quinta-feira, 31 de março de 2011

RETRATOS DA VIDA - Sandra Tenório

O “ÚLTIMO” CASAMENTO DO DJ



Luciano nasceu no Vergel do Lago, bairro de classe menos abastada
de Maceió. Da maternidade partiu direto para a casa de sua avó, precisava
de cuidados especiais, problemas na hora do parto. A mãe acompanhou seu
crescimento, não pode criá-lo até a mocidade. Engravidou novamente, não
resistiu ao novo parto, nem ela nem o bebê.


O cuidado dos avós transformou o pequeno menino. Sabedor da proteção,
cedo iniciou suas peripécias. Culpava os amigos pelas janelas quebradas com
bola, namorava as meninas da rua, vendia mangas tiradas nas ruas do bairro.


Todo final de tarde saia com seu avô para a pesca do Sururu, marisco muito
cobiçado e apreciado. Preparado com côco ou vinagrete era sua refeição
favorita. Nas conversas no barco aprendeu que mulher era pra casar. Namoro
devia ser curto. Suficiente para conhecer a família, saber os principais dotes,
assumir. Nada de descobrir os defeitos ou qualidades antes do casamento.


Seguia o conselho recebido. Casou a primeira vez aos 19 anos, logo foi pai.
Separou-se um ano após a cerimônia.


Depois do primeiro enlace, os demais foram fáceis. Logo estava no nono
casamento. 35 anos de idade, muitas pensões alimentícias para os 8 filhos
deixados nas mulheres. Fazia 1 para cada.


Salário apertado, sua saída era arrumar mais um trabalho. Resolveu que seria
no horário noturno em uma boate, DJ. Uniria o útil ao agradável, assim poderia
sair nas quintas, sextas e sábados. Aprendeu a profissão, separou as musicas,


fez contato com os amigos, demonstrou seu conhecimento, logo foi contratado.
O dinheiro extra serviria pra sustentar a atual relação.


No início foi fácil. As mulheres não percebiam sua beleza por detrás do vidro
preto que pediu que fosse colocado. Não queria problemas. Havia decidido que
estava na hora de aquietar-se. Cansara de trocar de mulher, descobrir que os
problemas apenas mudavam de endereço. Com Roberta, ciumenta como só
ela sabia ser, terminaria seus dias de vida. Era casamento pra sempre.


Numa noite de dezembro engraçou-se por uma loirinha, linda, gaúcha, alta,
olhos verdes, pele levemente bronzeada. Saiu de trás do vidro para ver mais
perto. Pegou uma cerveja no bar e foi para o salão. Havia programado músicas
para 1 hora, não precisava trabalhar, computador tem serventia.


Iniciou a conversa perguntando a origem da moça, o que fazia no nordeste.
Descobriu que era apenas turismo, demoraria 15 dias na cidade. Não resistiu,
beijou-a no salão. Sabedor do ciúme da mulher não queria chegar fora do
horário em casa. Marcou para pegá-la pela manhã, faltaria ao trabalho, iriam
pra praia. Compraria logo um bloqueador solar com fator 60, ficaria na sobra.
Não contava que o beijo marcaria sua camisa branca com batom vermelho.


Em casa Roberta logo percebeu a marca, armou o barraco, queria conhecer
a vagabunda que havia feito aquela miséria. Luciano desculpou-se, fez amor
durante muito tempo na noite, explicou que não teria aquela performance se
tivesse outra mulher.


Roberta não acreditou e disse que iria pra boate com ele a partir daquela data,
todas as noites. Daria um jeito nas crianças.


Luciano acordou cedo, explicou que teria reunião no interior, não poderia
atender telefone, mas ligaria no final da tarde. Iria levá-la pra trabalhar à noite
como haviam combinado.


Foi buscar sua loirinha, desceram de mãos dadas no hotel e partiram para o
Sonho Verde. Praia discreta, sem conhecidos pra testemunhar a vadiagem. Na
volta, passaria umas horas no hotel, não podia demorar.


Aproveitou o momento em que a loirinha foi ao banheiro e pegou “emprestado”
o maldito batom vermelho que havia manchado sua camisa. O plano tinha que
ser perfeito. Despediu-se logo.


Passou na boate, pediu para entrar, seria rápido. Passou o batom em 3 lugares
diferentes de parede onde poderia encostar com facilidade, em seguida partiu
para buscar sua honrada esposa.


Vestiria novamente camisa branca, precisava mostrar que não havia mentido
na noite anterior. Tomou banho, ficou cheiroso. Foram juntos, não desgrudaria
de Roberta.


Lá pelas 2 da matina encostou-se propositalmente no batom, manchou bem a
camisa. Roberta logo viu, procurou a vagabunda mas não havia como culpar
ninguém, ela mesma estava de lado, não havia outra pessoa naquele espaço.


Luciano estava livre, seu plano foi perfeito, até o batom era o mesmo. Sua
amada esposa estava convencida.

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