sábado, 2 de maio de 2015

UM TEXTO DE LUIZ OTÁVIO CAVALCANTI - JORNAL DA BESTA FUBANA


SEMANA PASSADA

Esta foi semana de silentes e loquazes. Dilma, silente. Renan, loquaz.
É notável um país no qual a presidente da República não consegue falar para o público. Quer dizer, falar até consegue. Mas sob o eco de sonoro panelaço. Por isso, ela decidiu calar. Iremos, pois, ouvir o silêncio presidencial neste 1º de maio de 2015.
Já o senador Renan despiu as palavras convenientes com que habitualmente mede suas declarações. Com contundentes críticas à presidente e ao vice presidente, Temer, seu colega de Partido.
Por que o experiente senador, que tem contra si três processo tramitando no STF, adotou tal postura agressiva?
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Decidida a não falar no 1º de maio deste ano, Dilma encaminhou o seguinte email ao ex presidente Lula:
“Meu caro Presidente Lula.
Recebi seu recado de que deveria falar à população neste 1º de maio. Tenho recebido suas recomendações para aparecer mais em público. Fui a Santa Catarina e, depois, a Pernambuco. Estou intensificando viagens. Mas o danado é que não há o que anunciar. Falta grana. Tu não sabes o que é isto.
Desculpe, mas não vou fazer nenhum pronunciamento no dia dedicado ao trabalho. Dizem, por aí, que é por causa do panelaço. Não é nada disso. Quem quiser que bata suas panelas. Meu ponto é outro. Como posso discursar no dia do trabalhador após enviar ao Eduardo projeto de terceirização de mão de obra?
Tenho tido insônia, meu caro, depois que botei minha assinatura lá. O que iria dizer a respeito deste assunto no meu pronunciamento? Ficar a favor, não devo. Ficar contra, não posso. Então, resolvi ver novela no horário das oito.
Sei que você andou dando umas declarações dizendo que eu deveria vetar o projeto. Compreendo suas razões. Você é filho das ruas metalúrgicas do ABC. Mas eu fui criada na luta ideológica.
No mais, Presidente, tenha um bom feriado no seu sítio. Eu permaneço por aqui, escutando o zunido do vento que raspa as colunas deste Alvorada de minha aflição.
Sua sempre fiel,
D”.
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A mudança radical de atitude institucional do senador Renan não oculta sua dor política. Ele sempre foi do time dos chapa branca, típica vocação áulica. Ministro de FHC, amigo de Sarney, cooperativo com Lula, elegeu-se duas vezes presidente do Senado Federal. Teve que renunciar, na primeira vez, para não ser cassado. Investigado por suposto pagamento de despesas pessoais, por parte de empreiteira, devidas a uma amiga.
Seu aparente suicídio político ocorre porque não admite que seu nome conste da lista de investigados na Lava Jato. Já enfraquecido, perdeu indicação para a direção da Transpetro depois que protegido seu (Sérgio Machado) foi afastado da empresa na investigação na mesma operação policial.
Renan não deverá ser reeleito para a presidência do Senado. Não conta com condições políticas para ser ministro em governo de nenhuma espécie. Resta-lhe a canícula provincial de origem. É pouco para tamanha ambição.
* * *
Figura da semana – Paul Éluard
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O poeta francês, Paul Éluard, nasceu em Saint Denis, na França, em 1895. Participou com Salvador Dali e com Luís Aragon do movimento dadaísta. Em seguida, filiou-se ao Partido Comunista (de onde terminou saindo) e ingressou na onda do surrealismo.
Em 1936, batalhou na Espanha contra a ditadura franquista. Em 1942, publicou o poema Liberdade. Milhares de exemplares do poema foram jogados de aviões sobre a França para incentivar a Resistência Francesa.
Em 1948, participou do Congresso da Paz, junto com Picasso, na Polônia.
Ficou conhecido, por sua trajetória liricamente combativa, como o poeta da liberdade.
Eis trecho do poema Liberdade:
“Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome
Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome
Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome
Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome
E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer 
E te chamar
Liberdade”.
Até a próxima.

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