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sábado, 5 de setembro de 2015

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

LEMBRANDO ALFREDA

RONALD MENDONÇA
MEMBRO DA AAL

 Alfreda ou Fredão, para os íntimos, foi uma das mais queridas amigas de infância. Literalmente, crescemos juntos. Ela era filha única, órfã de pai (um engenheiro especialista em ferrovias), sua mãe nunca se concedeu olhar para outro homem.
O engenheiro deixara uma boa pensão e bens suficientes para uma vida sem atropelos. Parece que estou a ver dona Melinha. Esquálida, suspirosa, olhos azuis encovados, encravados numa fisionomia com  precoces sulcos, num rosto razoavelmente bonito.
Alfreda, nossa parceira de memoráveis rachas no Sete Lobão (uma clareira em forma de bacia encravada na “Mata do Leão”), tinha o tronco forte, seios pequenos, braços musculosos e temidos por todos. A natureza deteve-se justo no momento em que a tornaria bonita. Era o(a) nosso(a) principal artilheira (o). Chutava com os dois pés indiferentemente. Juro que não estou sendo leviano, mas Alfreda jogaria em qualquer clube de Alagoas. Era titular absoluta do Bebedourense e do Juventus.
A convivência de Alfreda com os garotos causava uma certo espanto no pacato Bebedouro. Lembro de alguns arranca-rabos. Com efeito, companheiros um pouco mais velhos ensaiaram  carícias mais ousadas e não autorizadas, abaixo da linha de cintura de Fredão. O resultado foi quase catastrófico. Nossa amiga andava com um canivete japonês, cujo habilidoso manejo botava pra correr o mais destemido dos Casanova.
Nem só de futebol vivia a rapaziada bebedourense. Aos sábados curtíamos o 20 de julho, clube social frequentado pela ala leste do bairro. Apesar dessa convivência com os rapazes, Alfreda também tinha prestígio entre as garotas. Sabia inglês, um  diferencial naqueles tempos de monoglossia e de poucas escolas particulares. Por isso, era chamada a dar aulas às meninas. Tinha fama de boa professora.
Há muitos anos, o 20 de julho era dirigido  pelo “seu” Melé. Não era um mau presidente, contudo, depois de quase um decênio, urgia providenciar um substituto. Melé era tão poderoso e tão respeitado que elegeria quem ele quisesse. Ninguém parecia bom suficiente para substituir o lendário Melé. Botou um anúncio no jornal e convocou uma reunião para definir a sucessão. A essa altura nossa Alfreda pisara em outros solos, mas nunca esqueceu as origens. Sua elegante presença de terninho e gravata impressionou a todos. Melé não resistiu quando ela sacou da bolsa uma minimáquina de datilografia. Não havia mais dúvidas, Fredão era a grande gerente que comandaria o 20 de julho. Em um ano de gestão, nossa amiga conseguiu “quebrar” o único lazer que o bebedourense tinha. Era uma incompetente de carteirinha.


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