARIZ
No tempo da virgindade
Chicão era apaixonado pela namorada Glorinha, toda noite, depois do chumbrego,
tinha que se aliviar, subia as escadas das boates de Jaraguá, onde alguma
rapariga deixava-o relaxado. Certa vez,
Verônica, uma rapariga da Boate Tabariz, se apaixonou por ele, naquela época,
elas também namoravam.
Numa noite de
sexta-feira Chicão foi “namorar” Verônica. Jaraguá era o bairro boêmio da cidade.
Na Rua Sá e Albuquerque ficavam antigos casarões conservados, dois andares.
Subida íngreme, em cima uma sala ampla, 20 mesas, tolha de linho, cinzeiros de
prata, mostravam o charme do ambiente. No tablado uma orquestra tocava belas
músicas. Um corredor junto ao bar levava aos quartos onde as meninas
trabalhavam e dormiam. As boates tinham nomes variados: Alhambra, Tabariz,
Night and Day, São Jorge etc..
Chicão era muito
querido por sua alegria, sabedoria, amava a cultura popular, recitava cordel,
entretanto, gostava mesmo de uma boa rapariga, cursava o terceiro ano de
medicina. Ao subir as escadas do Tabariz, ouviu os acordes, música de dor de
corno: “Ninguém me ama... Ninguém me quer... Ninguém me chama de meu amor... A
vida passa e eu sem ninguém...” Ele subiu a escada cantarolando. Em cima
deparou com o ambiente festivo, as meninas sentadas nas mesas, casais dançando,
cumprimentou uma e outra procurando Verônica, foi à varanda, acendeu um
cigarro, uma amiga avisou, ela estava com cliente. Ele agradeceu, tomou uma
mesa com um amigo, pediram “Cuba Libre” , ficaram conversando, sorrindo. A
noite era uma criança.
De repente apareceu Verônica, estava com um
charmoso vestido vermelho, morena dos olhos verdes, nascida no sertão alagoano,
fruto da miscigenação dos negros e holandeses fugitivos durante a expulsão de
Pernambuco no século XVII, se embrenharam no sertão alagoano. Chicão a recebeu
com alegria. “Vamos vadiar a noite toda e pegar o Sol com a mão.”
Lá
para as tantas entrou no salão o Coronel Adolfo com cinco capangas, sentaram-se
numa mesa dupla. Ele mandou chamar Ana, a cafetina. Ficaram conversando, vieram
algumas meninas para os meninos. O Coronel Adolfo, também deputado, era o maior
arruaceiro da Zona. Briga e tiro faziam parte de suas histórias de boemia.
De repente chega o garçom na mesa de
Chicão, fala para Verônica, o deputado quer sua companhia. Ela respondeu, estava
ocupada. O ambiente na mesa ficou tenso. De repente vem a própria Ana,
troncuda, baixinha, quando mais jovem brigava até com policia. Cochichou com
Verônica: “Menina deixe de besteira, o Coronel gostou de você, tem muito
dinheiro e você fica aqui com este estudante lascado, mal tem para a bebida.
Faça isso não, vá com o deputado, ele está esperando.” Saiu com raiva da sua
pupila. O ambiente ficou mais tenso quando ela recusou novamente. As pessoas em
volta perceberam.
Chicão tomou uma decisão. Levantou-se,
dirigiu-se à mesa do Coronel. Nessa altura todo salão acompanhava a situação.
Quando o estudante encostou-se à mesa do Deputado, aconteceu expectativa geral,
suspense e medo. Alguns clientes desceram a escadaria, outros ficaram por trás
das colunas. Chicão falou alto e em bom tom: “Deputado, o senhor me desculpe,
mas a mulher que o senhor pediu está acompanhada comigo, assim ela não pode
ficar com o senhor, faz parte de nosso costume, é lei da boemia.”
Os capangas se levantaram com a mão nas
cartucheiras, Chicão continuou olhando nos olhos do Deputado. Esperava-se uma
tapa, um murro, um tiro, a qualquer momento. De repente o Coronel estendeu a
mão a Chicão: “Gostei de você menino, mostrou que é macho, é assim que um homem
faz, tome uma dose comigo”. Foi um
alivio geral, Chicão bebeu duas doses, depois foi pegar o Sol com a mão com
Verônica.
Dizem que o Coronel se tornou amigo do doutor
que o tratou até sua morte. A história da briga que não houve ainda é contada
pelas quengas, pelos boêmios, pelas cafetinas e bêbados nos bares, nos cabarés,
no porto de Jaraguá desde o tempo das namoradas virgens.
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