OS DOIS TENENTES
Anos
atrás, dois tenentes formados pelo NPOR foram estagiar seis meses no 14º
Regimento de Infantaria sediado em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco.
Os tenentes Cavalcanti e Tenório se
apresentaram ao comando com ardor e amor à Pátria. Em tempo integral no quartel,
dormiam no quarto de oficiais. Bons militares, aprendiam as lições, o trabalho
do Regimento. Entretanto, nem tudo era ralação, davam bordejos e paqueradas
pela vizinhança, pegavam o trem em busca dos cabarés do Recife.
Numa dessas viagens de trem eles
conheceram Marília e Virgínia. Achado do destino, as duas paraibanas
trabalhavam em uma fábrica naquela região, moravam juntas numa casa em Tejipió,
perto do 14º R.I. Eram mulheres livres, independentes, coisa raríssima naquela
época. Com uma semana de namoro os dois tenentes estavam dentro da pequena casa
das operárias. Entendiam-se às maravilhas, nos passeios, nas conversas, na
cerveja e na cama, havia um probleminha, as idéias socialistas das operárias
chocavam com o pensamento conservador dos militares.
Tenente
Cavalcanti encantou-se com a beleza de Virgínia, loura, olhos cinzas, serena na
conversa e no amor. Depois de algum tempo, ao ouvir os gritos de euforia
sexual, os altos gemidos da morena Marília, ele ficou com inveja do amigo. Tenório
confidenciou, nunca havia conhecido mulher como aquela, gostava do amor, melhor
de cama não existia, só parava de gritar na apoteose, ele tinha que dar duas
tapinhas na cara. Ele ficou inebriado com tantas formas de amor inventadas pela
namorada.
Passaram cinco meses, inesquecíveis tardes
e noites de amor na pequena casa das operárias de Tejipió.
Terminado o estágio, retornaram a Maceió.
Despedida com choro, sexo e cerveja, a casinha de Tejipió tremeu naquela
noitada com o trabalho dos quatro amantes.
Três semanas depois da despedida, no 20º
BC, Cavalcanti recebeu carta de Virgínia, final de semana as duas estariam em
Maceió para matar saudade. Quando Tenório soube, entrou em pânico, noivo, se casaria
no próximo mês, se o vissem com Marília, a noiva ciumentíssima não perdoaria.
Pediu ao amigo dar desculpas, cooperava financeiramente com as despesas,
contudo as deixassem longe de sua área. Cavalcanti também era noivo em Major Isidoro ,
pequena e bonita cidade do sertão alagoano, mandou recado, não viajaria no
fim-de-semana por obrigações militares. Fardado, foi esperar as operárias na Rodoviária
na noite da sexta-feira.
Saltaram do ônibus, Virgínia se enlaçou
com o namorado, beijando-lhe a boca. Marília, decepcionada, ficou triste sem a
recepção esperada, sem seu Tenente. Hospedaram-se do Hotel Pimenta, centro da
cidade. Marília, boa colega, inventou dar uma volta a pé nos arredores, dando
liberdade para o casal se amar no pequeno quarto do hotel.
No sábado passearam, navegaram na lancha do
horário na Lagoa Mundaú. Domingo à tarde, depois da praia, foram ao Cinearte.
Cavalcanti combinou com Marília esperar Tenório no hotel, ele apareceria,
certeza. Quando o filme, “Suplício de uma Saudade”, estava no início, Cavalcanti
reclamou de forte dor de barriga, pediu licença à namorada, levantou-se,
voltaria em poucos minutos. Correu ao Hotel Pimenta, bateu no quarto. Marília
ao abrir a porta não conseguiu falar, ele abraçou a morena, ela não resistiu.
Cavalcanti pedia, grita meu amor, ela obedecia. Amaram-se aos gritos, finalmente
um urro canino, seguido de duas tapinhas. Cavalcanti fumou um cigarro, retornou
correndo para o cinema, sentou-se ao lado da desconfiada Virgínia.
Depois do filme, no quarto do hotel, Virgínia
percebeu uma carteira de cigarros continental, sem filtro, em cima da cabeceira.
Muito viva, descobriu a traição do namorado e da amiga. Arrumou a mala, partiu
para a Rodoviária. Marília, havia entrada em férias, passou mais três semana e
meia de amor com o namorado substituto. Os hóspedes do Hotel Pimenta se
acostumaram com os gritos de amor da quente paraibana e do ardiloso tenente.
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