FESTA
DE FORMATURA
Alberto, aluno de Direito, concluía
o curso com apenas 22 anos. Dentre todos os professores a que ele mais admirava,
na verdade amava, era a Professora de Sociologia Jurídica, Stela, 30 anos,
embora parecesse menos. Ela motivava a turma, despertava o gosto pelo estudo do homem como ser social. Para ele. era
completa: competente, bonita, sensual, educada, alegre. Tinha um riso solto e
leve. Fizera mestrado no exterior, falava inglês fluentemente. Nas aulas de
Stela a sala ficava cheia Ele nunca faltava, nunca. Da vida dela sabia tudo; casada, sem filhos, marido médico. Nascera
em Penedo, filha única de uma família tradicional. Sabia até o nome do perfume
que ela usava: Flower By Kenzo. Quando passava deixava um cheiro suave de flor,
inconfundível. Comprou um vidro para ele. Abria de noite, cheirava um pouco
lembrando dela. Com tantas qualidades tinha um monte de admiradores. Sentavam
na frente, ficavam prestando mais atenção na mestra do que nos ensinamentos.
Não tinha quem não a achasse sensual. Para Alberto, o mais bonito era a boca,
grande, carnuda, desenhada. Olhos e cabelos castanhos, longos, sedosos. O
sorriso era o ponto alto. Parecia que tudo sorria ao mesmo tempo, os olhos, a
boca, o corpo. Qualquer coisa que usava
ficava bonito. vestidinhos acima do joelho, mostrando pernas torneadas,
blusinhas de malha deixavam o corpo marcado, calças justas mostrando as curvas.
Os decotes mesmo pequenos eram uma tentação. A torcida era grande para que ela
passeasse pela sala de aula, assim poderiam ficar mais perto por uns minutinhos.Alberto estava
completamente seduzido. Ela o havia o seduzira sem saber. Deixava bilhetinhos
anônimos na sala dos professores. Nem sabia se ela os lia..Trazia chocolates,
até trouxe flores no dia dos Professores. Como era tímido, ensaiou o dia todo
como ia entregar, diria simplesmente assim: 'Professora
ia passando vi essas flores e lembrei
do dia dos professores." Não,
assim não ia ser legal. Melhor dizer: "Trouxe
as flores em agradecimento pelas belas aulas que nos deu". Ou então,
simplesmente entregar as flores com um cartãozinho.Foi assim. Ela recebeu com
um sorriso tímido, agradeceu , entrou no carro foi embora sem comentários.No
dia da formatura, Alberto, que não era acostumado a bebedeiras. tomou todas,
olhando sempre para Stela que estava linda com um vestido azul mostrando
sutilmente partes do corpo. Maquiagem discreta, os olhos falavam, pareciam
dizer que desejava ficar com ele. O jovem concluinte, alto e magro, com traços
dos parentes italianos. Empolgado com a
música, de pileque resolveu se aproximar
da mesa dos professores, convidar Stela para dançar. Recebeu um fora do marido,
nem deixou ela falar foi logo dizendo "Minha mulher não dança com alunos."
Alberto com a ousadia que só os bêbados e os irresponsáveis têm,
respondeu:" Quem vai dizer se dança ou não é ela!" O marido-médico
disse não admitir que um aluno dissesse aquilo, alterou a voz mandando Alberto
ir procurar a turma dele. A resposta veio na hora:"' Só saio depois que
ela responder". Nessa hora que levou um murro no rosto, caiu desmaiado
junto da pista de dança. Stela correu em socorro do concluinte, reclamando do
marido de ter tratado um aluno, com
tanta agressividade, quem realmente ia decidir, se dançava ou não era ela. Confusão.
Chegaram seguranças, polícia e ambulância da SAMU. Dois formandos mais chegados
entraram na ambulância com o amigo ferido. Stela os acompanhou até colocarem Alberto
na maca. Depois pegou a bolsa, foi embora com uma amiga. No outro dia, Alberto
já refeito da ressaca com curativo no nariz, contava feliz o que tinha
acontecido lembrando que não resistiu quando a banda tocou a música do Tom
Jobim, Wave: "Vou te contar... Os
olhos já não podem ver... Coisas que só o coração pode entender... Fundamental
é mesmo o amor... É impossível ser feliz sozinho".
Não existe poesia maior do que essa para expressar o que sente um coração
apaixonado. Naquela noite sonharia com ela rindo, mostrando o corpo sedutor, os
lábios pintados de carmim. Se encontrariam depois? Não sabia, se seus caminhos
se cruzariam de novo. Stela teria sido seu primeiro amor, nunca havia sentido
por outra o que sentia por ela, ficava meio abobalhado parecendo um adolescente
era como dizia Vladimir Nabokov em um de seus livros: As primeiras e últimas coisas freqüentemente tendem a possuir um toque
adolescente."
Vânia Maria Cavalcanti Lima
Professora e Advogada
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