OS DOCES DE NOSSA INFÂNCIA
Ao Petrúcio Codá
Uma
das melhores coisas da vida é comer, seja qual o sentido. A arte culinária é
peculiar, tem suas características. Nessa cidade de Nossa Senhora dos Prazeres,
Maceió, comidas estão entre os melhores prazeres. Comer faz parte de nosso
lazer, de nossa cultura. Lembrando o Bispo Don Pero Fernandes Sardinha, devorado,
em apreciado banquete antropofágico nas areias brancas da praia de Barra de São
Miguel por nossos ancestrais, os índios caetés.
Nossa juventude
foi marcada por pratos e doces inesquecíveis. Ainda tenho em minha mente, em
meu paladar, alguns feitos em casa por minha mãe, excelente cozinheira,
caprichava nos almoços dominicais, caruru, galinha à cabidela, arabaiana ao
olho de camarão ou feijoada de feijão mulatinho incrementada com charque,
toucinho, tripa de porco, linguiça, carne do sol, couve, jerimum, quiabo,
maxixe.
Havia pratos,
hoje preparados em óleo vegetal, na época cozidos com banha de porco, o
sarapatel, o fígado e o bife de panela. Sem
esquecer do cozido, das macarronadas e peixadas de todo tipo.
Quando
íamos ao centro da cidade invariavelmente lanchávamos em sorveterias da moda, Bar e Sorveteria Elegante em frente
ao Beco do Moeda, frequentado pela classe média. Mesas de ferro com tampo de
mármore, sorvetes de frutas regionais e pudins servidos em taças de metal
niquelado.
Depois do
sorvete, o chocolate caseiro em barras, duas cores, vendido pelo Seu Portela na
loja especializada em óculos, vendia mais chocolate que óculos. Às vezes o
sorvete de chocolate crocante na Sorveteria Xangai de Seu Fon, Rua da Alegria.
Ainda sinto o gosto e o cheiro das doces de
nossa infância, ficaram para sempre entranhados nas narinas e glândulas palatares.
Acrescento à lista, os ambulantes que passavam na praia da Avenida da
Paz. Depois do almoço ficávamos à espera de Seu Primitivo empurrando o carrinho
de sorvete. Sempre dois sabores, coco e maracujá, coco e mangaba, coco e cajá,
coco e goiaba, ele raspava o sorvete com uma colher enchendo o carlito
(casquinha). Era nossa predileta sobremesa.
Ao entardecer, o China aboletava o tabuleiro
de quebra-queixo embaixo de alguma amendoeira na Avenida, nós, tostões contados,
encantávamos com a rapidez do corte vertical, um pouco inclinado, em pedaço de
papel colorido ele entregava o quebra-queixo, cocada dura queimada com
amendoim.
A moçada se deliciava com o algodão doce,
rodado na hora numa panela com fogo, esquentava o açúcar fazendo enorme nuvem
de algodão. Complementava tomando um raspadinho, gelo raspado dentro de um copo
cheio de garapa de coco, maçã ou misto, uma delícia. E o caldo de cana, caiana!
Defronte
ao coreto havia um futebol organizado. Depois do banho-de-mar, os jovens
iniciavam papos e paqueras sentados na areia. Invariavelmente aparecia o
Gaguinho empurrando o carrinho de sorvete XAXADO, uma delícia feita de frutas
nordestinas. Gaguinho parava na roda oferecendo seu delicioso sorvete e picolé:
“Quem vão quererem? Quem vão quererem?
Podem pedirem!”
Ele vendia fiado, na hora do almoço passava na casa
de cada um com a conta do sorvete consumido.
As tardes
na Rua do Comércio eram imperdíveis, jovens encostados nos automóveis (limpando
carro) curtiam as meninas, flertando, marcando encontro nas Sorveterias DK-1 e
Gut-Gut, saborosos sorvetes de frutas de todas as qualidades, ponto de encontro
da moçada bonita.
Quando o
Comércio fechava, eu descia rumo à minha casa, parada obrigatória na esquina do
trilho de ferro, ao lado do Arcebispado, saboreava um suco maracujá com pão
doce. Nunca ninguém no mundo até hoje conseguiu fazer um suco igual àquele, o
sumo da divindade. Os deuses da gula em vez de água devem beber aquele
maracujá.
É preciso
um estudo mais profundo sobre comidas, salgados e doces dos anos dourados, fazem
parte de nossa história.
A
modernidade acabou com os doces de nossa infância, prolifera no mundo as
lanchonetes dos Shoppings, sanduíches com gosto de sola de sapato, sofisticadas
fábricas de obesidade inventadas pelos americanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário