COMUNISTAS PREDILETOS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
No auge do prestigio, Divaldo
Suruagy, e também Guilherme Palmeira, curtiam caminhar no centro da cidade
junto com seus lugares-tenentes, dentre os quais os conspícuos e saudosos Hélio
Miranda e Arlindo Chagas, amigos pessoais e indispensáveis conselheiros
informais do governador Suruagy.
Certamente, muito do desenvolvimento de
Alagoas deve-se a essas duas inteligentes e envolventes figuras. Por sinal,
Chagas –se publicou, desculpem a falha – ficou devendo seu livro de memórias, o
sugestivo Quem For Podre Que Se Quebre.
Com certeza, um manancial de bom humor e picantes informações sobre fatos e pessoas
que orbitavam o Martírios.
O fato é que Suruagy percorria imperial
e despreocupadamente a Rua do Comércio, cumprimentando as pessoas, dando e
recebendo beijocas, dedos de prosa ali e
acolá. Naturalmente, deveria ouvir alguma cobrança, algum pedido de emprego e
ia tirando de letra, em proverbial jogo de cintura.
A propósito, lembro o Major Luiz,
antecessor de Divaldo, sentado nos bancos da Praça dos Martírios jogando
conversa reunido com pequenos vendedores ambulantes, chupando roletes de cana,
prática que lhe valeria o simpático apelido de “Lula Rolete”. Chamava a atenção
a ausência de ostensiva segurança. A atitude criaria um clima favorável de
humildade e desprendimento. Faria escola.
Revelando coragem, louvo a postura do atual
governador que tem sido visto correndo na orla da Pajuçara, sem proteções
especiais, a despeito da popularidade algo abalada e dos riscos de ser
assaltado. É até recomendável não sair de bicicleta e deixar relógio e celular
com o guarda-costa. Dinheiro, nem pensar.
Volto a Suruagy. Num dos
prosaicos passeios, a imprensa registraria um encontro entre o governador e o
militante e ex-vereador Nilson Miranda. Mal saído das perseguições políticas,
Miranda também era afeito a amenas conversas nos fins de tarde. O encontro
casual, afetivo, teria doses de ironia. Ao se despedirem, Divaldo alfinetaria:
“Nilsinho é o meu comunista predileto...”
O meu comunista predileto é um
amigo de infância. Jogamos muita ximbra e algum futebol. Ele conseguia ser pior
do que eu. Fomos contemporâneos de universidade. Um líder discreto, foi
dirigente do diretório com apoio maciço da estudantada. O fato de ninguém
querer assumir - com medo do pau de
arara e dos choques elétricos no ânus e na uretra – aumenta-lhe o mérito.
Marxista burguês, hoje assiste preocupado
os espasmos do capitalismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário