BUDAPESTE, CIDADE PARA
VIVER UM GRANDE AMOR
Hungria, esse país povoou minha
imaginação na juventude. Entre meus divertimentos, aos 12 anos, eu possuía uma amada
coleção de selos. Tia Zezé Peixoto
trabalhava nos Correios me trazia selos descolados, caídos das cartas. Certa
vez me presenteou um pacote, 24 selos coloridos, belíssimos, neles escrito
Magyar Posta, Correio da Hungria. Tornaram-se a preciosidade da coleção, eu mostrava
a todo mundo, maior orgulho aqueles selos de um país distante e misterioso.
Seleção da Hungria 1954
Em 1954 acompanhei por rádios e
jornais a Copa do Mundo de Futebol na Suíça. A Hungria era a melhor seleção
daquela Copa, inigualável, ganhava dos países mais fracos de 10 x 0 para cima,
eliminou o Brasil nas quartas de finais 4 x 2. Numa das maiores injustiças do
futebol, esse time perdeu a final em Berna para a Alemanha, campeã, 3 x 2 de
virada. O Honved time base da seleção húngara possuía os melhores jogadores do
mundo, inesquecíveis, Puskas, Kocsis, Czibor, Grosics. Destaques na história do
futebol. Coloquei as fotos desses jogadores na parede de uma puxada no quintal
de minha casa onde eu estudava durante a tarde. Tornei-me fã do Honved, de
Puskas.
Durante a
Segunda Guerra Mundial a Alemanha invadiu a Hungria. Isolaram os judeus em Budapeste,
construíram uma muralha dentro da cidade formando um gueto. Segundo dados do
Holocausto, 380.000 judeus húngaros foram mortos nos Campos de Concentração durante
a ocupação. Ao terminar a 2ª Guerra os nazistas fugiram da Hungria dando lugar
ao vencedor, o Exército de ocupação russo. Azar da população húngara. Saiu
Hitler entrou Stalin instalando o regime comunista colocando mais um país na
órbita soviética.
Revolução Húngara
1956 - o povo em armas contra o jugo soviético
Em 1956 eu era cadete da Escola
Militar de Fortaleza, tomei conhecimento pelos jornais da Revolução na Hungria.
Fiquei interessado, quis entender, acompanhei a revolução do país de Puskas,
ele era major do exército húngaro.
A Revolução da Hungria se iniciou no
começo de 1956, uma manifestação organizada por estudantes e intelectuais
húngaros contra as condições de vida e contra o governo do Partido Comunista,
pretendendo adoção de algumas medidas democráticas no país. Cerca de 200 mil
pessoas participaram da manifestação entre estudantes, operários e soldados. Os
manifestantes derrubaram a estátua de Stalin, agentes da repressão passaram
para o lado dos manifestantes. Conselhos revolucionários foram criados em
Budapeste e outras cidades para organizar a população. O clima de guerra civil
cresceu no país. Os governantes tentaram chegar a um acordo com Moscou.
Entretanto, em novembro de 1956 tanques do Exército Vermelho entraram em
Budapeste reprimindo brutalmente manifestações. Mais de 20 mil húngaros mortos,
contra pouco mais de 700 soldados soviéticos. Era o fim da Revolução Húngara.
Ponte das Correntes,
separa Buda e Peste
Agora nesse bendito 2016, há alguns dias, com 76 anos nos costados,
conheci esse país que habitou meus devaneios de juventude. Ao entrar em Budapeste
encantei-me, fiquei fascinado com a beleza da cidade, extrapolou a expectativa. De um lado do Rio
Danúbio fica Peste, suntuosos edifícios do antigo império austro-húngaro, imponente
o edifício do Parlamento de fachadas e agulhas góticas. Em Peste concentram-se
museus, galerias, igrejas, óperas. É a zona de compras da cidade, modernos
shoppings instalados em palácios do Século XVIII. Atravessando a Ponte das
Corrente, guarnecida por leões de pedra, fica Buda, morada dos ricos, onde se
localizam castelos, a deslumbrante Igreja de São Matias e muitas construções
medievais da cidade.
O Rio Danúbio divide
Buda e Peste, inspirou Strauss compor a valsa, talvez a mais conhecida, "Danúbio
Azul". Durante uma noite após um show folclórico, navegamos num luxuoso
barco onde avistamos toda cidade iluminada. As noitadas acontecem em modernos clubes
ou em navios abandonados à margem do rio. Existem banhos turcos (a maioria
também ocupa antigos palácios), unissex. Muito interessante. As belas húngaras
costumam rejuvenescer nesses banhos turnos, às vezes nuas. Espetáculo à parte.
Memorial
dos Sapatos
Certa manhã,
perambulamos, cinco casais, pela exuberante Budapeste, conhecendo, descobrindo
à pé aquela fascinante cidade. A certa altura Dr. Catão nos instigou a
procurarmos o Memorial dos Sapatos construído em 2005 por dois artistas, eles fixaram
à margem do Danúbio alguns sapatos de bronze simbolizando um triste fato; num
dia de inverno um grupo de judeus foi levado pelos nazistas à margem do Danúbio
onde foram obrigados a tirar seus sapatos (valiosos durante a guerra) e saltar
dentro do rio gelado. Não se pode esconder, nem esquecer as atrocidades das
guerras. Contudo, a beleza da cidade é imorredoura, inebriante, Budapeste,
cidade para viver um grande amor, retornarei, em lua de mel, quando completar
50 anos de casado.
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