quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

CRÔNICA SEMANAL DE CARLITO LIMA

                   DEPUTADO BAIANO



Peço a palavra... Não tenho assunto, mas eu quero discursar... Sou deputado baiano, eu quero é falar.” Que nem a letra da marchinha dos carnavais anos 50, assim é Casemiro, gosta de falar pelos cotovelos. Desde menino tem o dom da palavra, nos grêmios literários era o melhor orador, passou a vida discursando como político. Casemiro sertanejo, certo dia foi estudar na capital, leu O Capital, embora não tenha entendido muito a filosofia do pai do comunismo, tornou-se marxista convicto, era moda. Entrou num partido de esquerda, durante a ditadura levou duas carreiras em comícios dissolvidos, hoje conta, gabola, ter enfrentado os cavalos da Polícia Militar de Salvador. Até solicitou indenização, quer entrar na boquinha da Bolsa Ditadura.
       Estudante de Direito, não perdia noitadas em bares tramando a revolução operária, pregava pegar em armas, entretanto, nunca deu um tiro de revólver. Casou-se cedo, 26 anos, com uma amiga de infância, logo apareceram dois filhos. Ele trabalhava em escritório modesto, sociedade com um colega; o que recebia de advocacia mal dava para sustentar a família. Certa vez resolveu se candidatar a vereador em sua cidade. Com a verbosidade peculiar, com eloquência, ganhou uma vaga na Câmara por duas vezes. Terminou candidato a Prefeito, venceu por dois votos. Nessa altura já houvera a anistia, Casemiro tinha esquecido tudo sob Marx. Chegou a deputado estadual por duas vezes, mudou de partido, fez rápida carreira política e ótimo patrimônio. Em 2006, com pouco mais de 60 anos, arriscou, se elegeu deputado federal. Lá vai Casemiro para Brasília, deixou a família no seu Estado, morava em Brasília num confortável apartamento funcional. No início do mandato toda semana voava para rever a família. Depois de alguns meses, ao conhecer a vida da Capital, a ilha da fantasia, e que fantasias, foi entrando no cotidiano dos colegas, ternos bem cortados, elegantes, jantares em bons restaurantes, recepções em palácios, em casas de empreiteiros e lobistas. Um punhado de gente puxando o saco, sobretudo, as mulheres, bem vestidas, sensuais, todos os tipos. Estava vivendo uma vida inimaginável, seus colegas mais influentes davam-lhe atenção, ele era do baixo clero dentro da Câmara, pouco conhecido, entretanto, seu voto valia igual aos outros.
      No primeiro ano levou algumas acompanhantes ao apartamento, aliviando a solidão brasiliense. Foi diminuindo as idas a Salvador. Certo dia um deputado do mesmo partido, um pareia, convidou para jantar, conversar assunto delicado, secreto, pedia toda discrição. Foram ao Restaurante Bargaço, depois de três uísques o colega abriu o jogo. Ele tinha uma amiga, uma prima, que necessitava de um emprego, uma nomeação, havia se separado do marido. Como era sua prima, se ele a nomeasse, a oposição ia falar em nepotismo, portanto, propunha: Casemiro nomeava essa prima para seu gabinete e o amigo nomearia alguém que ele quisesse. Uma troca. Como havia uma vaga no gabinete de Casemiro, ele atendeu ao colega, nomearia com todo prazer sua prima para o cargo, não muito bom, na faixa de R$ 8 mil reais, dava para quebrar o galho, enquanto aparecia coisa melhor.
         Na terça-feira (ninguém trabalha na segunda em Brasília) o colega levou a prima ao gabinete do Casemiro. Uma bela mulher, cabelos castanhos escuros, morena cor de mel, alta, vestido colado ao corpo, olhar de quem quer fazer sexo todo instante, sorriso dengoso nos lábios, emocionou nosso amigo. Com dois meses de trabalho, Berenice, a moça em questão, já dormia embaixo dos lençóis da cama do deputado Casemiro de Lima. Final do ano, um problema, a gostosa apareceu grávida, não quis tirar o menino. As despesas de Casemiro aumentaram. Beré não tinha pena, encarcava na carteira do amante. Alugou um belo apartamento para ela e o filho, onde recebia visitas do deputado apaixonado. A poupança, o patrimônio, do bravo guerreiro foram se acabando. Em sua casa na Bahia a mulher reclamava. Largou a esposa, foi morar com a amante. As despesas de Brasília eram 10 vezes maiores que a de Salvador. Em 2010, aumentou seu inferno astral, perdeu a eleição, e consequentemente a amante. Ficou na pindaíba, está voltando para esposa, agora Casemiro só se refere à Berenice, como, a Messalina de Brasília.
  

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