segunda-feira, 20 de julho de 2015

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

POESIA E CRISE

RONALD MENDONÇA
MÉDICO. MEMBRO DA AAL

 
Minha pobre alma bebedourense encheu-se de inefáveis emoções ao ler, na Gazeta de Alagoas do dia 17/07/2015, o romântico ensaio do poeta Diógenes Tenório, ilustre colega da Academia Alagoana de Letras. De fato, com a sensibilidade a queimar a pele, “A flor do meu bem-querer”, como disserta o nosso Djavan, “Tem um quê de pecado/ acariciado pela emoção...”
Gostaria de escrever coisas assim, suaves e doces que cochichem aocoração... Mãos calejadas pelas milhares de trepanções cranianas, embora emocionantes, que esperar de alguém que faz do cutelo seu instrumento de trabalho? Como irei transformar em poesia o rútilo líquido que ameaça roubar a vida de alguém?
Assim, conformo-me com a mediocridade da planície sem querer mal aos parnasianos. Leio, por exemplo, quase sem acreditar, que o presidente da Câmara teria cobrado uma propina de cinco milhões de dólares. E, no entanto, Eduardo Cunha se apresenta como um homem honrado...
Apesar dos poetas, o País está em crise. É a pior delas? Nunca. Apesar de os meus coleguinhas não gostarem do que eu vou falar, os meses que antecederam o golpe militar de 1964 foram assombrosos. Durante cerca de dez anos, até a crise do petróleo de 1974, conhecemos prosperidade. Ganhamos a Copa de 70. Em 1974, em atuação bisonha, fomos desclassificados pela Holanda (2 x 0 ). O “milagre brasileiro” despencaria e ondas de insatisfações populares pipocaram, culminando com as gigantescas passeatas de 1985.
O que eu quero dizer: enquanto houve bem estar econômico o país conviveu com a ditadura, oferecendo um quase irrestrito apoio. Nesse aspecto convém relembrar que o Nordeste foi um capacho. Democratizamo-nos de forma esquisita e já no governo de Sarney tivemos inflação de mais de 80%.
Dizer que a Petrobrás é saqueada desde FHC é ingênuo e mal-intencionado. A Petrobrás deve ter sido pilhada desde Getúlio Vargas. Foi justamente por isso que o povo elegeu o candidato (da “ética e da moral”) que denunciava tudo isso. Não fazia parte das suas promessas de campanha continuar a meter a mão no nosso bolso.
Hoje, a crise é sobretudo moral. Por isso parece maior. Nossa presidente, sob suspeição, marca reunião com o presidente do STF fora do nosso território. A pauta, inconfessa, relacionar-se-ia com a liberação dos mega-empresários das empreiteiras, abocanhados pelo Lava Jato. A desconfiança é generalizada.

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