segunda-feira, 10 de agosto de 2015

UM TEXTO DE PAULO RAMALHO DE CASTRO


AVENIDA DA PAZ DOS MENINOS NOS IDOS DE 1950

Estava no domingo próximo passado no Auditório do Instituto Histórico, participando do “Concerto aos Domingos”, idealizado, coordenado e comandado pela brava Selma Britto, assistindo a uma apresentação de uma grande pianista, quando chega o amigo irmão de infância Carlito Lima, senta ao meu lado e perguntou:

- Começou hoje às 9 horas?

E eu respondi:

- Não, começou no horário normal às 10 horas, já são 10:45 horas.

Ele olhou para o relógio e disse:

-Pensei que fosse 15 minutos para às 10 horas.

Então eu arrematei, arrancando sorrisos dele:

-Cuidado com o alemão!

Acredito que a chegada do amigo irmão de infância da Avenida da Paz, e a apresentação de pianista, veio à lembrança os carregadores de piano que passavam na avenida, com o piano na cabeça, protegida com uma rodilha de pano, cantando para não errar o passo, e não desafinar o piano.

Por que não lembrar também dos bondes que circulavam pela avenida, havia os de passageiros e os cargueiros, esses foram os primeiros saírem de circulação, tinham a laterais fechadas, apenas janelas na parte superior e porta de acesso, eram mais utilizados por pessoas com bagagens, cestas com compras efetuadas no marcado.

E os carregadores de malas e bagagens da Estação Ferroviária, como já consta em outro escrito, quando chegávamos das férias em União dos Palmares, pegavam nossas malas e bagagens e levavam para nossa casa, sem que tivéssemos que acompanhá-los.

E os vendedores de sorvete e picolé, que nos vendiam na avenida, na Rua Silvério Jorge, na praia, e depois iam receber o dinheiro em nossas casas.

O verdureiro, vendendo de casa em casa, uma variedade de verduras e algumas frutas.

O vendedor de peixe, fresquinho, pescado em jangadas ou nas redes lançadas ali defronte na praia.

As vendedoras de sururu de capote e despinicado.

O vendedor de massa puba a gritar:

-Massa puba é a boa.

O vendedor de beiju, grude, pé de moleque, tapioca, entre outros, feitos em Riacho Doce.

Os entregadores de leite, pão e bolacha que colocavam nas portas de nossas casas.

O engraxate que passava com freqüência em nossas casas, deixando nossos sapatos como novos.

O soldador de panelas.

O amolador de tesouras, tocando pequena gaita, anunciando sua chegada.

O comprador de jornal velho, garrafas e latas vazias.

O guarda civil que zelava pela paz na avenida.

Tudo isso o tempo acabou, mas não conseguiu apagar de nossa memória, tão bom foi aquele tempo.

Finalizo este texto saudosista com parte de um poema do “Poeta da Infância”, Cassimiro de Abreu, que assim escreveu: “Oh! que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais!(...)”.

Aos queridos amigos irmãos da avenida, beijo no coração de todos, e fiquem com Deus.
                         Paulo Ramalho-03/08/2015
                         Pramalho.castro@oi.com.br


                       
                     


Nenhum comentário:

Postar um comentário