sexta-feira, 5 de junho de 2015

A prostituta que conhecia todas as posições do Kama Sutra - EDILSON PEREIRA - PARANÁ


Depois de ler o anúncio e pensar um pouco, Jânio perguntou para o sujeito: “Você tem certeza de que ela conhece todas as posições do Kama Sutra?”. O cara respondeu: “Tenho. Pode ir lá conferir. Não é propaganda enganosa. E ela é gostosa”. Jânio disse que ia conferir. Ele guardou o anúncio no bolso e acelerou o passo em direção ao escritório. Estava atrasado e o problema agora era o chefe. Mas quando chegou ao escritório, soltou suspiro de alívio. O chefe não chegara. Jeine disse que ele ligou para avisar que ficou preso no trânsito.
Jânio perguntou para Jeine, para provocá-la: “Jeine, quantas posições do Kama Sutra você conhece?”. Jeine arregalou os olhos: “O quê?”. Aquilo era pergunta que fizesse para moça direita? Ele mostrou o anúncio, ela olhou e disse: “Eu devo conhecer três ou quatro. Talvez cinco ou seis. E não estou interessada em ampliar meu conhecimento na área. Depois, eu duvido que esta dona conheça o Kama Sutra, embora acredite que ela conheça bom número de posições”.
E com aquelas observações Jeine encerrou o assunto do Kama Sutra. Pelo menos no escritório. Ela devolveu o anúncio. Jânio pegou o anúncio e decidiu ir ao bordel conferir se a garota de programa conhecia todas as posições do Kama Sutra. O chefe chegou e perguntou: “Como estão as coisas aqui?”. Jeine disse tudo bem. Jânio estava ao telefone. No fim de semana, ele foi ao bordel. No meio da tarde ligou para o número. Ele não esperava uma Belle de Jour, claro.
Mas a dona não era de jogar fora. Era uma cavala. Morena de cabelos negros, grandes olhos e lábios carnudos. Ela apareceu fumando e perguntou se ele era o Jânio que ligou meia hora antes. Ele disse que sim e cismou que ela era perigosa. O que não era bom porque Jânio nunca achou mulheres perigosas excitantes. Ele perguntou: “Você manja todas as posições do Kama Sutra?”. A dona deu uma tragada no cigarro, soltou a fumaça e respondeu fazendo cara de devassa fatal: “Manjo. Uma por uma”.
Ele perguntou: “Você leu o livro de Vatsyayana?”. Ela fez cara de surpresa: “Livro de quem?”. Ele disse que era o nome do sujeito que escreveu o Kama Sutra: “Era religioso e filósofo”. A dona respondeu: “Era sem vergonha. Eu vi as figurinhas. E para fazer as posições do Kama Sutra basta ver figurinhas. Eu tenho o livro lá no quarto. Quer conferir?”. Parecia claro que havia alguma coisa entre a dona e o Kama Sutra, mas nada tão profundo. Ele deduziu que ela fez daquilo o marketing pessoal. Ou profissional. Mas ele tinha de concordar: sem ver figurinhas ninguém dá conta do Kama Sutra.
Já que estava ali, decidiu ir em frente. Ele não gostou do quarto, mas era aquilo ou nada. No entanto, tinha uma vantagem: era suíte. Quer dizer, tinha um banheiro no quarto. Ela mostrou o livro sobre o criado-mudo. Estava malhado. Muitos clientes andaram folheando aquilo com interesse intelecto-sexual. Ele pegou, olhou e percebeu que todas as posições tinham vários xis e algumas eram marcadas por cores diferentes, azul, verde e vermelho.
Enquanto tirava a roupa, a morena explicou: “O número de xis é o número de vezes que eu repeti a posição”. E arrematou: “As cores diferentes são os graus de dificuldades operacionais de cada posição, que influem no preço”. Ela perguntou: “Você não quer saber o meu nome?”. Ele disse que não porque ela ia mentir do mesmo jeito. Ele nunca conheceu uma puta que falasse o nome verdadeiro. Portanto ele disse que ia chama-la e Lucinéia.
Ela disse: “Eu não gostei. Não combina comigo”. Ele falou: “Tudo bem, Lucinéia”. Jânio pensou que não tinha como conferir todas as posições do Kama Sutra. Era preciso preparo físico, fôlego e finanças, já que cada posição tinha preço à parte. Ela disse: “São 30 reais pelo programa, com direito a uma latinha de cerveja e mais 30 reais por posição do Kama Sutra. De acordo com o grau de dificuldade, o preço pode subir para 50 reais”.
Jânio pensou que tinha que tomar cuidado se não quisesse ser esfolado. Quer dizer, financeiramente. Ele conferiu a tabela, olhou o livro e pediu três posições: “A Montanha Mágica”, “Triângulo Luminoso” e “A Borboleta”. Além de baratas, eram práticas. Lucinéia era generosa. Ao final ela gostou de Jânio e deu de brinde “O Sapo”. Quando terminaram, ela perguntou: “Quer levar um papo sobre a Divina Comédia? Eu cobro vinte reais por vinte minutos e mais dez se passar do tempo”. Jânio perguntou: “Você gosta do céu ou do inferno?”. Ela respondeu: “Céu. De inferno chega a vida que levo”.
Ele tinha uma curiosidade: “Você é comunista?”. Ela conferiu as notas que ele pagou enquanto respondia: “Não. Capitalista, empreendedora e criativa”. Ele pensou que fazia sentido.

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