Por: » MARCOS DAVI MELO – médico e membro da AAL e do IHGAL
Questionado em um acirrado debate sobre sua costumeira tolerância, Voltaire expressou-se veementemente: “O que é a tolerância? É o privilégio da humanidade. Todos nós somos plenos de fraquezas e de erros; perdoemo-nos mutuamente nossas loucuras! “
Não frequento as redes sociais na internet, mas sei que a radicalização entre defensores e opositores do governo, ali, é insana. Que os graves problemas enfrentados pelo Brasil e que resultaram nas crises econômica e política atuais têm uma ou várias causas todos sabem, a questão é: como enfrentá-las.
Daí, se a discussão avança para a radicalização, os liberais, na acepção americana do termo, evitam dela participar, pois o Estado liberal originou-se na busca de um modus vivendi decorrente de um projeto de tolerância que começou na Europa do século XVI.
Desde então, o liberalismo sempre teve e terá duas faces. Por um lado, a tolerância é a busca de uma forma de vida ideal, racional e consensual. Por outro, é a procura de termos de paz e coexistência pacífica entre diferentes modos de vida, refletindo o pluralismo da sociedade.
Os pensadores liberais nunca foram demasiado otimistas quanto às possibilidades de as pessoas alcançarem um acordo em suas crenças sobre o melhor modo de vida. Sempre estiveram muito conscientes da força das paixões para considerarem a razão como algo mais que um fator bem frágil nas questões humanas.
Mesmo assim, o liberal continuará aberto ao diálogo, conforme John Stuart Mill alertou: “Todo silenciamento de discussão é uma pretensão de infalibilidade”. Mill tinha em mente o fato de que os argumentos devem estar constantemente sujeitos à crítica, ao dissenso; ao contrário, terminam por ser “sustentados como um dogma morto e não uma verdade viva”; consequentemente, o liberal resiste às utopias e ampara-se na observação da realidade e nos exemplos da História. Sustenta-se nas evidências dos fatos, tal qual ocorre na ciência.
O liberal autêntico é tolerante com as ideias contrárias, mas jamais será tolerante com os desvios de conduta, como o fisiologismo e a corrupção. Mas sua tolerância fica em alerta quando os radicais incitam a violência, visando intimidar os que almejam o pleno funcionamento das Instituições, do Estado de Direito e a consolidação da democracia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário