quinta-feira, 6 de agosto de 2015

UM TEXTO DE RONALDO LESSA

Pais e filhos
Por: » RONALDO LESSA – engenheiro e deputado federal (PDT-AL)
Com o passar dos anos, as homenagens esmaecem na memória da sociedade, mas os próceres sobrevivem em ruas e monumentos. São nomes de homens e mulheres que tiveram grande impacto sobre a vida de todos num determinado momento da história. Poucos sabem hoje quem foi Fernandes Lima (governador de Alagoas entre 1918 e 1924) ou Silvio Viana (tributarista assassinado há 19 anos em função das suas ações fiscalizadoras) ou Geraldo Melo – apesar de transitarem diariamente por ruas e avenidas que levam seus nomes. A lembrança deste último evoca em mim um misto de saudade e orgulho, principalmente com a proximidade do dia dos pais.

A ladeira da antiga rodoviária leva à parte alta de Maceió. Ali, no bairro da Pitanguinha, convivi 16 anos com meu pai, Geraldo Melo dos Santos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal resolveu batizar a ladeira com seu nome. Não há como passar por ali sem lembrar do advogado dedicado, pai de família austero, mas que sabia distribuir afeto com os sete filhos e a esposa, Noélia Lessa; um homem que se tornou referência para a comunidade em função do seu altruísmo e boa vontade. Foi diretor jurídico da SERDESTE (Serviço Regional do Nordeste), órgão da Petrobras que cuidava exploração do petróleo em Alagoas e Sergipe. Mesmo ocupando um cargo de relevância nunca deixou de atender quem o procurava – por várias vezes usou o próprio carro para transportar pessoas precisando de atendimento médico.

Em 1966, já doente, um pouco antes de falecer, chamou-me e entregou uma lista de obrigações que deveria assumir depois que ele se fosse, confiava em mim para cuidar da família. Morreu com apenas 39 anos, depois de uma cirurgia em São Paulo. Não quis rever a lista. Havia internalizado o que ele pedira e honrei o compromisso. Nunca se envolveu em política, mas deixou-me preceitos que sigo até hoje, exercitando-os nos vários cargos públicos que ocupei.

Nesse dia dos pais, lembro do passado olhando para o futuro, para meus filhos, Nina e Nivaldo, e para meus afilhados. Quando estudiosos dizem que o esgarçamento da família é, em parte, responsável pela violência na qual estamos mergulhados, vem mais forte a imagem do Dr. Geraldo Melo, a maneira como soube manter unida a família e como também soube ser solidário com outrem. Para ser pai não basta apenas ser a matriz biológica, é necessário ir além, é tomar para si o cuidado com os demais. Era assim que agiam os mestres professores, formando gerações. É assim, por mais que se pense o contrário, que devemos conduzir nossas vidas.

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