O XEXEIRO
Jaraguá -
antigo bairro boêmio
Era uma vez em
Maceió um rapaz chamado João Fortunato, conhecido como "Joãozinho Caga
Rua", quando mais jovem deu-lhe uma dor de barriga na rua, ali mesmo
baixou as calças, deixou sua marca no meio-fio, daquele dia até hoje atende por
esse apelido. Amante da boemia e do carnaval, certa vez, em ensaio noturno, o
Bloco Cavaleiro dos Montes arrastava foliões cantando e dançando pela Avenida
da Paz. João, feliz da vida, agarrado à uma bela jovem desconhecida, dançava o
frevo com maestria. O bloco tomou rumo ao bairro boêmio de Jaraguá.
Ao passar pelo
corredor de Jaraguá, a bela acompanhante de João se identificou. Vera era
“inquilina” da Boate Alhambra, fazia a vida naquele antigo casarão, convidou
João a subir ao cabaré. Entre surpreso e alegre, prontamente galgou as íngremes
escadas do lupanar . De paquera no bloco, achou-se no direito, sentiu-se
namorado, mesmo sem dinheiro, convidou-a para o quarto.
Depois do amor, a jovem rapariga cobrou pelos
competentes serviços. João confessou, não tinha dinheiro, pensava ser de graça.
Vera falou braba, ele tratasse de arranjar o pagamento, pegou calça, cueca,
camisa e sapato de João, entregou ao Leão de Chácara da Alhambra (segurança),
só devolvia quando pagasse.
Joãozinho não
teve o que pensar, nu, abriu a porta do quarto, desceu as escadas aos pulos, a
rapariga gritava: “Xexeiro, Xexeiro...”
Nove da noite, a Boate Alhambra começava a funcionar.
O Leão de Chácara
não conseguiu alcançar João, excelente atleta, exímio jogador de futebol. Sua
nudez foi notada pelos passantes, olhavam incrédulos. Joãozinho continuou
correndo pela rua até desembocar na Avenida da Paz . Surpresa, não podia
continuar, as rodas de famílias conversando, cadeiras na calçada, era costume
na cidade, antes da televisão.
Um homem nu passando
seria excitante novidade naquelas rodas de conversas, entretanto, João escondeu-se
atrás de um poste. Olhou em frente , meninos brincavam, jovens namoravam nos
bancos, a Avenida da Paz, à noite, era uma festa. João encontrou uma solução , partiu em
direção à praia iluminada, Lua cheia. Correu na areia fofa, branca, fria, até
encontrar solo de areia dura, molhada, beira mar, onde alguns jovens jogavam
futebol sob o luar. Ao se aproximar devagar, a meninada percebeu, ouviu-se a
gritaria: “Um homem nu! Um homem nu!”. Imediatamente Joãozinho correu,
mergulhou no mar, água tépida, deliciosa, era noite de verão.
Nosso herói
ficou por muito tempo curtindo gostoso banho noturno, deixava o corpo nu ser
levado pelas pequenas ondas, não havia pressa. Naquele momento, olhando pro céu
prateado pela Lua cheia, deslumbrou uma cintilante estrela, sentiu-se dono do
mundo, do universo, poeta, seresteiro, no seu encantamento, começou a cantar para
o infinito: “A estrela Dalva... no céu desponta... e a lua anda tonta... com
tamanho esplendor... as pastorinhas pra consolo da lua... vão cantando na
rua... lindos versos de amor...”
Por volta da
dez horas da noite, depois de tomar uma fresca, as famílias recolheram-se, os
jovens cansados das brincadeiras foram dormir, os namorados, depois do xumbrego,
excitados, se auto aliviavam. Joãozinho
esperou um pouco, onze horas, apenas
alguns boêmios passavam em direção às boates de Jaraguá, dar expansão aos
instintos e fantasias.
Afinal nosso
herói saiu do mar, corpo molhado, dedos engelhados. Sentiu o vento, tremia de
frio. Andou, correu, pulou, recuperou-se. Caminhou pela praia. Retornou às
calçadas na Praça Sinimbu, pouca gente na rua.
Correndo de poste em poste, Joãozinho, nu, conseguiu chegar em sua casa
na Rua da Alegria. Recebeu a devida descompostura do pai, no fundo se orgulhava
em ter aquele filho boêmio, cheio de histórias e picardias. Dia seguinte, o pai deu-lhe o dinheiro, não
queria filho desonesto, xexeiro, a moça merecia o pagamento. À tarde, Joãozinho resgatou suas roupas, seu
sapato de coro de jacaré. Contou a Vera sua aventura noturna, ela caiu às
gargalhadas, amaram-se novamente, dessa vez , não houve a devida recompensa
pecuniária.
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