sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

MÃE DO SURFISTA ASSASSINADO POR UM POLICIAL - G1


Ainda buscando explicações para o que aconteceu, Luciane – mãe do surfista catarinense Ricardo dos Santos, morto na terça (20) – procura se manter forte. O adeus precoce a faz olhar sem um ponto fixo e questionar sem encontrar respostas. "Ele vai viver eternamente em nossas memórias. Qualquer canto da Guarda do Embaú lembra o Ricardo", balbucia a mãe, de 43 anos, sentada e com forças consumidas pela despedida inesperada.
Ricardo, de 24 anos, levou dois tiros na frente de casa após desentendimento com um policial militar. O soldado Luis Paulo Mota Brentano confessou ter feito os disparos, mas alegou legítima defesa.
A Justiça não vai trazer o filho de volta, mas representa, no mínimo, um "conforto" para a família. "É ter justiça, é colocar a pessoa que fez isso, uma pessoa sem alma, sem coração, é colocar na cadeia e que ele pague por isso", pede ela. "Apesar que não tem nada nesse mundo que cubra a dor de uma mãe que perde o seu filho."
Mãe de Ricardinho (Foto: Renan Koerich/Globoesporte.com)Família vive na Guarda do Embaú há 4 gerações
(Foto: Renan Koerich/Globoesporte.com)
O mar e a praia foram as primeiras paixões do rapaz. Desde os 4 anos, o filho mais velho de Luciane se agarrava à grade da varanda de casa para querer ir surfar: "'Ei moço, você está indo surfar? Posso ir contigo? Me leva junto'. Ele sempre foi apaixonado por isso", relembra as palavras do filho.
A família "dos Santos" vive na Guarda do Embaú, em Palhoça, município da Grande Florianópolis, há quatro gerações. Com uma casa encravada no morro que dá acesso à trilha que leva para a praia paradisíaca, nada mais natural que o instinto pedisse pelo mar. E foi ali, perto do mar, que Ricardinho teve a "sua finaleira" de uma vida intensa, apaixonada e repleta de amigos.
Aos 4 ou 5 anos, ele já estava surfando. "Quer dizer, já vem no sangue dele, desde criança mesmo. Eu 'brigava' com ele: 'Ricardo, presta atenção no que eu estou falando'. Ele pegava qualquer ponta de toalha, de pedaço de papel, e não prestava atenção no que eu estava falando, ele viajava nas ondas dele. Ele sempre foi focado nisso, toda a vida dele, isso aí já é de alma."
A mãe conta que, no início da carreira de Ricardinho, ficava preocupada porque "ele se atirava mesmo". "Me deu bastante medo, no início da carreira, quando ele começou a bombar mesmo, na Indonésia, no Havaí. Depois ele mesmo provou que ele era capaz de passar por isso e que eu não precisava ter esse medo. Ele conquistou essa confiança em mim. Aí, eu comecei a dar uma relaxada, mas a minha preocupação sempre existiu".
O apoio das pessoas impressionou a família, diz Luciane. "Fiquei muito impressionada, agradecida também. Foi uma emoção muito grande, mas como mãe eu me sinto aliviada, por uma certa parte, pelo fato de saber que ele era uma pessoa querida para todo mundo. Que ele parte desta vida deixando boas lembranças e bons momentos para todo mundo. Ricardo foi um grande guerreiro, um grande surfista, um grande exemplo para o mundo do surfe", afirma.

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