quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

UM TEXTO DE VÂNIA LIMA

FESTA    DE   FORMATURA

           Alberto, aluno de Direito, concluía o curso com apenas 22 anos. Dentre todos os professores a que ele mais admirava, na verdade amava, era a Professora de Sociologia Jurídica, Stela, 30 anos, embora parecesse menos. Ela motivava a turma, despertava o gosto pelo  estudo do homem como ser social. Para ele. era completa: competente, bonita, sensual, educada, alegre. Tinha um riso solto e leve. Fizera mestrado no exterior, falava inglês fluentemente. Nas aulas de Stela a sala ficava cheia Ele nunca faltava, nunca. Da vida dela sabia  tudo; casada, sem filhos, marido médico. Nascera em Penedo, filha única de uma família tradicional. Sabia até o nome do perfume que ela usava: Flower By Kenzo. Quando passava deixava um cheiro suave de flor, inconfundível. Comprou um vidro para ele. Abria de noite, cheirava um pouco lembrando dela. Com tantas qualidades tinha um monte de admiradores. Sentavam na frente, ficavam prestando mais atenção na mestra do que nos ensinamentos. Não tinha quem não a achasse sensual. Para Alberto, o mais bonito era a boca, grande, carnuda, desenhada. Olhos e cabelos castanhos, longos, sedosos. O sorriso era o ponto alto. Parecia que tudo sorria ao mesmo tempo, os olhos, a boca, o corpo.  Qualquer coisa que usava ficava bonito. vestidinhos acima do joelho, mostrando pernas torneadas, blusinhas de malha deixavam o corpo marcado, calças justas mostrando as curvas. Os decotes mesmo pequenos eram uma tentação. A torcida era grande para que ela passeasse pela sala de aula, assim poderiam ficar  mais perto por uns minutinhos.Alberto estava completamente seduzido. Ela o havia o seduzira sem saber. Deixava bilhetinhos anônimos na sala dos professores. Nem sabia se ela os lia..Trazia chocolates, até trouxe flores no dia dos Professores. Como era tímido, ensaiou o dia todo como ia entregar, diria simplesmente assim: 'Professora ia passando vi essas flores e lembrei do dia dos professores."  Não, assim não ia ser legal. Melhor dizer: "Trouxe as flores em agradecimento pelas belas aulas que nos deu". Ou então, simplesmente entregar as flores com um cartãozinho.Foi assim. Ela recebeu com um sorriso tímido, agradeceu , entrou no carro foi embora sem comentários.No dia da formatura, Alberto, que não era acostumado a bebedeiras. tomou todas, olhando sempre para Stela que estava linda com um vestido azul mostrando sutilmente partes do corpo. Maquiagem discreta, os olhos falavam, pareciam dizer que desejava ficar com ele. O jovem concluinte, alto e magro, com traços dos parentes italianos.  Empolgado com a música, de  pileque resolveu se aproximar da mesa dos professores, convidar Stela para dançar. Recebeu um fora do marido, nem deixou ela falar foi logo dizendo "Minha mulher não dança com alunos." Alberto com a ousadia que só os bêbados e os irresponsáveis têm, respondeu:" Quem vai dizer se dança ou não é ela!" O marido-médico disse não admitir que um aluno dissesse aquilo, alterou a voz mandando Alberto ir procurar a turma dele. A resposta veio na hora:"' Só saio depois que ela responder". Nessa hora que levou um murro no rosto, caiu desmaiado junto da pista de dança. Stela correu em socorro do concluinte, reclamando do marido de ter  tratado um aluno, com tanta agressividade, quem realmente ia decidir, se dançava ou não era ela. Confusão. Chegaram seguranças, polícia e ambulância da SAMU. Dois formandos mais chegados entraram na ambulância com o amigo ferido. Stela os acompanhou até colocarem Alberto na maca. Depois pegou a bolsa, foi embora com uma amiga. No outro dia, Alberto já refeito da ressaca com curativo no nariz, contava feliz o que tinha acontecido lembrando que não resistiu quando a banda tocou a música do Tom Jobim, Wave: "Vou te contar... Os olhos já não podem ver... Coisas que só o coração pode entender... Fundamental é mesmo o amor... É impossível ser feliz sozinho". Não existe poesia maior do que essa para expressar o que sente um coração apaixonado. Naquela noite sonharia com ela rindo, mostrando o corpo sedutor, os lábios pintados de carmim. Se encontrariam depois? Não sabia, se seus caminhos se cruzariam de novo. Stela teria sido seu primeiro amor, nunca havia sentido por outra o que sentia por ela, ficava meio abobalhado parecendo um adolescente era como dizia Vladimir Nabokov em um de seus livros: As primeiras e últimas coisas freqüentemente tendem a possuir um toque adolescente."        

                                            Vânia Maria Cavalcanti Lima
                                               Professora e Advogada
                                  



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