JAMAIS ENCONTRARÁ
Rua do Comércio - Maceió
Era uma vez em Maceió uma senhora bonita,
passava dos cinquenta, toda quarta-feira à tarde costumava ir à Rua do
Comércio, centro da cidade, amava aquelas lojas, movimento do povo, dizia não
trocar pelos Shoppings com ar condicionado. Depois de visitar as lojas
preferidas, Dona Leila visitava o escritório de advocacia do marido e filha. Em
uma dessas visitas sentou-se em frente a filha, tomou um café forte, desabafou.
- Cristina, estou com raiva
daquela sirigaita, Solange, tem um caso com de seu pai!
- Mas mamãe, só agora que a
senhora está reclamando das namoradas do papai. Você sempre foi permissiva.
Papai, o maior boêmio da cidade, mulherengo, todos conhecem essa fraqueza. A
senhora, em mais de 30 anos de casados, nunca reclamou. Meu Pai, ainda hoje,
mais de sessenta anos, sai à noite para jogar baralho com os amigos. A senhora
sabe, depois do pôquer, eles partem rumo aos encontros marcados.
- Sei de tudo menina, meu
caso é uma história de amor, poucos entendem, não sou tola, como muitos pensam.
Em minha adolescência conheci Everaldo, quase 10 anos mais velho, me apaixonei.
Ele fazia Faculdade de Direito, um homão, alegre, encantador, sempre gostou de
viver. Na época do carnaval ninguém lhe segurava. Quinze dias antes iniciava a
Maratona Carnavalesca na Rua do Comércio. Toda noite ele partia alegre para
Maratona, em cada esquina um palco com orquestra de frevo, o corso de carros
abertos rodeando, Everaldo preferia dançar no meio dos foliões, as mulheres davam
em cima, era o homem mais bonito de Maceió. Certa noite, eu tinha 14 anos, seu
avô me levou para o carnaval na
Rua do Comércio. Ficamos em pé apreciando o povo passar, em frente ao Cine São
Luiz. Certo momento Everaldo me viu, aproximou-se, disse para papai. "Seu Joaquim quando sua filha crescer
mais um pouquinho, vou casar com ela", saiu se requebrando dentro de
uma camisola de cetim. Eu me senti a mulher mais feliz do mundo, quase não dormi.
O tempo passou tornei-me uma bela mulher. Lembro bem, eu tinha 19 anos, em uma
festa na Portuguesa, Vanúsia cantava: "Quando
o carteiro chegou e o meu nome gritou com uma carta na mão. Ante surpresa tão
rude, nem sei como pude, chegar ao portão..." De repente uma mão forte segurou a minha,
olhei, Everaldo levantou-me em direção ao dancing, me abraçou, dançamos sem
conversar, apenas sorríamos. A partir daquela noite ficamos namorando, era só
felicidade, mal escutava minhas tias, primas, conhecidas, nos ouvidos: "Você namorando com Everaldo, o maior
mulherengo da cidade, não vai lhe respeitar, quando terminar o namoro, ninguém
mais lhe quer", e coisas
parecidas. Eu estava feliz, o mundo podia se acabar. Quase um ano de namoro,
tivemos que casar, grávida de você. Fomos morar numa casa do velho Joaquim na
Pitanguinha, Everaldo trabalhava, advogado solicitado, sabe empolgar com um
discurso. Seu pai é um homem fascinante. Sei que não é santo. Nunca quis casar
com santo. Essa história você não sabe, mês passado aportou um navio de
turista, ele com amigos foram tomar chope, se distraíram, o navio deixou o cais
de Maceió. Pela manhã me avisou no celular, estava em Salvador. Na segunda
feira quando cheguei do trabalho pela tarde a casa estava repleta de flores e velas,
ele me abraçou, nos amamos como nunca mais fizemos. Noitada maravilhosa, graças
aos chopes do navio.
- Mamãe, disso eu sei, desde
que me entendi como gente, você casou-se com o maior boêmio da cidade, sabendo
que seria a maior corna de Maceió. Cada um procura sua cruz. Hoje a senhora veio
reclamar de papai, aliás, a primeira vez na vida vejo a senhora criticar papai,
o que houve mesmo?
- Não estou reclamando de Everaldo,
menina. Estou irada com a sirigaita da Solange , tem um xodó com seu pai. Pelo ouvido
na espreita de telefone, a ridícula vai casar e acabou com seu pai. O bichinho
há uma semana está triste, ninguém gosta
de ser chutado. O que ela pensa? Quem é ela para dar um fora em seu pai? Aquela
cretina jamais encontrará outro homem que nem Everaldo. Jamais!
- Mamãe...
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