Em março último, a quase totalidade dos atuais sócios efetivos da AAL se reuniu, objetivando registrar a fotografia oficial a ser considerada nos atos comemorativos do centenário da casa das casas da cultura do Estado de Alagoas. Estávamos todos lá, repetindo uma iniciativa já tomada por nossos antecessores, nos idos de 1919, 1929 e 1969.
Naquelas épocas, personalidades como Moreira e Silva, Aurélio Buarque, Augusto Galvão, Mendonça Junior, Eunice Lavenere, Heliônia Ceres, Anilda Leão e Guedes de Miranda garbosamente posaram para o futuro, ato hoje repetido por Vera Romariz, Edilma Bonfim, Yaradir Sarmento, Eliana Cavalcanti, Arriete Vilela, Enaura Quixabeira, Theomirtes Barros, Lyzette Lyra e Mirian Canuto, sempre acompanhadas de inúmeros membros da casa que, como eu, ali estávamos para escrever História.
Observando a movimentação dos fotógrafos, vislumbrando o posicionamento de cada um, aguardando o clicar das máquinas digitais congelando semblantes para a eternidade, recordo haver falado para mim mesmo: “Estou feliz, por estar aqui”. Lembrei-me então do célebre escritor argentino Jorge Luís Borges, que certa vez escreveu: “A uns trezentos ou quatrocentos metros da Pirâmide me inclinei, peguei um punhado de areia, deixei-o cair silenciosamente um pouco mais adiante e disse em voz baixa: acabo de modificar o Saara.”
Em ambas as situações, os atos podiam ser considerados insignificantes, mas extremamente justos. Para ele, fora necessário toda uma vida até sentir correr entre os dedos os grãos de areia da terra dos faraós e, para mim, aquele passou a ser considerado um dos mais significativos e marcantes momentos da existência, porque estou ciente de serem os homens verdadeiros descobridores. Começa distinguindo o doce e o salgado, o côncavo e o liso, as sete cores do arco-íris e as letras do alfabeto, ajusta-se à realidade do cotidiano e conclui pela dúvida ou pela fé em seus semelhantes. Durante tal evento, então, compreendi a imensa responsabilidade de manter viva a chama do saber, acesa há tanto tempo, mas que hoje ainda arde no sodalício de Demócrito Gracindo.
Não restam dúvidas: a fotografia é um dos poucos artifícios com poder sobre o tempo, porque o paralisa. Cem outros anos virão, mas a foto do dia 13 de março de 2019 estará sempre viva, da mesma forma que as anteriores, cujos integrantes, fisicamente já transformados em poesia, mantiveram-se imortais para a eternidade.
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