RONALD MENDONÇA
MÉDICO. MEMBRO DA AAL
Depois que o coração humano deixa de bater, algumas vezes, tenta-se a reanimação. São manobras ditas “heroicas”, que no jargão médico deixam claro que na maioria das vezes não dão certo. O boca à boca, tão ao gosto dos noveleiros, mui raramente é aplicado. A tentativa de oferecer um aporte de oxigêno a quem está praticamente morto, através do boca à boca, mesmo quando protagonizam Angelina Jolie e Brad Pitt, não tem a eficiência da entubação orotraqueal. Só nos filmes e novelas.
O choque elétrico aplicado no tórax, injeções de adrenalina no próprio coração e a tradicional massagem “esmagando” o coração contra a coluna vertebral eventualmente conseguem reverter o que parecia inapelável.
Trata-se de um trabalho de equipe. O massageador cansa e precisa ser trocado, nos casos em que essa manobra dá indícios de que está funcionando. Mas chega um momento em que as pupilas se dilatam e denunciam que o caso é irreversível. O cérebro morreu.
Nosso corpo não morre ao mesmo tempo. Já vi córneas retiradas de doador várias horas depois do óbito. Rins e outras vísceras também resistem certo tempo depois do adeus à vida. Posso afirmar que o cérebro é muito sensível, mesmo assim, há áreas mais resistentes.
Por que estou a estragar o sábado dos leitores com assunto tão mórbido? Poderia falar sobre a beleza da lua, a maravilhosa orla da Pajuçara, o farfalhar harmonioso dos coqueirais... O instigante cantar das bem-te-vis... Ou então, dos indescritíveis prazeres orais e anímicos que uma garrafa de vinho tinto encorpado produz...
Poderia ser mais prático e mais cínico e dizer que o País está muito bem com a Dilma e seus quarenta auxiliares... Que a crise no Brasil é fabricada pela mídia hegemônica, rancorosa, golpista e oligárquica, mídia essa instrumento do capital rentista. Nunca houve desvios na Petrobrás. Nunca houve mensalão. O mal-intencionado ultraliberalismo, despeitado com a moral e a ética do PT, forjou essa crise de forme torpe, usando golpes baixos, fazendo gol de mão...
Ocorre que o desemprego campeando, o dólar nas nuvens e a presidenta nas cordas sinalizam que o Governo está vivendo às custas de choques elétricos e massagens cardíacas. Desmoralizada, d. Dilma acredita que o boca a boca com o PMDB vai salvar seu mandato. Há órgãos que já morreram. Vão sobrar cacos. Nem a córnea vai servir.
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