CINCO
SEMANAS INESQUECÍVEIS
Agnaldo teve educação formal e
rígida, família evangélica. Professor por talento e vocação, dedica sua vida ao
magistério, ensina em colégios e faculdades. É o decano, o professor mais velho,
da Universidade, seus sessenta e alguns anos, seus raros cabelos brancos,
cavanhaque, dão-lhe um ar respeitável, como gosta em tê-lo.
Durante
todo tempo de militância no ensino, Agnaldo jamais aceitou as prevaricações
descaradas dos colegas, sempre crítico às aventuras de professor com alunas,
como o colega Edmundo chegado a enxerimentos, conquistas e casos com suas
pupilas. O sem-vergonha é repreendido por Agnaldo quando conta casos com jovens
alunas.
Mas o demônio surge sem percebermos, sem
desconfiarmos de que forma, muitas vezes ele aparece travestido em mulher
bonita. O capeta é treloso, sabe das fraquezas humanas. Para testar o nosso
emérito e puro professor, o satanás incorporou-se em Eurídice, aluna bonita,
cabelos pretos, longos, olhos grandes, amendoados, sobrancelhas cerradas, pele
macia, uma perdição, como diz Edmundo.
Final do ano passado, perto da formatura da
turma, Agnaldo notou estranho comportamento em Eurídice, vestes sensuais em
demasia, todo dia passou a tirar dúvidas com o professor. Agnaldo se
prontificava, entretanto, se sentia constrangido com a presença da Deusa no
final da aula. Ele ficava excitado quando a aluna se achegava mais perto vestindo
mini-saia, exibindo pernas, uma borboleta colorida tatuada no calcanhar
esquerdo. Aquela tatuagem deixava Agnaldo quase afônico, gaguejava nas
explicações. O diabinho percebeu a fraqueza do professor, resolveu diariamente
sentar-se na primeira fila. Durante a aula, Eurídice abria as pernas com classe
e sensualidade. Agnaldo percebeu, ela mostrava a calcinha apenas para ele.
A aluna não saía de sua cabeça, sonhava com
as pernas e a calcinha branca. E a tatuagem? Em suas fantasias a chamava de “Papillon”.
Certa vez, após as aulas, a jovem pediu
para tirar uma dúvida. O professor esperou os alunos saírem, sentaram-se, ele foi
taxativo:
“Eurídice,
você sempre foi uma moça comportada, discreta; de um tempo para cá tenho notado
mudança em seu comportamento, principalmente seus vestidos, suas mini-saias,
suas calças justas. Quero pedir dois favores: que assista às minhas aulas mais
composta e que se sente nas últimas bancas.”
Falou rápido com certo nervosismo esperando
alguma resposta da aluna, contudo, ficou sem ação, nocauteado, ao ver Eurídice
levantar-se, caminhar até a porta da sala de aula, trancá-la com chave,
retornar sorrindo, abriu o zíper da calça jeans, deixou-a cair. Agnaldo não
resistiu quando a moça o abraçou, deitaram-se por trás do bureau. Fizeram amor
como dois animais, ali na sagrada sala de aulas.
Ao terminar ele sentiu-se culpado, vexado. A
aluna cochichou em seu ouvido: “Quero mais
amanhã, sei que você não trabalha à tarde, lhe espero na praia da Pajuçara, em
frente ao Memorial Teotônio Vilela às três horas”.
Ele emudeceu olhando Eurídice se
afastar, abrir a porta, e desaparecer. O comportado professor passou o resto do
dia e a noite pensando naquele pecado. Quando o diabo atenta, difícil enjeitar.
Na tarde seguinte, junto ao Memorial, estava Eurídice mais bela que nunca. Levou-a
ao motel, ficou louco com as invencionices da “Papillon” na cama.
Todo dia achavam sempre uma maneira de se
amarem. Até que certa manhã, depois de cinco semanas, Agnaldo ficou surpreso, Eurídice,
com roupa composta, entrou na sala, mal cumprimentou o professor. Assim continuou
até o final do curso.
Em
momento propício, Agnaldo tomou coragem, pediu um particular, perguntou o
motivo daquele distanciamento, ele estava louco de paixão, querendo amor. Ela respondeu
com tranquilidade, sem algum remorso:
-“Não me
leve a mal, eu desejava experimentar o amor de um coroa. Posso dizer, gostei e
ponto final. Vou me casar em fevereiro professor, precisava dessa experiência,
meu futuro marido é jovem, bonito, rico, mas, eu queria uma aventura
descompromissada, acho, escolhi bem, agradeço os experientes carinhos. Seus
dedos, suas mãos, seus lábios, marcaram todo meu corpo, momentos deliciosos, entretanto,
pretendo ser fiel a meu marido, não vou repetir. Obrigada por tudo, professor,
o senhor foi maravilhoso”
No dia da formatura Agnaldo recebeu um
formal aperto de mão e um piscar de olho maroto de Eurídice, cumplicidade de
cinco semanas de amor selvagem, inesquecíveis.
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