UMA ARMADILHA
PARA OS ALAGOANOS
RONALD
MENDONÇA
MÉDICO
Pensei que
jamais veria a extinção do tradicional vestibular como preferencial porta de
entrada aos cursos superiores. Eis que, de súbito, despretensioso plano de
avaliação das escolas de nível médio, o ENEM, passa a servir como único
parâmetro para o acesso à tão sonhada faculdade.
Aposentado da
Ufal, com a autopercepção de um barionix
num tabuleiro de xadrez, com netos de 8 e 10 anos, a essa altura deveria
apenas cuidar dos meus pacientes e comprar figurinhas para os netinhos.
Calejado pelo
acompanhamento de vestibulares de amigos e parentes ao longo de anos, o tema me
é caro. Vivenciei aprovações dos meus filhos, daquela que seria minha esposa,
dos meus irmãos e até da minha mãe, para só falar das glórias.
Esta semana, a
Academia Alagoana de Medicina promoveu uma sessão sobre o assunto, tendo como
explanadores a reitora Ana Dayse e o diretor da Copeve, Almeida Lima, ambos da
Ufal. Os velhos questionamentos retornaram.
A propósito,
em 1997, comentei em artigo mudanças nas
datas do vestibular da Escola de Ciências Médicas, que, a bem da verdade,
atravessava calamitosa crise financeira. A divergência de datas teria como
finalidade atrair inscrições pagas e com isso engrossar o raquítico orçamento.
Com tais facilidades e com o nosso capenga ensino médio sem tutano para
competir até com o de Sergipe, a ECMAL transformar-se-ia no paraíso dos
“estrangeiros”.
Algo mudou
deste então. O segundo grau procurou se adaptar às exigências dos vestibulares
e o índice de aprovação bombou. Na contramão, tradicionais colégios de Maceió
sentiram na carne o obsoletismo pedagógico. Certamente levará algum tempo para
uma readequação aos preceitos do ENEM. Nesse aspecto, soa precipitada a
sofreguidão da Ufal em aceitar o ENEM “pleno”.
Com a decadência do ensino público, a impor
cartilhas partidarizadas e a estimular a cultura do “nóis se ferra”, além da
criação do imoral e anticonstitucional sistema de cotas, são levianas certas
críticas ao sistema privado de educação, como a propaganda, na busca de alunos. Pior é o governo: na insaciável caça
de votos, com verbas públicas alardeia o que não faz.
O fato é que,
hoje, quem se debruçar sobre o enigmático e volátil sistema de inscrição
(SISU), após receber a confirmação dos pontos do ENEM, vai constatar a
enrascada em que se meteu. Com a universalidade da concorrência, dificilmente
teremos alagoanos incluídos nos cursos de maior apelo: medicina, odonto,
direito, engenharia, dentre outros.

Nenhum comentário:
Postar um comentário