quinta-feira, 3 de novembro de 2016

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima

OUTONO DE PRAGA


O autor em Dresden
          
Berlim, cinco da manhã, o termômetro marcava 4° centígrados fora do hotel. Preparava-me para viagem à Praga, partida do ônibus prevista para 6:30 horas. Um pouco de ressaca, gosto do vinho Landwein na boca, fiz a barba, tomei um banho quente, depois de um café à salsicha de porco, enfrentamos a estrada. Na saída da cidade revi ao longe o edifício do Reschstag, sede do Parlamento da Alemanha. Em 27 de fevereiro de 1933 incendiaram misteriosamente aquele prédio. O incêndio do Parlamento Alemão foi usado pelos nazistas, liderados por Hitler, como perseguição aos opositores políticos. Iniciava a ascensão de Hitler. Pensava nesse fato histórico quando o ônibus dobrou pegando a impecavelmente limpa rodovia. 
       Pelo caminho descemos em Dresden, uma volta na cidade mais bombardeada, mais sofrida, durante 2ª Guerra Mundial, foram três dias horripilantes de bombardeios ininterruptos, pelo dia eram os aviões ingleses, à noite os aviões americanos, a belíssima cidade foi destruída, arrasada, insensatez da humanidade, igual às bombas americanas de Hiroshima e Nagazaki no Japão.
Fiquei surpreso com a restauração da belíssima cidade, nenhuma marca dos bombardeios. A Orquestra de Câmara de Dresden tocava em frente a um convento naquela manhã de quarta feira. Prosseguimos viagem à margem do histórico Rio Elba, emocionava-me conhecer locais cheirando à História e à Guerra.
            Ao meio dia entramos na esplendorosa Praga, almoçamos num restaurante italiano, comida da Itália existe em todo canto do mundo. Fascinado com o centro da cidade,  caminhei em torno das luxuosas lojas, turistas de todo canto do mundo, base da economia do país que se chamava Tchecoslováquia, hoje repartido em República Tcheca e Eslováquia, perambulei o resto da tarde esquentando-me do frio de 8° desse outono. Fui conhecer os locais onde aconteceu o movimento político, histórico, "Primavera de Praga".
     Após a 2ª Guerra Mundial os comunistas haviam chegado ao poder na Tchecoslováquia. Nesses  anos, a vida política no país tornou-se burocratizada e autoritária, dentro dos parâmetros da União Soviética, era o processo da "stalinização", em referência ao ditador soviético Stalin. Em janeiro de 1968 Alexander Dubcek assumiu o cargo de secretário-geral do Partido Comunista tcheco. Imediatamente Dubcek,  colocou em prática um audacioso plano de reformas políticas, econômicas e sociais visando "humanizar" o regime. No plano de reformas constavam a liberdade de imprensa, o fim do monopólio político do Partido Comunista, a livre organização partidária, a tolerância religiosa, entre outras medidas que apontavam para a democratização do país.O movimento liderado por Dubcek contou com o apoio de intelectuais e da população do país. Entretanto, não agradou a Stalin, a 20 de agosto de 1968, tropas soviéticas invadiram a Tchecoslováquia. Os tanques tomaram a capital Praga e, ao invés de encontrarem tropas tchecas armadas e resistentes, depararam-se com uma reação pacífica. Os tchecos inconformados com a invasão armada da União Soviética, se deitavam na frente dos tanques, conversavam com os soldados pedindo que retornassem à URSS. Os soviéticos prenderam Alexander Dubcek,  levaram para Moscou junto com outros líderes tchecos, acabando o curto, entretanto, significativo movimento conhecido como Primavera de Praga. As reformas políticas de Dubcek viriam vinte anos depois com a derrocada do comunismo na Europa Oriental.
Primavera de Praga - 1968 - Reação pacífica dos tchecos à invasão soviética

Praga cidade de muita história, cultura e arte foi desde o século IX cenário dos intercâmbios comerciais e culturais, centro do mercado do Leste Europeu. Na Praça da Cidade Velha, encontra-se o relógio astronômico da Câmara Municipal, umas das jóias da cidade. Contudo, o mais representativo de Praga são suas casas, seus edifícios barrocos e góticos, fachadas mostrando a riqueza de antigas famílias nobres e mercadores. Entre elas, a casa onde morou o escritor Franz Kafka. Pelas ruas da cidade também passeou outra célebre personagem, Wolfang  Amadeus Mozart, um dos maiores músicos da humanidade.

Encantei-me com a deslumbrante cidade, a beleza singela das folhas mortas levadas ao vento, caindo ao chão, nesse frio outono de Praga.

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