O Boca não
toma jeito, aos 68 aninhos teve uma recaída, encontrei-o semana passada, feliz
da vida, disse estar no paraíso, entendi o amigo por sua vida pregressa.
Sinésio
Souza Lima é seu nome, os pais esforçaram-se para educar sete filhos. Durante a
juventude, enquanto os amigos mais abastados, após chumbrego com namorada
virgem, subiam as escadas dos cabarés de Jaraguá, pagando descarrego e prazer
com alguma mariposa do amor, Sinésio, frito, procurava aventuras com empregadas
domésticas, geralmente jovens do interior que tentavam melhoria de vida trabalhando
em casas das famílias burguesas. As mais salientes saíam à noite em busca de
aventuras, faziam ponto nas praças da
cidade, gostavam de rapazes, estudantes, não cobravam pela noite de amor atrás
de um muro ou na praia da Avenida da Paz. Sinésio, frequentador assíduo da Praça Centenário, conhecia, era íntimo das peniqueiras
( assim eram chamadas maldosamente as empregadas domésticas), havia um Clube no
Farol, a famosa UCPM, União dos Conquistadores de Peniqueiras de Maceió, onde
os sócios se reuniam contando aventuras, conquistas, todos tinham postos, eram
promovidos conforme o relato das aventuras, Sinésio tinha a maior patente,
Marechal da UCPM. Hoje é inconcebível. Por ser bom de lábia, cantadas
açucaradas, prometendo o que não cumpriria, as empregadas apelidaram nosso
amigo de Boca, assim ficou conhecido em todos os redutos.
Sinésio amava as domésticas, certa vez teve um caso
prolongado, quase um ano com uma bonita morena. Maria Cícera trabalhava na casa
de um médico na Rua Itatiaia, os pais de Sinésio ficaram preocupados quando Cicinha
apareceu grávida, um Deus nos acuda, falaram em casamento, aborto nem cogitar,
a criança nasceu, Cicinha entregou-a aos pais de Sinésio, criaram o menino como
o oitavo filho. Seus pais aconselharam, ele fez que ouvia, continuou em busca
de suas queridas. Sinésio nunca perdeu o encantamento, tem veneração pelas
empregadas, Freud explica.
Casou-se com 31
anos, constituiu família, entretanto, não dispensava uma saída, uma voltinha
com uma ou outra quando podia acontecer. Sempre respeitou, à muito custo, as
empregadas de sua casa, fez muita força, às vezes resistindo provocações de
estar sozinho em casa com bela jovem. Fora
de casa, discreto, nas saídas à noite para reunião com a turma no Shopping, continuou
exímio caçador de doméstica.
Certa vez,
professora da Faculdade, dois filhos adolescentes, Marília, sua amada esposa, teve problema com
empregada, marcou entrevista numa agência. Numa segunda-feira, depois do jantar
a campanhia tocou, Sinésio foi atender, deveria ser a nova empregada. Ao abrir
a porta deparou-se com uma amiga, uma de suas conquistas amorosas. Rosa ao ver
Sinésio não conseguiu segurar o espanto, saiu-lhe naturalmente um grito de espanto,
"Boca ?". Ele assustou-se, perguntou
o que queria, ela balbuciou, sou a nova empregada. Dona Marília se
aproximava, ouviu o diálogo de espanto entre os dois, conhecia a fama do marido das brincadeiras dos amigos,
dispensou Rosa na hora, não serve, disse. Ao fechar a porta perguntou, que
história é essa de Boca, ela é sua amiguinha?
Conta tudo, vai, quero saber. Boca?
É assim que elas lhe chamam?
Sinésio recuperou-se do susto, defendeu-se, não é nada
que você está pensando, me respeite, você ouviu mal, ela falou "Boa",
de boa noite, como você é maldosa. Sou um homem sério, me respeite. Deixou
Marília em dúvida, o fato caiu no esquecimento, por via das dúvidas, a esposa
contratou uma matrona de 56 anos, exímia cozinheira.
Sinésio, agora aposentado, foi eleito síndico de seu
prédio, está implantando a coleta seletiva de lixo no edifício, na primeira
reunião para informações e procedimentos com todas as secretárias dos
apartamentos (assim hoje são chamadas as empregadas domésticas), ficou
fascinado, deu-lhe uma recaída ao ver mais de vinte a seu redor, no decorrer da
reunião, pelo olhar, sentiu atração por duas. Confessou-me estar no paraíso, depois
de vários anos, o Marechal Boca volta a atacar, já tem planos, sem perceber que
o mundo mudou.

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