Vida e morte
de um balneário
Ronald
Mendonça
Médico e
Membro da AAL
Ronald na Academia
O inferno
emergiu com os detalhes do assassinato e esquartejamento do executivo nipônico
por sua ensandecida mulher. De tudo que foi dito, recuso-me a
aceitar que a técnica de desmembramento foi aprendida numa escola de
enfermagem.
Falemos de
amenidades. Essa semana, atendendo à convocação da AAL, discorri sobre
Bonifácio de Magalhães Silveira e Jacintho Nunes Leite, duas figuras
fundamentais na consolidação do bairro de Bebedouro como um dos mais
importantes da cidade, no início do século XX.
Jovem
imigrante lusitano, Leite destacou-se pela multifacetariedade de interesses. Ao
escolher Bebedouro como pouso permanente, atraído pelas águas cristalinas,
clima ameno e abundância de peixes e frutos, impôs-lhe profundas modificações.
A começar pela construção de um novo cemitério, uma vez que o existente ocupava
a praça principal.
Dono de
engenho, não obstante era um abolicionista. Causava mal estar ao comprar
escravos para libertá-los. Criou a primeira fundição de grande porte, uma mão
na roda para os senhores de engenho. Controlou o sistema de bondes à tração
animal e canalizou a água para Bebedouro e parte central da cidade. Dentre
outros empreendimentos, a indústria de tecidos de Fernão Velho foi sua. Faleceu
em 1914, deixando como recordações mais visíveis o elegante solar da Praça L. Maranhão e os azulejos da Matriz,
por ele importados da Europa. Os sinos que dobram em Bebedouro foram feitos na
fundição de Jacintho.
A fama do Major Bonifácio Silveira atravessou
os séculos. Abolicionista como seu coetâneo Nunes Leite, tornou-se
nacionalmente conhecido pelo empenho em transformar o bairro na capital da
alegria.
Vocacionado
para balneário da burguesia, Bebedouro teve o seu apogeu sob Bonifácio. Ele
próprio, por natureza, um irrefreável hedonista. Espírito humanitário, ator,
declamador e impetuoso republicano, avesso a bebidas alcoólicas, mal terminava o
Natal já estava a planejar o Carnaval.
Encontrava
razões para comemorar maio. Em junho eram só folguedos que iam de gigantesca
fogueira no meio da Praça da Liberdade a fogos de artifício, quermesses,
quadrilhas, pau de sebo, o diabo...
Os últimos
sete anos de vida, Bonifácio os viveu recolhido em Marechal Deodoro,
dedicando-se à publicação, na Gazeta de Alagoas, de documentos históricos por
ele resgatados. Em meio aos noticiários da segunda Grande Guerra, o da sua
morte, em 1945, teve o efeito de uma bomba. Bebedouro nunca mais foi o mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário