quarta-feira, 1 de junho de 2011

UM TEXTO DE SEBASTIÃO NERY


31 de março de 1964, meia-noite. O Palácio das Laranjeiras era um pesadelo. As tropas de Mourão Filho avançavam de Minas e Jango não sabia o que fazer. Chegam o governador Seixas Dória de Sergipe e o ministro Osvaldo Lima Filho, da Agricultura.Jango se tranca com os dois:
         - Seixas, preciso de um favor teu. Quero que pegues amanhã bem cedo um avião da FAB e sigas para o Nordeste colhendo assinaturas em um manifesto dos governadores que tu redigirás, em apoio a mim. Acabei de falar com o Lomanto pelo telefone. Ele me leu um manifesto de que gostei muito e já mandou para os jornais de Salvador, que publicarão amanhã. Passa na Bahia, articula-te com ele e vai procurar os outros.
                                              
SEIXAS

         Seixas conhecia sua gente. Estava incrédulo:
- O senhor já conhece a posição dos outros?
         - Todos me telefonaram hipotecando solidariedade integral.
         - E o Virgílio?
         - Virgilio não tem problema. É meu compadre duas vezes.
         - E o Petrônio?
         - Petrônio é firme. É um homem de esquerda, tem me estimulado.
         Manhã cedo de 1º de abril, Seixas embarcou no avião da FAB. O governador Lomanto Júnior, da Bahia, que tinha combinado ir recebê-lo no aeroporto, lá não estava. No Palácio da Aclamação, cara de pânico, assombrado, Lomanto chamou Seixas a um canto:
         - A situação virou, Seixas. Jango fugiu para Brasília, Arraes está preso, perdemos a parada. Eu tinha feito um manifesto de apoio a Jango ontem à noite, que o “Jornal da Bahia”, que é matutino, chegou a publicar.
Mas já assinei outro hoje de manhã e mandei para “A Tarde”, que é vespertino, divulgar. E a televisão e as rádios também. Este segundo está bom, como eles querem. Vou te dar uma cópia, para você chegar em Sergipe e lançar lá, que é batata. Aliás, foi redigido no comando da Região. Você pode ficar tranqüilo. É só assinar, está seguro”.

LOMANTO

         Seixas estava perplexo :
         - Sim, Lomanto, mas eu não vou fazer uma coisa desta, não. Vou para Aracajú, vou lançar um manifesto, mas dizendo exatamente o que eu pensava até ontem. Quer dizer, o que eu e você pensávamos até ontem.
         - Você está dizendo, no meu Palácio, que eu não tenho palavra?       
         - Não. Não estou dizendo que você não tem palavra. O que eu estou dizendo, Lomanto, é que você agora tem uma palavra diferente da minha.
         Seixas foi para Aracajú, leu o manifesto, saiu do Palácio preso, foi mandado para Fernando de Noronha, onde já estava Miguel Arraes e depois chegaram Djalma Maranhão, prefeito de Natal, e Mario Lima, deputado socialista e presidente do sindicato dos Petroleiros da Bahia.
 Lomanto foi ao “Jornal da Bahia”, recolheu o resto da edição, mandou queimar o primeiro manifesto e voltou para o Palácio tranqüilo.
        
PALOCCI

         Há duas semanas o pais espera uma palavra do chefe da Casa Civil,  Palocci, sobre o apartamento de R$6,6 milhões e o escritório de R$800 mil que comprou em 2009 e, principalmente, sobre os R$20 milhões que ganhou também no ano passado, dos quais R$10 milhões depois da vitoria de Dilma, cuja campanha comandou e cuja Comissão de Transição chefiou.
         O Ministerio Publico Federal de Brasília já lhe pediu informações sobre as “operações”, que o ministério da Fazenda e o MP consideraram “atípicas”. E o Procurador Geral da Republica, Roberto Gurgel, pediu “detalhes sobre o preço e a natureza dos serviços de consultoria que prestou”, “para saber se abre investigação”. Palocci pediu 15 dias.

BATOCHIO

         E logo surgiu uma situação patética. O chefe da Casa Civil, que tem toda uma estrutura de assessoria politica, jurídica e de imprensa, contratou um mestre do Direito, dos maiores advogados do pais, ex-presidente da OAB, para responder por ele.E a resposta foi um desastre, uma calamidade. .     
         Em artigo na pagina 3 da “Folha”, pagina de editoriais, o doutor Batochio alega que o ministro não pode explicar-se porque “a lei impõe sigilo total a contrato em que se acha estipulada clausula de confidencialidade, definindo sua violação como crime punido com prisão”.
E “insistir que sejam violadas as clausulas de sigilo é incitamento publico à pratica de crime. Pena de detenção de três a seis meses”.
O dr. Batochio nos ameaça a todos da imprensa como Médici nunca fez. E é preciso libertar urgente o Beira-Mar, o Abadia, o Nem, todos os traficantes do pais. Segundo o dr. Batochio, foram condenados ilegalmente. São inimputaveis. Distribuem a droga com clausula de confidencialidade. 

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