terça-feira, 16 de junho de 2015

UM TEXTO DE SEBASTIÃO NERY - GAZETA DE LAGOAS


O REIZINHO DO BNDES


RIO – Meses depois da renúncia em agosto de 1961, Jânio Quadros voltou da Europa em 1962 e se candidatou a governador de São Paulo, com um slogan do saudoso deputado baiano, cassado em 1964, João Dória: 

– “A renúncia foi uma denúncia”.

Por sugestão de José Aparecido de Oliveira, Luís Lopes Coelho, presidente do “Barzinho do Museu”, em São Paulo, reuniu alguns jornalistas e intelectuais amigos, de São Paulo e do Rio, na casa dele, para uma conversa com Jânio: Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Mário Neme, Darwin Brandão, eu, outros. Jânio estava alegre, até que Darwin perguntou:

– Presidente, o senhor prometeu que, quando voltasse da Europa, denunciaria as “forças ocultas” que o levaram à renúncia. Quais foram?

Jânio ficou irritado:

– Meu caro Darwin, não falei em “forças ocultas”, mas em “forças terríveis”! É o que disse. E mantenho. Forças muito poderosas!

Revirou os olhos e se calou. Pegou o uísque, levantou-se, chamou Paulo Mendes Campos a um canto da sala:

– Meu caro Paulinho, quero dizer-te uma coisa. Não é fácil renunciar a tanto poder. O presidente, neste País, meu caro Paulinho, é um rei. Fui um reizinho! Um reizinho, Paulinho, tu sabes!

A reunião acabou. Sobre a renúncia, nada. Morreu sem explicar.

LULAO Brasil está com um reizinho de coroa suja, agora enlameada na Operação Lava Jato. Lula saiu do governo e criou algumas arapucas para fabricar dinheiro fácil. Ele diz que o Instituto Lula e o LILS (Palestras, Eventos e Publicidade) são para articular suas ‘conferências’. 

Mas que ‘conferências’? Quando, onde, sobre que assunto? Ele chama de conferências suas baboseiras nas reuniões do PT. Quem já assistiu a uma conferência de Lula? Ele não faz conferências. Faz ‘transferências’. Só a Camargo Correia transferiu 3 milhões de dólares para o cofre do Instituto Lula e mais 1 milhão e meio para o cofre do LILS. 

Apesar da conhecida esperteza do reizinho, o escândalo ia acabar nas manchetes dos jornais, como Globo, e capas de revistas, como Época e Veja. 

BNDES

Todo reizinho tem seu trono. O de Lula está instalado no BNDES. É lá que ele fatura seus lobes viajando pela América Latina e África nos jatinhos das empreiteiras, de preferência a serviço de um ditador corrupto.

1. No primeiro trimestre deste ano, o BNDES tinha R$ 202 bilhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador, 40% do total dos recursos do FAT. Com a transferência de dinheiro do Tesouro, o banco tinha uma carteira para investimentos de R$ 500 bilhões. O governo paga a taxa Selic de 13,75%, ao ano, elevando a dívida pública, pela transferência de dinheiro caro para subsidiar os banqueiros ‘amigos’. 

2. As dez maiores empresas brasileiras concentram 40% dos recursos destinados aos investimentos interno e externo. Juros baixos e prazos longuíssimos caracterizam esses empréstimos. A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) hoje está em 6% ao ano, com prazos variáveis de 10 até 25 anos. Nos últimos anos, as empresas apelidadas de ‘campeões do desenvolvimento’ concentraram a quase totalidade dos investimentos. 

3. Obrigado pelo TCU e STF, o BNDES divulgou obras realizadas por empresas brasileiras de engenharia. Elas têm do banco, lá fora, crédito mais barato do que os praticados quando o investimento é realizado no Brasil. Aqui, na área de infraestrutura, o financiamento mais barato é o Programa de Investimento em Logística (7% ao ano). Em Honduras, em junho de 2013, em financiamento de US$ 145 milhões, o BNDES fixou juros em 2,83%. Em Angola, os juros foram de 2,79%.

MÃE DILMA

4. O BNDES investiu US$ 11,9 bilhões em projetos das empreiteiras lá fora. As maiores beneficiárias são Odebrecht (US$ 8,2 bilhões, 69% dos recursos), Andrade Gutierrez (US$ 2,81 bilhões), Queiroz Galvão (US$ 388 milhões); OAS (US$ 354 milhões); Camargo Correa (US$ 255 milhões).

5. O BNDES, com garantia do Tesouro, a taxas de juros ‘amigas’, opera em Angola com empréstimos de US$ 3.383 bilhões e juros de 5,32%; na Venezuela, US$ 2.252 bilhões e juros de 4,29%; na República Dominicana, US$ 2.204 bilhões e juros 4,85%; na Argentina, US$ 1.872 bilhão e juros de 4,83%; e em Cuba, US$ 847 milhões e juros de 5,38%. 

6. Em Moçambique, US$ 444 milhões e juros de 4,89%; na Guatemala, US$ 280 milhões e juros de 4,94%; no Equador, US$ 228 milhões e juros de 3,75%; em Gana, US$ 216 milhões e juros de 3,75%; em Honduras, US$ 145 milhões e juros de 2,83%; e Costa Rica, US$ 44,2 milhões e juros de 4,07%.

Aqui dentro é a ‘Mãe Dilma’ do PT. Lá fora, a ‘Filha de Lula’. 

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