domingo, 12 de julho de 2015

UM TEXTO DE ALBERTO ROSTAND

PRIVILEGIO 
               
Alberto Rostand Lanverly

Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL
           
            Muito cedo, ainda, entendi ser a vida um contrato de risco, não existindo jornadas sem acidentes. Talvez por isto aprendi a buscar no dicionário o correto significado das palavras, não somente para evitar erros, como para aplicá-las corretamente em meu cotidiano. Ouvir e escutar, entender e compreender, são alguns exemplos dos termos pesquisados.
            Segundo o regimento em vigor, da Academia Alagoana de Letras, uma das atribuições do vice é substituir o presidente em suas ausências. Estando o atual dirigente mor da Casa, Carlos Mero, afastado de Maceió, em viagem de férias, durante este mês de julho, coube-me presidir a reunião ordinária mensal.
            Imbuído de tal responsabilidade, estava organizando a pauta a ser seguida, quando a palavra privilégio me veio à mente. Como de costume, apesar de conhecê-la, busquei no Mestre Aurélio inteirar-me do que ali estava escrito, convencendo-me do significado do termo ser bem mais amplo que as poucas linhas gravadas no famoso dicionário.
            Para mim, viver já é um privilégio, mas poder vislumbrar nos olhos de meus semelhantes neles enxergando a amplitude do céu com sua beleza integral, é entender que o ato de olhar está ao alcance de todos, embora conseguir ver pertença a poucos. É saber que diante de tantas virtudes dadas por Deus, possuímos o dom de sonhar a mais bela de todas elas: saber que temos a capacidade de lutar para realizarmos aquilo com que sonhamos.
            Os sonhos não determinam o lugar onde haveremos de um dia chegar, embora produzam a força necessária para nos tirar do local onde nos encontramos e começar a nos mover rumo às nossas expectativas. Tempos atrás, pertencer à Academia Alagoana de Letras, como sócio efetivo, era como imaginar que um prédio, por mais alto fosse, conseguiria tocar nas nuvens e nas estrelas. Mas, aconteceu... e cá estou eu ocupando a cadeira de número três, que tem Ambrósio Lira como patrono.
            Ao longo de minha existência convivi com grandes privilégios. Por este motivo entendo ser este um assunto espinhoso, especialmente para quem os possui. Asseguro, porém, que haver presidido, mesmo por uma única vez, a Reunião Ordinária da Academia Alagoana de Letras, foi uma honraria sem igual. Inesquecível...
            Dizem ser difícil a vida do privilegiado, porque ele não consegue expor seus sentimentos sem ser olhado de forma diferenciada, por seus pares. Muito pelo contrário, imagino que jamais conseguiria dirigir o mencionado evento, sem ter a meu lado, sempre me incentivando e dando forças, os demais sócios efetivos da AAL, a nata da cultura alagoana, nos tempos atuais, antecedidos naquele sodalício por figuras imortais, como Medeiros Neto, Ricardo Ramos, Carlos Moliterno, Guedes de Miranda, Heliônia Ceres, Ib Gatto, Theo Brandão e tantos outros ícones da literatura de todos os tempos, nesta terra dos Marechais.
            Pablo Neruda um dia falou: “se não puderes ser um pinheiro, no topo da colina, sê um arbusto no vale, mas sê”. Tenho certeza que fui... me considero um privilegiado pelo dever cumprido e agradeço a meus colegas da casa, a força que me deram..!

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