quinta-feira, 10 de novembro de 2016

OS ESTADOS UNIDOS E O FUTURO - RONALDO LESSA - GAZETA DE ALAGOAS

O ano ainda não terminou, mas se configura como um dos mais impactantes da história moderna. A saída do Reino Unido da União Europeia e a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos demonstram que a humanidade decidiu volver à direita e substituir valores embasados no bem comum pelo egocentrismo. Fechamos o ciclo da luta pelo “nosso” e retornamos ao “cada um por si”. Analistas políticos estão atônitos, não arriscam uma previsão sobre o que virá, mas são unânimes em afirmar que o mundo não será mais o mesmo.

Há algumas décadas era simples saber contra o que e pelo que lutar. Pinochet, Somoza, Franco foram ditadores, tomaram o poder pela força das armas; Trump foi eleito pelo povo, apesar do racismo, da xenofobia e do sexismo. Isso confunde e nos remete a um terreno imprevisível, onde o certo pode não ter amparo legal. Passamos por algo semelhante no Brasil. Apesar de eleita pelo voto popular, Dilma Roussef sofreu tal pressão, que resultou num processo de impeachment – isso não deve ocorrer com Trump. A direita emergente brasileira não tolerou que os programas sociais em curso, considerados populistas, se perpetuassem. Daí, estarmos às voltas com a PEC 241, a proposta do retrocesso.

Apesar de bem avaliado, Barack Obama não conseguiu eleger o sucessor. Foi duramente criticado pelo Obamacare, uma reformulação do sistema de saúde que impedia que planos discriminassem pacientes. Aproximou-se de Cuba e não foi tão belicista quanto muitos queriam com relação à política internacional. Deixaria esse legado para Hillary Clinton, mas os americanos não concordaram, preferiram o combate aos imigrantes e a possibilidade de ataques nucleares a terroristas. 

Mas quando começou essa guinada à direita que se observa no mundo? É difícil precisar, mas é fato que o avanço tecnológico, que deveria aproximar as pessoas, tem servido para propagar o egoísmo e o isolacionismo, um paradoxo que merece ser estudado. As chamadas redes sociais da mesma maneira que disseminam boas ideias, também propagam o ódio e a intolerância. Quem defende a democracia não costuma ser virulento, já o contrário... Foi o que aconteceu nos EUA. Os intolerantes encontram em Donald Trump um porta-voz, esperamos que ele não se torne um algoz da democracia.

O ano ainda não terminou, mas os poucos dias que faltam para 2017 devem nos levar a uma reflexão sobre que futuro estamos construindo para nossos filhos e netos. Talvez o Natal nos traga um pouco de paz, concórdia e comunhão. Estamos precisando. No que concerne a mim, que exerço a atividade política desde o final dos anos 60, o quadro entristece, mas não me esmorece. Pelo contrário, ganho um novo ânimo para continuar lutando pelo que é justo e certo, lutando pela democracia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário