quinta-feira, 31 de maio de 2012

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima


CONFRARIA DOS BARRIGAS BRANCAS
    
   
Todo domingo, por volta das 10 horas, eles se achegam sentando-se à mesa reservada na Barraca Pedra Virada, orla da Ponta Verde, exuberante cenário, mar e céu azul encontrando-se no infinito. O rolamento da avenida fechado para carros dá lugar às bicicletas e brincadeira de meninos, pais, mães e avós correndo atrás. No mesmo momento a Banda de Música da Polícia Militar, às vezes a do Exército, se acomoda nas cadeiras embaixo do toldo, afinando instrumentos até iniciar o concerto, duas horas e meia de boa música, é o excelente programa “Vem Ver a Banda Tocar”. Casais se abraçam no dancing, se arrastam ao som de belas músicas. Não apenas sucessos do passado, até Lady Gaga tem vez no repertório.
Enquanto isso os coroas da Confraria dos Barrigas Brancas vão completando a mesa, iniciando os trabalhos com cervejinha gelada. O Primeiro a chegar geralmente é o presidente, Doutor Abynadá Lyro, caruaruense, ao se formar veio a Maceió passar uns dias, ficou até hoje com sua competência de neurocirurgião e professor da Faculdade. A maioria dos médicos caminhantes no calçadão vem respeitosamente cumprimentar o professor. Certa vez apareceu um senhor de bengala, quase cego, chamando-o de professor, ficou a dúvida quem era mais velho, o professor ou o aluno.
As conversas correm da política ao cinema, à literatura. Os governos: federal, estadual e municipal, não têm maioria de aprovação nos debates acirrados entre os confrades. Téo Vilela, o governador, passando em caminhada cumprimenta ao longe a confraria, e segue destino.
Radjalma Cavalcante não perde uma domingueira trazendo sua sabedoria, seus filhos inteligentes dão um toque jovial aos debates. A conversa tem o privilégio do fundo musical da banda, o artista eclético, tenor, Dhyda Lyra, acompanha a orquestra cantarolando. Dr. Everaldo, Barão da Massagueira, escritor e jogador de futebol é assíduo da roda. Fernando Andrade vem de Penedo para tomar uma seleta no seleto grupo. O nosso comunista Geraldo Majella, muito bem informado, trás suas opiniões abalizadas. A confraria é aberta à esquerda, à direita, só não é aceito nêgo burro ou chato.  Quico e Manoel Ramalho, o Cardeal Manuel Bernardo, Borges, Edson, Roberto Jackson são figuras constantes na reunião domingueira.
 Invariavelmente chega a visita rápida de Marisol Juana, ex-rumbeira do Circo Garcia nos anos 50/60, não perde o programa Vem Ver a Banda Tocar, dança, se remexe como se ainda fosse a grande estrela do circo. No seu delírio de mulher idosa, ao findar a música, abaixa o corpo num cumprimento como se o povo estivesse aplaudindo, ela ouve palmas apoteóticas embaixo da lona do circo. Vai à mesa da Confraria receber uma pequena ajuda de sobrevivência, de mendicância. Ainda é uma excelente dançarina, a música requebra todo seu corpo, só ela ouve os aplausos, agradece, se sente feliz.
Que nossas esposas não saibam, periga cortarem nossa diversão concedida generosamente por elas, entretanto, não podemos deixar de olhar as moças do corpo dourado pelo sol, em pequenos biquínis, são as coisas mais lindas que vemos passar na passarela do calçadão. Não dá para não ver. É o prazer dos sessentões conversando sobre mil assuntos e outras alegrias. É proibido tristeza e reclamação, pode meter o pau em quem quiser, sem lamento, sem queixa.
São apenas duas horas e meia, fugazes. Com ajuda da cerveja, uísque, um bom tira-gosto, unem-se amigos, é a grande necessidade do homem em ser gregário.
Ao meio dia e meio o presidente Abynadá é o primeiro a ser chamado ao celular, levanta-se faz as contas da despesa enquanto outros telefones tocam, são as esposas chamando, é hora de ir para casa, acabou-se a alegria, o bate-papo dominical. Até a próxima semana para desfrutar a concessão benevolente de nossas companheiras.
Quase esquecia um esclarecimento importante, Barriga Branca no Ceará é homem mandado, manobrado pela mulher.

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