sábado, 9 de junho de 2012

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


Vida e morte de um balneário
Ronald Mendonça
Médico e Membro da AAL

                                              Ronald na Academia

O inferno emergiu com os detalhes do assassinato e esquartejamento do executivo nipônico por sua ensandecida mulher. De tudo que foi dito,  recuso-me a  aceitar que a técnica de desmembramento foi aprendida numa escola de enfermagem.
Falemos de amenidades. Essa semana, atendendo à convocação da AAL, discorri sobre Bonifácio de Magalhães Silveira e Jacintho Nunes Leite, duas figuras fundamentais na consolidação do bairro de Bebedouro como um dos mais importantes da cidade, no início do século XX.
Jovem imigrante lusitano, Leite destacou-se pela multifacetariedade de interesses. Ao escolher Bebedouro como pouso permanente, atraído pelas águas cristalinas, clima ameno e abundância de peixes e frutos, impôs-lhe profundas modificações. A começar pela construção de um novo cemitério, uma vez que o existente ocupava a praça principal.
Dono de engenho, não obstante era um abolicionista. Causava mal estar ao comprar escravos para libertá-los. Criou a primeira fundição de grande porte, uma mão na roda para os senhores de engenho. Controlou o sistema de bondes à tração animal e canalizou a água para Bebedouro e parte central da cidade. Dentre outros empreendimentos, a indústria de tecidos de Fernão Velho foi sua. Faleceu em 1914, deixando como recordações mais visíveis o elegante solar  da Praça L. Maranhão e os azulejos da Matriz, por ele importados da Europa. Os sinos que dobram em Bebedouro foram feitos na fundição de Jacintho.
 A fama do Major Bonifácio Silveira atravessou os séculos. Abolicionista como seu coetâneo Nunes Leite, tornou-se nacionalmente conhecido pelo empenho em transformar o bairro na capital da alegria.
Vocacionado para balneário da burguesia, Bebedouro teve o seu apogeu sob Bonifácio. Ele próprio, por natureza, um irrefreável hedonista. Espírito humanitário, ator, declamador e impetuoso republicano, avesso a bebidas alcoólicas, mal terminava o Natal já estava a planejar o Carnaval.
Encontrava razões para comemorar maio. Em junho eram só folguedos que iam de gigantesca fogueira no meio da Praça da Liberdade a fogos de artifício, quermesses, quadrilhas, pau de sebo, o diabo...
Os últimos sete anos de vida, Bonifácio os viveu recolhido em Marechal Deodoro, dedicando-se à publicação, na Gazeta de Alagoas, de documentos históricos por ele resgatados. Em meio aos noticiários da segunda Grande Guerra, o da sua morte, em 1945, teve o efeito de uma bomba. Bebedouro nunca mais foi o mesmo.


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