terça-feira, 13 de dezembro de 2016

POR FAVOR - Diógenes Tenório Jr. AAL


Vez por outra a tragédia bate à nossa porta, tirando-nos da zona de conforto da nossa vidinha comum. Na eterna ilusão de que as coisas estão sob o nosso controle – e elas nunca estão de verdade –, mal nos apercebemos de que, aqui e acolá, há sempre a lâmina do imponderável balançando perigosamente sobre as nossas cabeças, prestes a desabar e levar consigo muitos dos nossos sonhos mais caros. Ainda ontem nos comovíamos com a morte do ator Domingos Montagner, tragado pelas águas do Rio São Francisco; agora estamos todos estupefatos diante das mais de 70 vítimas da queda do avião da LaMia, em sua maioria jovens com um futuro promissor. Tanto num caso quanto noutro, a mesma certeza que emerge das lágrimas de dor e de incredulidade: nós não somos nada, coisa ínfima na imensidão desse universo que nos abriga temporariamente.

Seria bom que todos possuíssemos, como os orientais, essa percepção exata da finitude e da impermanência que permeiam a nossa caminhada. Talvez existissem menos pessoas com o nariz tão empinado e com a cara tão fechada, como se não precisassem de ninguém para nada, como se fossem realmente autossuficientes. Talvez muitos de nós compreendessem que, no pouco tempo que nos é concedido, há a possibilidade de diminuirmos as dores de tantas pessoas, há a chance de, com um sorriso singelo ou um pequeno gesto de atenção, reacendermos a esperança num coração desertificado pela ingratidão. As coisas mais valiosas que nós podemos partilhar com o próximo não dependem de dinheiro, de poder, de posses e nem mesmo de inteligência ou preparo intelectual; são os valores que levamos na nossa alma e que nos fazem transitar com mais leveza e simplicidade. 

Aprendi isso na minha infância em Murici: as pessoas mais sábias com as quais eu convivi não possuíam cultura alguma, talvez nunca tivessem lido um livro. Eram marceneiros, parteiras, bodegueiros, donas de casa, beatas. Mas de tal modo sabiam experimentar a vida que lhes foi dada viver, de tal maneira aprendiam as lições que, nas circunstâncias mais simples, lhes eram dadas pelo acaso e pela ordem natural das coisas, que se tornaram para mim referências sobre como enxergar o mundo à minha volta. 

Tenho visto, em diversas pichações pelas ruas de Maceió, o apelo simpático revestido de poesia: “Mais amor, por favor”. É bom que ainda haja quem clame por amor, em meio a tantas guerras, ódios e intolerâncias. É bom demais podermos acreditar ser possível sonhar, mesmo quando a realidade insiste em nos tirar o sono.

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