FILETE DE ÁGUA LIMPA EM ESGOTO
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Sociólogos, articulistas, psicanalistas,
teóricos, curiosos e outros palpiteiros vêm se debruçando sobre o reincidente
fenômeno de atiradores eventuais – geralmente jovens e americanos, talvez
psicóticos- lançarem-se incoercíveis contra aglomerados humanos.
O último, universitário,
fantasiado de Coringa, conhecido vilão das aventuras do Batman, invade uma sala de cinema e, movido
por inexplicável ódio, dispara contra a plateia.
Meses atrás, na Escandinávia, um
outro maluco, em nome de uma facção extremista, horrorizou o mundo com ação
superponível. Embora não seja nossa praia, creio que há uns dois anos, no Rio,
um sujeito foi morto pela polícia depois de invadir uma escola pública e matar
algumas crianças. Como detalhe, relembro o ridículo show de caras e bocas
protagonizado, na ocasião, pelo governador Sérgio Cabral, amigo de fé de
Fernando Cavendish, sócio de Cachoeira.
Não existe consenso quanto às
origens dessas transgressões. O colunista da Folha de SP Ruy Castro, por
exemplo, relaciona os fatos à exposição de cenas cada vez mais violentas nos
filmes de Hollywood. Aliás, nada escapa. Os chamados desenhos animados infantis
são de uma agressividade estarrecedora.
Eduardo Bonfim, dentre outros,
atribui os paroxismos de violência, não tanto às facilidades com que por lá se
adquire uma arma. Para o articulista da Gazeta, a essência estaria na cultura
da nação, individualista, consumista, frustrada, teoricamente envolvida por
espantoso espírito belicoso e fracassado imperialismo. Certamente seriam mais
um sinal da iminente falência do capitalismo.
Louvo a boa fé dos evangélicos que
receitam para a barbárie a ingestão de
água de Saron, enquanto os orientais recomendam banhos de Ofurô. No entanto, tudo
indica que é a Psiquiatria quem tem as melhores soluções: internação prolongada
e tratamento com Haldol.
Feridas narcísicas difíceis de
sarar, o fato é que não deixa de ser um paradoxo que tais tragédias recorram
numa sociedade pacífica, democrática, rica, organizada e ordeira.
Cada um com a sua dor. É para
alguns dias o início do julgamento do Mensalão, um dos maiores esquemas de corrupção do país.
Os réus são a casta ou aliados do mais
ético dos partidos políticos, agremiação que, segundo jargão dos próprios afiliados,
“não rouba, nem deixa roubar”.
O partido seria “o filete de água limpa no
cano do esgoto”, pela irônica analogia do Roberto Jefferson, pivô das denúncias
e um dos principais acusados.
Desculpe a minha ignorância, mas não me recordo do show de caras e bocas do Sérgio cabral ( que foi citado acima). E no mais, não achei errada a atitude da polícia, infelizmente foi necessário matar o assassino de tantas crianças para evitar uma tragédia ainda maior.
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