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DEU NO JORNAL DA BESTA FUBANA.




A DEMOCRACIA E O GENERAL

Tarso Teixeira
Agitação na Casa Branca.
O general August. H. River, um dos grandes colaboradores do governo Trump na área de Defesa e Segurança Nacional, fez críticas severas à presidente da Câmara dos Representantes, Nanci Pelosi, em uma conversa particular, vazada para a imprensa.
Entretanto, a presidente do parlamento, inimiga feroz de Trump e de seu governo, não se atreveu a criticar o general. Afinal, nos Estados Unidos, atacar um homem da sua biografia, que comandou tropas internacionais, condecorado, é encrenca na certa.
A população considera o general River um herói nacional, e por isso, Pelosi se calou.
O leitor mais sagaz, a essa altura, já sabe que o general August desta história não existe. Ou melhor, existe, mas não é americano. Se fosse, um homem da biografia do general Augusto Heleno Ribeiro, ex-comandante militar da Amazônia, ex-comandante das Forças de Paz para estabilização do Haiti (Minustah), seria tratado com a deferência que os americanos costumam dar a seus heróis, e jamais seria criticado da forma baixa e solerte como foi atacado pelo presidente do nosso parlamento.
O povo brasileiro entendeu perfeitamente o que o general Heleno quis dizer, num momento particular de indignação, quando falou sobre “chantagens” do Congresso Nacional.
O presidente do parlamento, filho de um prefeito que não deixou saudades no combalido Rio de Janeiro, é hoje a grande expressão do lamentável “Centrão”, que desde o governo Sarney vive de barganhas nada republicanas para aprovar medidas do Executivo.
O ápice desta fórmula foi atingido com FHC, que deu a esta prática o nome pomposo de “governabilidade”, e que Bolsonaro sempre chamou, mais adequadamente, de “toma-lá-dá-cá”.
Incomodado por ficar exposto nas suas reais intenções, o presidente da Câmara dos Deputados atacou o general, dizendo que suas palavras ameaçavam a democracia.
Ora, o general Heleno, com risco da própria vida, ajudou a restabelecer instituições democráticas no combalido Haiti, e exerceu funções de relevo no Exército em plena vitalidade da democracia.
Não, senhores. Nem o general Heleno, nem nenhum dos generais investidos em cargo no governo, poderia jamais ameaçar a democracia, até porque colaboram com um governo democraticamente eleito.
O que põe em risco a democracia é um congresso onde alguns parlamentares sabotam medidas do governo enquanto não recebem seu quinhão do orçamento para emendas impositivas.
O que põe em risco a democracia é um senado que inclui os filhos dos senadores até 33 anos de idade nos planos de assistência médica e odontológica do Senado.
O que põe em risco a democracia, não são os homens da farda. E sim os homens dos fardos.

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA.


DE COMO CRISTINA, BELA, RECATA E DO LAR, TRANSFORMOU-SE NA DONA DA NOITE.


 Era uma vez em Maceió, uma jovem, bela, recatada e do lar, marido de tradicional família do açúcar alagoano. Cristina, aluna do Colégio Santíssimo Sacramento, aprendeu costurar, cozinhar, ser rainha da casa. Pai evangélico, a filha saía à rua, às festas, só acompanhada dos irmãos, assim, sua virgindade permaneceu invicta até o casamento. Sua beleza e sensualidade  exuberantes chamavam atenção . Numa festa de Carnaval conheceu  Antônio Alfredo, mancebo de família rica, estudante de Direito em Coimbra, bonito, másculo, o xodó das mulheres, passava  férias na cidade.
     Antônio Alfredo encantou-se com Cristina, a bela, iniciaram namoro de portão de casa, horário e vigilância rígidos. Dentro de dois anos casaram-se, apesar da resistência dos pais do noivo, não era bem querer a entrada de uma filha do pastor na família. Antônio, advogado das empresas familiares, se impôs, casou-se, com direito à Lua de Mel na Europa.
   Três anos se passaram, o casal bonito chamava atenção.  Antônio não queria filho, Cristina frustrada. O ritmo de amor na cama diminuiu, às vezes mais de três meses sem um carinho.  Em conversa com a prima Sofia, Cristina ouviu com atenção o relato das peripécias sexuais da prima na cama com o marido. Cristina, ingênua, encantou-se com os detalhes contados, ascendeu uma fogueira em suas entranhas, quase adormecidas.
       Certa noite, depois do banho, vestiu minúscula lingerie preta, divina. Antônio ao deitar disse apenas cansado, deitou-se, virou-se para o lado.  Ela não admitiu ter se preparado e o marido, sequer notou. Abraçou -o, atacou com volúpia, mãos e bocas entornaram o corpo másculo. Antônio levantou-se, olhou para esposa, repreendeu, "quem faz isso é prostituta, quem lhe ensinou? Você quer ser rapariga? ". Foi dormir em outro quarto.
     Cristina chorou, seus instintos desejavam aqueles carinhos ensinados pela prima. Ela se perguntava, era uma tarada? Custou a dormir.  Antônio jamais voltou a falar sobre o acontecimento daquela noite.
   O casal gostava de passar fim de semana no bucólico sítio da família em Bica da Pedra, beirando a lagoa Mundaú. Certo domingo Cristina teve que retornar à Maceió mais cedo,  o motorista foi levá-la.  Perto da noite ele pegaria Antônio. Deixou o marido cheio do uísque deitado na rede. Vinte minutos de viagem sentiu a falta da bolsa, naquela época não havia telefone no sítio, resolveu voltar. Ao entrar na casa não havia vestígio do marido, apanhou a bolsa em cima da mesa, de repente ouviu barulho em seu quarto. Ao abrir a porta, um choque inesperado, a cena mais horripilante permaneceu na memória para o resto da vida: O belo Antônio, nu, abraçado ao filho do morador. Cristina soltou um grito de horror, correu, entrou no carro, chorando até chegar em sua casa.
Era noite quando Cristina parou de chorar, tomou um banho, olhou-se no espelho, achou-se bonita. Colocou um belo vestido,  pegou um taxi em direção ao Zinga Bar em Riacho Doce, avistou alguns conhecidos, sentou-se à mesa com amigas, a partir dessa noite, escandalizou a província saindo com homens solteiros e casados. Cristina e Antônio tornaram-se comentários em todas as esquinas, bares e lares da cidade.
 Certo dia, sem avisar, Cristina viajou ao Rio de Janeiro. Amou a balada carioca dos anos 60/70. Bonita, fez sucesso entre artistas, políticos, desocupados. Arranjou um emprego para se sustentar, expediente a partir do meio dia numa repartição pública. Ela caiu nas noitadas cariocas. A nova vida tornou-a uma boêmia. Fez sucesso, os homens faziam fila esperando sua vez. Até que certo dia um senador se apaixonou, deu-lhe apartamento, joias, um emprego no Senado, letra O, em troca da exclusividade. Os anos passaram, teve dois filhos com o Senador. Hoje, mora em Copacabana, nenhum vizinho sabe a origem, o segredo daquela bela setentona, "viúva" e rica. Da janela de seu apartamento, Cristina olha o mar azul, relembrando sua juventude, bela, recata e do lar. Quando dá saudades vai rever o sítio da Bica da Pedra na lagoa Mundaú. 


AVISO AOS NAVEGANTES:


AS ELEIÇÕES 2020 ESTÃO AÍ. 
SRS. CANDIDATOS.
SÓ VOTO NO CANDIDATO QUE SEJA HONESTO COMPROVADAMENTE.
 E QUE TENHA EM SEU PLANO DE TRABALHO OS SEGUINTES PROJETOS- COMPROMETIMENTOS:
1 - Iniciar um trabalho sério da despoluição do Salgadinho.
2- Acabar de uma vez com as línguas sujas nas praias.
3- Incentivar e até exigir do turismo receptivo, realizar também turismo cultural (não faltarão roteiros e programas)
4 -Realizar Festas ( ou Feiras) Literárias nos bairros, como forma de incentivo à leitura à comunidade e aos alunos.
5 -Trabalhar com a cultura dando espaço, criando emprego e renda, incentivo à Economia Criativa.
6 - Continuar o trabalho de cultura que está sendo realizado em todas as Escolas Municipais.
7 - Criar uma biblioteca em cada bairro.
8 - Criar emprego e renda na periferia, diminuido a diferença social e econômica entre os cidadãos.
9 - Realizar um trabalho cultural, econômico e ambiental na Lagoa Mundaú, juntamente com a comunidade.
10 - Continuar com o projeto do Carnaval, Festas Juninas e Natal.
11- Construir moradias para população carente.
12- Começar a planejar a retirada da fábrica BRASKEM de produtos químicos letais e mineração desastrosa.
TÃO POUCO O QUE QUERO PARA MINHA QUERIDA E BELA CIDADE DE MACEIÓ.

OPINIÃO DO GENERAL MARCO ANTÔNIO FELÍCIO -

UM PARTIDO DO MAL

Gen Marco Felicio
É incompreensível e inadmissível que o Partido dos Trabalhadores, com suas lideranças, militantes, infiltrados e simpatizantes, guiados pelo chefe da quadrilha que nele se instalou, o criminoso Lula, ainda tenha liberdade plena de atuação na vida política brasileira, após trair a Nação, mergulhando-a na maior crise política econômica e social pela qual o País já passou. Roubaram não só o tesouro nacional, por meio de extenso e intenso sistema de corrupção como também a esperança de milhões de brasileiros que, enganados, os apoiaram a fazer barbaridades, que se espalharam por diversos outros países. Desses, alguns se tornaram bolivarianos, mistura de populismo, gramscismo e totalitarismo, levando-os, também, à ruína.
Após o Sétimo Encontro Nacional, em 2019, o PT mostra um Bolsonaro ameaçador da Democracia e das instituições”, sendo Ele indicado como a continuidade ao golpe do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e da “ prisão ilegal e cassação” da candidatura do criminoso Lula, em 2018. Segundo o PT, de extrema-direita, antidemocrático, cumpridor de agenda de destruição do País, da soberania, dos direitos e das liberdades. Um governante que cria desemprego, pobreza e fome e que agride a Constituição todos os dias.
Somente um partido como o PT, de forma cretina, em oposição radical e irresponsável, transfere para o governo Bolsonaro toda a negativa herança deixada pelos próprios governos petistas durante os vários anos seguidos em que destruíram o País.
É esse o partido, liderado pelo apedeuta lula, que se uniu à comunista Cuba e criou o Foro de São Paulo, congregando dezenas de partidos comunistas, incluso brasileiros, e organizações guerrilheiras, submetendo interesses nacionais às decisões do Foro, contra o que estabelece a Constituição brasileira, cometendo crime de lesa pátria.
Tal partido, mostra o seu viés ideológico ao aprovar, sentindo-se seguro no Poder, o III Plano Nacional de DH, gestado em coerência com o que pregava o gramiscista Foro de São Paulo. Publicado ao final de 2009, no governo Lula, mostrou ser a base para a adoção de uma Constituição de cunho comunista. Avaliado no Senado, na opinião do senador Arthur Virgílio, o texto do Plano seria inconstitucional: "O texto colide com princípios constitucionais essenciais como a da livre iniciativa privada, o direito de propriedade e a liberdade dos meios de comunicação, contendo diretrizes político-ideológicas parciais e totalitárias que restringem os direitos e garantias individuais e fragilizam as instituições democráticas, instrumentos primordiais na manutenção do Estado de Direito". O Plano teve forte repulsa de segmentos da Sociedade. Essa a “democracia radical” que o PT defende.
Afirmam as lideranças do PT que o partido está articulado com os demais de oposição, com as centrais sindicais e com organizações da sociedade para deter o governo Bolsonaro ao qual acusa, raivoso, com mentiras, isto é, do mesmo que realizou de negativo quando no governo. Atingiu, em primeiro lugar, os interesses do povo, dos trabalhadores e dos desprotegidos, que precisavam garantir o direito à liberdade, ao trabalho, à renda e a uma vida digna, suprimindo 13 milhões de empregos em meio a desastrosa corrupção, aumentando a carência dos mais pobres, privando-os até mesmo da suas necessidades básicas. Lula livre, um criminoso solto e mentiroso é ofensa à Nação e a Democracia, fruto de uma Justiça leniente. O PT é a sua cara, um partido do mal, e não deixa dúvidas da necessidade, que tem a Nação, de extirpar-lo do cenário político do País como se extirpa um câncer para que o doente grave possa sobreviver com saúde.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA.


AFINAL, O RETORNO DO CARNAVAL


            Em Maceió, os carnavais de outrora eram de suprema alegria, alto astral fazia bem ao espírito e à cabeça dos foliões dessa terra bonita, onde todos se conheciam, se amavam. No carnaval a ordem era cair no passo, dançar o frevo, sambar, se esbaldar, curtir, namorar.
          A temporada carnavalesca começava com o chique Réveillon do Clube Fênix, logo após vinha o esperado Baile de Máscaras, com fantasias e máscaras obrigatórias ou traje a rigor. Os foliões pulavam até o Sol raiar e um banho de mar amanhecendo o dia na praia da Avenida da Paz. Enquanto a moçada esperava o carnaval chegar, aos sábados havia festas pré-carnavalescas: Noite no Havaí, Preto e Branco, Baile Tricolor. Os surdos e tamborins começavam a esquentar nessas festas, onde a paquera era escancarada. Início e término de muitos namoros.
Durante a quinzena anterior ao carnaval, a Prefeitura organizava uma animada Maratona Carnavalesca toda noite na Rua do Comércio, com corso de carros rodando e muito frevo. As jovens desfilavam sentadas nos para lamas dos carros, jipes e caminhonetes. Nas esquinas havia uma orquestra tocando o frevo. Ali se misturava a burguesia, a classe média, o povão, os estivadores, as empregadas, soldados, pedreiros, lavadeiras. A Maratona Carnavalesca emendava com o carnaval, só terminava quarta-feira de cinzas.
   No domingo antes do carnaval acontecia o Banho de Mar à Fantasia. A Avenida da Paz ficava apinhada de foliões. A C.O.C. organizava concurso de fantasias, blocos e críticas (sempre bem humoradas criticando os governos ou nossos costumes). Destacava-se a turma irreverentíssima formada por: Rubens Camelo, Alipão, João Moura, Napoleão, Bráulio Leite, Vadinho, Santa Rita. O Fusco dava seu show particular, além do Tarzan e senhora, com suas fantasias.
        O carnaval iniciava no sábado de Zé Pereira. Depois do corso tínhamos duas opções para os clubes: CRB ou Tênis. No domingo além da matinal da Fênix havia à noite o Baile dos Marujos no Iate ou o Baile da Fênix.
       Depois do ano novo os blocos de frevo ensaiavam desfilando pelas ruas da cidade. Cara Dura, Cavaleiros dos Montes, Bomba Atômica, Sai da Frente, Vulcão, Pitanguinha vai à Lua, Amigo da Onça, saiam em noites variadas pelas ruas de Maceió. O Bloco Vou Botar Fora, um dos mais animados com sua música, inconfundível, cantada pelos foliões: “Viva a Suprema Folia...Tristeza que vá embora...O que não for alegria... Vou Botar Fora, Vou Botar Fora.”
       De repente os carnavais de clube foram se acabando, como aconteceu em todo o Brasil. E o carnaval de rua também foi sumindo, devido a vários fatores, tantos, que aqui não há espaço para essa discussão. Maceió nos dias de carnaval transformou-se num cemitério, fizeram de nossa cidade um sanatório. Alguns empresários do turismo faziam propaganda, “Venha descansar em Maceió onde não tem carnaval” os restaurantes vazios, os bares fechando, os ambulantes retornavam da praia sem ter vendido sequer uma garrafa de água mineral. Mais de 200 mil maceioenses saem da capital em busca de folia em outras cidades. Se cada um gastar, durante os dias de carnaval, R$ 500,00, são mais de R$ 100 milhões de reais que deixam de circular na cidade de Maceió. Carnaval é dinheiro, um negócio, gera emprego e renda, todos ganham: os taxistas, as costureiras, os ambulantes, os eletricistas ou montadores, as fabriquetas de camisas, os hotéis, as pousadas, os músicos, as barracas de praias, os aluguéis de cadeiras, enfim uma quantidade enorme de profissionais da rede da Economia Criativa, ou seja, a economia gerada pela cultura. E o carnaval além de ser a síntese dessa Economia Criativa, é a maior manifestação popular da cultura do povo brasileiro.
 Há seis anos juntamos amigos e criamos o Bloco da Nêga Fulô para sair durante o carnaval e incentivar outros blocos e retornar o carnaval dessa cidade linda maravilhosa.
  Há Prefeitura entendeu também da necessidade do retorno do carnaval de rua, e que todos têm direito à alegria fugaz que se chama carnaval. Há dois anos a FMAC realiza um projeto de carnaval decente para nossa cidade. Afinal em 2020 está se concretizando a consolidação do projeto de carnaval de rua com uma excelente programação: Polos carnavalescos em diversos bairros de Maceió, como Vergel do lago, Pontal da Barra, Ipioca, Benedito Bentes. Bebedouro, Jacintinho. O Carnaval de 2020 será aberto no Polo Jaraguá na sexta-feira dia 21. E o Polo Orla a agregação de todos os bairros da cidade com uma programação de encher os olhos e alegrar os foliões: De sábado (22) à terça-feira (25) todos os dias, das 10 horas da manhã às 24 horas haverá desfile de Bloco de Frevos, Escolas de Samba, Bloco Afro, Bumba meu Boi, Maracatu entre outros. O Polo Orla, entre os 7 Coqueiros e o Alagoinha, será uma belíssima passarela, onde serão armadas arquibancadas para o povo assistir os desfiles. Os blocos serão abertos, sem cordas, sem obrigatoriedade das camisas. Convidamos a todos maceioense para divertirem-se com tranquilidade a qualquer hora do dia, tragam seus filhos, seus netos. Afinal, é o retorno do carnaval.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

BANHO DE MAR À FANTASIA


       A Avenida da Paz se apinhava de gente de toda espécie e classe social no domingo anterior ao carnaval. A partir das 8 da manhã já começavam a chegar as troças, as fantasias, as críticas e os blocos para o grande desfile do Banho de Mar à Fantasia coordenado pela COC - Comissão Organizadora do Carnaval da Prefeitura de Maceió. Nas imediações da Fênix um palanque dava guarida para uma banda tocar músicas de carnaval e o povo na rua, fantasiado ou não, pulava e dançava até mais tarde no maior calor ô..ô...ô...ô...ô...ô. Depois um mergulho, com fantasia no corpo, na água límpida transparente, esverdeada dos mares da Avenida.
         Iniciava o desfile oficial perante o palanque armado com os jurados escolhidos pela COC para entregar a taça de campeão. Primeiramente vinham as críticas e troças com a irreverentíssima turma do Bráulio Leite, Santa Rita, Rubem Camelo, Vadinho, João Moura, Napoleão. Esses não perdoavam governo e governantes. Depois vinham fantasias. Tarzan e sua esposa eram o casal devorador de prêmios, saíam sempre de Tarzan e Jane durante o carnaval, mas no Banho de Mar à Fantasia se fantasiavam como casais famosos: Sansão e Dalila; Marco Antônio e Cleópatra... Fusco, militar da aeronáutica tinha suas tiradas. Certa época o filme do momento era “Amar foi minha ruína”, Fusco saiu de moça grávida, e atrás um cartaz “Amar foi minha ruína”. Lincoln Jobim um especialista, se fantasiava de Seu Fortes, um doido conhecido na cidade que andava com muitos cachorros, Lincoln era um artista, imitava Seu Fortes melhor que o próprio.
      O desfile finalizava com a competição entre os blocos carnavalescos: Vulcão, Bomba Atômica, Pitanguinha vai à Lua, Vou Botar Fora, Cara Dura, Cavaleiro dos Montes, maior disputa. Depois de passar pelo palanque das autoridades e jurados os blocos continuavam arrastando as multidões na avenida, atravessavam a ponte do Salgadinho e perto do coreto entravam na Rua Silvério Jorge 290, onde o general Mário Lima esperava cada bloco com bate-bate de maracujá, cerveja gelada e um bom tira-gosto para os músicos. Tocavam 4 ou 5 frevos, depois seguiam em frente, outro bloco já estava na porta. Minha casa era uma festa, amigos dançavam, faziam o passo na enorme varanda durante o restante da tarde.
        Acompanhávamos os blocos na entrada e saída, uma alegria entre os amigos, figuras das mais conhecidas entravam no embalo, como as badaladas cronistas, Lilian Rose e Maria Cândida, o deputado Guilherme Palmeira, a fina flor do soçaite alagoano, Almir Furtado, Edson Frazão, Marta Mendonça, delegado Aurino Malta, misturavam-se com o povão, era a democracia carnavalesca. Atrás dos blocos mesclava-se engenheiro e servente, médico e enfermeiro, capitão e soldado, filhas de Maria e prostitutas de Jaraguá.  Os blocos terminavam de tocar em minha casa ao entardecer, festa antecipada do carnaval. Namoros feitos, outros desfeitos, a alegria do carnaval tomava conta da juventude.
      Ao pôr-do-sol o povão voltava para suas casas. Cansados, os blocos recolhiam seus estandartes esperando o carnaval chegar.
   Certa vez, no lusco-fusco do anoitecer, Arnaldo, aluno do NPOR, passou todo frajola por mim e Uchoa, dois guerreiros cansados. Ele deu um sorriso de superioridade mostrando sua companheira abraçada pela cintura. Era Guiomar, uma das piniqueiras (assim chamávamos maldosamente as empregadas domésticas) mais disputada, mais paquerada da região. Ele se dirigiu à praia agarrado na cintura fina daquela monumental mulata calipígia e desejada. A inveja é o pior sentimento do mundo. Demos apenas meia-hora. Na calada da noite, a areia fofa da praia absorvendo o barulho, fomos nos achegando em direção onde Arnaldo amava Guiomar. Eles entretidos não perceberam que chegamos bem perto. Ao ver o casal abraçado, rolando na praia, virando-se, lambuzando-se de areia, demos um grito que assustou nosso amigo e a bela Guiomar: “É a Polícia!!!!”. Arnaldo nu, completamente melado de areia, levantou-se gritando incontinente: “Sou tenente do Exército Brasileiro, sou tenente do Exército!!!”. Só percebeu a brincadeira quando demos uma gostosa gargalhada. Nos retiramos, deixamos os dois pombinhos se amarem. Olhando para trás percebi dois vultos entrando no mar, na água calma e morna da Avenida. Num mergulho o casal tirava a areia do corpo, a fantasia natural de “bife à milanesa”, a derradeira do Banho de Mar à Fantasia.
         

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

OPINIÃO DO GUZZZO.

J.R.GUZZO



ESQUERDA QUER “DESTRUIR” O GOVERNO. ISSO É IRRESPONSÁVEL E ANTIDEMOCRÁTICO

Comportamento da esquerda na festa de 40 anos do PT é atentado contra a democracia
Um deputado de um dos partidos de oposição acaba de fazer uma declaração de guerra à democracia no Brasil – aberta, direta e em público. Nem adianta tomar o tempo do leitor dizendo quem é o deputado e qual é o partido; hoje, no Brasil, a maioria dos políticos do arco PT-PSOL-PCdoB e seus clones são uma pasta só, e o que um deles diz ou faz poderia ser dito ou feito por qualquer outro, de modo que tornou-se inútil o esforço para tentar achar diferenças entre eles.
O deputado em questão, na festa dos 40 anos de fundação do PT, afirmou que é preciso “destruir” o atual governo brasileiro. Para não deixar possíveis dúvidas, esclareceu que não basta mais apenas “resistir”, ou “fazer oposição” – é preciso “destruir”, repetiu ele.
Que diabo quer dizer uma coisa dessas? O que, precisamente, o homem está querendo que se faça? “Destruir”, como ele recomenda, significa o que, na prática? Se trabalhar legalmente contra o governo, exercendo as funções de oposição previstas em lei, não é suficiente, o que, então, ele sugere que os opositores de Jair Bolsonaro comecem a fazer?
Destruir, segundo está no dicionário, significa destruir – ou seja, não é nenhuma dessas palavras com meia dúzia de sentidos diferentes. Então: qual é a proposta concreta de mais esse líder da nossa esquerda? Nenhum jornalista vai fazer essas perguntas a ele, é claro, porque fazer essas perguntas seria um comportamento “fascista”. Mas mesmo que aparecesse alguém para lhe perguntar, o deputado ia correr para se esconder debaixo de alguma mesa. Iria dizer que disse, mas não disse o que acham que ele teria dito, e que estamos sob uma ditadura, e que os militares governam o Brasil, e que as prisões estão cheias de opositores – enfim, iria despejar uma mentirada em cima do interlocutor para fugir à responsabilidade de responder pelo que disse.
O Brasil tem um governo legal, eleito em 2018 por 58 milhões de brasileiros, a maioria absoluta do eleitorado que foi votar, em eleições absolutamente livres e cuja apuração não foi contestada em nenhum momento. O presidente Bolsonaro não contou na campanha com nenhuma ajuda do governo – nem um único centavo. Teve menos de 1 minuto de tempo diário no programa eleitoral na televisão e rádio. Não teve jatinhos, nem as verbas de partidos, nem o apoio de milionários, banqueiros, empreiteiras de obras, grandes empresas brasileiras ou multinacionais. Um ex-militante do PSOL tentou assassiná-lo com uma facada no estômago no final da campanha. Bolsonaro foi eleito, simplesmente, porque teve mais votos que o seu oponente. Foi eleito porque essa foi a decisão do povo brasileiro.
Ir contra isso tudo – “é preciso destruir esse governo” – é ir contra o resultado das eleições. É ir contra a democracia, diretamente. É admitir, em público, o problema insolúvel da esquerda brasileira, ou de qualquer outro país: o grande problema da democracia são as eleições, porque numa eleição o outro lado pode ganhar. Para a esquerda, só vale quando ela ganha; quando perde é uma “farsa” que tem de ser “destruída”.
Não há nenhuma justificativa possível para palavras como essa. Elas apenas mostram que a esquerda é abertamente a favor da ditadura no Brasil – a sua ditadura.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

OPINIÃO DO BERTOLUCI

MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS


O PAÍS DO JOSÉ DE ABREU

Dizem os otimistas que sempre se pode achar um lado positivo em tudo. Neste caso, poderíamos agradecer ao eminente petista e xingador de mulheres José de Abreu por despertar o interesse neste país tão peculiar que é a Nova Zelândia. No texto abaixo, fiz um resumo de um artigo de Maurice McTigue, que foi um dos principais responsáveis pela revolução que o governo da Nova Zelândia operou entre 1984-1990. É bom notar que o texto original é de 2004, então algumas coisas já podem ter mudado. De qualquer forma, é sempre bom ouvir algo de alguém que sabe do que está falando, porque estava lá.
“Reduzindo o governo: lições da Nova Zelândia”
Ao final da década de 1950, a Nova Zelândia tinha a terceira maior renda per capita do mundo. Em 1984, havia caído para o 27º lugar. A taxa de desemprego era de 11,6%, o déficit do governo chegava a 40% do PIB e a dívida pública, 65% do PIB. Os investimentos caiam sem parar, e o governo tentava controlar tudo no país. Havia controle de preços e de salários. Havia controles de importação. Para encomendar uma revista ou jornal do exterior era preciso autorização do Ministério das Finanças. Era proibido investir em ações de empresas estrangeiras. Havia enormes subsídios às indústrias.
O novo governo que assumiu em 1984 identificou três problemas: excesso de gastos, excesso de impostos, excesso de governo. Decidimos reduzir os três. A primeira providência foi mudar completamente a forma de gestão. Fizemos duas perguntas a cada órgão do governo: “O que vocês fazem?” e “O que vocês deveriam fazer?”. Com isso, demos a primeira ordem: “Parem de fazer o que não deveriam”. Em outras palavras, repensamos a real função de cada órgão, eliminamos burocracias inúteis e estabelecemos metas específicas para cada um. As verbas que cada órgão receberia dependeriam do cumprimento das metas; se um órgão não as cumprisse, seria extinto (para que gastar dinheiro em algo que não dá resultado?).
Neste processo, o Ministério dos Transportes passou de 5.600 funcionários para 53. O do Meio Ambiente, de 16.000 para 17. O Ministério das Obras Públicas tinha 28.000 funcionários, e ao final do processo, restou apenas um: o próprio ministro, que era eu. Quem fazia as obras? Empresas privadas. Falei com alguns ex-funcionários do meu ministério que foram para a iniciativa privada, e eles me disseram estar espantados como conseguiam produzir muito mais do que quando trabalhavam no governo.
Descobrimos que o governo fazia muitas coisas que não são função do governo. Por isso, vendemos telecomunicações, companhias aéreas, sistemas de irrigação, serviços de informática, gráficas governamentais, empresas de seguro, bancos, ações, hipotecas, ferrovias, serviços de ônibus, hotéis, empresas de navegação, serviços de assessoramento agrícola, etc. Resultado: quando vendemos estas coisas, sua produtividade subiu e o custo dos seus serviços caiu, traduzindo-se em ganhos importantes para a economia.
Outros órgãos, como o Controle de Tráfego Aéreo, foram transformados em empresas autônomas, proibidas de receber verbas do governo. Estes 35 órgãos custavam aproximadamente um bilhão de dólares por ano. Após a mudança, nunca mais receberam um tostão, passaram a ter lucro e a pagar impostos.
De forma global, o governo foi reduzido a um terço do que era. A participação no PIB caiu de 44% para 27%. A dívida caiu de 63% para 17% do PIB. Quando o dinheiro começou a sobrar, reduzimos drasticamente os impostos.
Tínhamos um sistema tributário complexo, onde o governo parecia se empenhar em cobrar impostos de tudo que pudesse. Decidimos simplificar ao máximo, mantendo apenas dois impostos: O imposto sobre consumo, com taxa fixa de 10%, e o imposto de renda, onde a alíquota mais baixa caiu de 38% para 19% e a mais alta, de 66% para 33%. Todos os outros impostos (ganhos de capital, imóveis, etc) foram eliminados.
Mesmo com a redução das aliquotas, a arrecadação total aumentou. Com taxas baixas, não vale a pena pagar contadores e advogados para encontrar brechas na lei. Aliás, a história mostra que todos os países que simplificaram e reduziram as taxas de seus impostos acabaram arrecadando mais, não menos.
Em 1984, metade da renda dos criadores de ovelha vinha do governo. Um cordeiro rendia aproximadamente US$ 12,50 por cabeça quando exportado, mas o criador recebia mais US$12,00 em subsídios do governo. Quando cortamos os subsídios, os criadores não ficaram nada satisfeitos, mas quando viram que o governo não ia mudar de opinião, resolveram se virar. Contrataram consultores e pesquisaram como aumentar o valor de seus produtos. Concluíram que era necessário produzir algo inteiramente diferente, processá-lo de uma maneira diferente e vendê-lo em diferentes mercados. Em 1989, a renda chegou a US$ 30,00 por cordeiro. Em 1991, US$ 42,00. Em 1994, US$ 74,00. Em 1999, um cordeiro rendia US$ 115,00.
Quando abolimos os subsídios, muitos previram que as indústrias iam quebrar e haveria enorme desemprego. Não aconteceu. Também previram que as grandes corporações iriam dominar o mercado e arruinar os pequenos produtores. Ocorreu o contrário: a agropecuária familiar se expandiu, provavelmente porque uma empresa pequena e familiar é mais ágil em tomar decisões e tem custos menores que as empresas grandes.
A educação era outro fracasso. A taxa de repetência chegava a um terço dos alunos. O governo jogava cada vez mais dinheiro na educação, e os resultados não paravam de piorar. Contratamos consultores estrangeiros para analisar nossos problemas. Uma das primeiras descobertas foi que, de cada dólar gasto na educação, setenta centavos iam para a administração do sistema. Após esta descoberta, o Ministério da Educação foi simplesmente extinto.
Cada escola, pública ou privada, receberia um pagamento do governo para cada aluno matriculado. Cada escola pública seria administrada apenas por um conselho eleito pelos pais das crianças matriculadas nela, sem qualquer interferência do governo, e os pais tinham total liberdade para matricular seus filhos na escola que quisessem. Se uma escola pública perdesse alunos, sua receita iria cair e os professores perderiam o emprego. O resultado foi que não houve êxodo para as escolas privadas, como alguns temiam, e em dois anos a diferença de desempenho entre as escolas do estado e as particulares era zero.
Para completar, criamos grupos, formados pelos melhores especialistas de cada área, para reescrever todas as leis. Dissemos a eles para recomeçar do zero, ignorando tudo que havia antes, fazendo algo simples e que criasse o melhor ambiente possível para a economia prosperar. Para dar um exemplo, as leis ambientais do país formavam uma pilha de papel de mais de 60 cm de altura. Foi substituída pela nova Lei de Gestão de Recursos que tem 348 páginas. As novas leis removeram o poder dos órgãos do governo de criar novas regulamentações, que é o que fazia as leis crescerem sem controle.
Para encerrar, uma pequena história: O Ministério dos Transportes um dia disse que precisava aumentar a taxa para renovação da carteira de motorista. Eu perguntei por que a carteira precisa ser renovada. A princípio, eles reagiram como se eu tivesse feito uma pergunta muito idiota. Eu insisti: em quê a renovação da carteira garante a competência para dirigir?
Depois de dez dias, eles admitiram que não conseguiram encontrar uma boa razão para o que estavam fazendo; por isso, extinguimos o processo. Agora, a carteira é válida até a pessoa chegar aos 75 anos. A partir desta idade, ela deve fazer um exame médico anual para garantir que ainda tem condições físicas para dirigir. É isso que eu quero dizer quando falo “pensar de forma diferente sobre o governo”.
* * *
Se alguém se interessar em ler o artigo original, basta clicar aqui

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

SÃO TRINTA COPOS DE CHOPE...



                                     
 Juçara quando aparecia de biquíni na praia, os homens encantavam-se. Alegre, liderava a turma jovem em noites frescas nos bancos da Avenida da Paz. Naquela época o ensino público era eficiente, ela passou no vestibular de medicina. Porfírio, colega de faculdade, tornou-se o amigo inseparável. Depois da praia, gostavam de conversar e tomar cerveja no Castelinho, bar instalado no coreto da Avenida. Na primeira cerveja, eles brindavam, batendo os copos, recitando um poema de Carlos Pena Filho.
     “São trinta copos de chope... São trinta homens sentados... Trezentos desejos presos... Trinta mil sonhos frustrados... ”
Quando foi realizado um Congresso de Plantadores de Cana em Maceió. Juçara trabalhou como recepcionista. Todas as noites um senhor visitava o estande. Encantou-se com aquela jovem meiga, inteligente e alegre. Esse senhor, fazendeiro em Minas Gerais, separado da mulher, era rico e solitário. Juçara até que simpatizou com o mineiro que lhe prometeu o Céu, a Terra e o Mar se ela o quisesse. O homem apaixonou-se. Dias depois do Congresso ele retornou a Maceió, procurou Juçara. Conheceu os pais, queria casamento. Foi um reboliço na família. Um rico fazendeiro de 40 anos, apaixonado e louco para casar com aquela menina de 18 aninhos, iniciando o curso de Medicina.
Juçara, embora achasse o pretendente inteligente, não tinha amor suficiente para casamento. Outro problema era a faculdade, pois iria morar em uma fazenda no interior. Ela pediu tempo para pensar. Júlio, o fazendeiro apaixonado, deu o tempo que quisesse, ele esperaria por toda vida, seu amor era infinito e paciente.
Quando Porfírio soube que Juçara aceitara o casamento, levou um choque. Foi como se um feixe de flechas tivesse lhe atravessado o tórax, o coração.
Na véspera da viagem, encontraram-se na boca da noite no Castelinho.  Juçara estava deslumbrante em um vestido amarelo, quase transparente.  Emocionados brindaram à felicidade da noiva. Bateram os copos, recitaram o poema predileto. Quando olharam nos olhos, os dois marearam. A primeira lágrima caiu dos olhos de Porfírio e outras mais caíram, abraçaram-se juntos à mesa. Porfírio não se conteve, sussurrou no ouvido da doce amada: “Lhe amo, lhe amo, lhe amo e nunca lhe esquecerei...”
Juçara, segurando as emoções, confessou a verdade: estava casando por necessidade, o pai tinha câncer, o tratamento para poder sobreviver cinco ou dez anos, era caríssimo. Ele era sua própria vida, daí esse sacrifício. Pediu perdão a seu amado, dizendo que também jamais o esqueceria, e que lhe ajudasse nessa difícil decisão. Não sabia se certa ou errada. Seu pai, que não imaginava a história verdadeira, deu sua vida batalhando por ela, merecia essa loucura pragmática.
Certo momento, Juçara pediu para passear pelo calçadão da Avenida. De mãos dadas, feitos dois namorados, seguiram mudos, pensativos. O céu estava negro, escuro, um milhão de cintilantes estrelas. Em certo momento pararam. Impulsionados pelo amor e os hormônios, desceram à praia. Ao chegarem à areia morna, olharam-se, abraçaram-se. Ele beijou e lambeu o longo pescoço da amada, enquanto ela sussurrava seus ais e num grito abafado pediu: “Quero você, quero você, me possua...”

Anos se passaram, Porfírio pouco viu Juçara quando ela passava alguns dias em Maceió. Só aproximou-se uma vez para dar os pêsames no enterro de seu pai.
Durante o carnaval passado, Porfírio, coroa enxuto e alegre, bom folião, brincava entre amigas no Bloco da Nêga Fulô, de repente tomou maior susto ao deparar-se com uma mulher exuberante que dançava e pulava à sua frente. Era Juçara no esplendor de sua maturidade, pulando e cantando as marchinhas de carnavais antigos. Brincaram juntos, felizes da vida, terminaram a noite embriagados se enrolando na praia de Ponta Verde. Marcaram encontro no outro dia no Bar do Alípio às cinco da tarde.
Porfírio, o viúvo mais paquerado da cidade, no dia seguinte às 10 para cinco ele estava sentado no deck da Lagoa Mundaú, esperando a amada. Juçara desceu de um táxi com elegância e beleza, tinha no corpo colado o mesmo velho vestido amarelo de anos atrás, havia guardado e nunca usado. Aproximou-se sorrindo, deu um beijo em sua face, sentou-se a seu lado. Porfírio controlou a emoção, reconheceu o vestido. Juçara desabafou pela primeira vez na vida. Contou o sofrimento que teve com o marido mineiro, bem mais velho, extremamente ciumento, mesquinho, raparigueiro, “qualidades” que só apareceram depois do casamento. Proibiu-a de ir à cidade sem sua companhia, nem sequer para assistir um cinema. Tem dois filhos, sua felicidade, seu amparo para aguentar aquele homem violento, que às vezes bêbado dava-lhe murros e tapas, ainda acusando-a não ser virgem quando casaram-se, como se fosse um crime. Há seis meses teve coragem saiu de casa, separou-se do velho marido, mora em Belo Horizonte e quer voltar a estudar medicina.
O reflexo dourado da Lagoa Mundaú era um espetáculo de brilho e cores cintilantes tremeluzindo a água calma, cortada por canoas de velas brancas.
Quando o Sol começava a se esconder, a baixar lá para o fim do mundo para a noite chegar; aconteceu um beijo, terno, carinhoso, como se fossem velhos amantes. O garçom encheu os copos de cerveja, eles sorriram felizes, brindaram, recitando alto: “São trinta copos de chope... São trinta homens sentados... Trezentos desejos presos... Trinta mil sonhos frustrados...”
   

OPINIÃO DO GUZZO

J.R.GUZZO


QUEREM CASSAR OS DIREITOS DE REGINA DUARTE. É MUITO MAIS QUE ÓDIO

Para além de toda a gritaria indignada de uma parte da classe artística brasileira, à beira de um ataque histérico com a nomeação de Regina Duarte para a Secretaria Especial de Cultura, há um fato indiscutível e chocante: os colegas de profissão da atriz estão negando a ela o exercício livre de seus direitos civis. É algo realmente extraordinário.
Mais de 60 anos após as lutas de Martin Luther King, que mudaram os Estados Unidos para sempre ao provar para a sociedade americana e para o resto do mundo que todos os cidadãos de um país têm direitos naturais que não podem ser negados por ninguém e por nenhum motivo, estamos de volta, no Brasil de 2020, ao Alabama de 1960.
A “classe artística brasileira”, ou mais exatamente os que fazem barulho na mídia, está dizendo que Regina Duarte não pode exercer o seu direito constitucional de aceitar um convite para o ministério do governo Jair Bolsonaro.
Assim como um negro americano não podia ocupar cargos públicos pelo fato de ser negro, Regina Duarte não pode ser ministra pelo fato de ser atriz – e atrizes, na visão das nossas classes “intelectuais”, não podem trabalhar  num governo de direita, porque não têm o direito, garantido por lei, de ser de direita. Regina é de direita? Muito bem: e o que resto do mundo tem a ver com isso? A Constituição do Brasil diz que ela tem o direito de pensar o que lhe der na telha.
Nenhum dos indignados com a nomeação de Regina Duarte se lembrou de levar em conta que o governo de Jair Bolsonaro é legal, legítimo e constitucional. Foi eleito democraticamente, dentro de todas as regras em vigor, em eleições livres, por quase 58 milhões de votos – a maioria absoluta, de longe, dos que votaram na eleição presidencial de 2018.
O que há de errado em aceitar um convite para trabalhar nesse governo? Se você é contra o governo, vá adiante e seja contra; mas você não pode negar ao cidadão que está ao seu lado o direito de ser a favor. Ao agir como agiu no caso de Regina Duarte, a “categoria artística” mostrou que não aceita, simplesmente, as regras de uma democracia. Não há remédio conhecido para isso: quem não aceita as regras da democracia é a favor de ditaduras. O resto é argumentação hipócrita e falsificada.
Se Regina Duarte vai ou não dar certo como secretária da Cultura já são outros quinhentos. A impressão, pelos fatos disponíveis hoje, é que isso é uma missão impossível. Talvez possa se demostrar que não, que a missão seja possível – mas, nesse caso, será preciso fazer a demonstração concreta.
É, mais ou menos, como nomear um cidadão para o Ministério dos Discos Voadores – que raios um filho de Deus (uma filha, no caso), pode fazer de útil num cargo desses? O Brasil não precisa de uma Secretaria, de um Ministério da Cultura. Precisa de cultura – que não apenas é outra coisa, mas é algo que a intervenção do governo ativamente atrapalha.
O Brasil precisa de um serviço capaz de tapar goteiras, instalar ar condicionado e evitar incêndios em seus museus, bibliotecas e milhares de instalações dedicadas à cultura e entregues ao mais miserável abandono. Precisa impedir que suas construções históricas venham abaixo. Precisa salvar as estátuas expostas em praça pública. Precisa de todas essas coisas que você sabe tão bem quais são – e nenhuma delas tem nada a ver com a Secretaria Especial de Cultura.
Mas não é isso que se discute. O que se quer é cassar, em público, os direitos de uma cidadã brasileira livre. É muito mais que ódio, apenas.