A BELA
CAMAREIRA
Fabiano
acordou-se meio zonzo, ressaca da noitada anterior, lembrou-se estar num
camarote em alto mar e os detalhes da festa no navio de luxo. Eram nove horas
da manhã a luminosidade entrava pela escotilha, levantou-se, fechou a cortina,
deitou-se novamente relembrando os últimos acontecimentos daquele agosto de
1965. Na tarde anterior por volta das quatro horas ele embarcou no paquete
"Princesa Isabel" rumo à Belém do Pará. Guardou a mala no camarote,
colocou um bermudão, camisa florada, foi à piscina, no bar pediu uísque
enquanto o navio desatracava do cais, movia-se de lado feito um paquiderme de
metal, tomou rumo à imensidão do oceano azul. O porto parecia se distanciar, a
cidade do Recife foi se apequenando até desaparecer na linha do horizonte. À
sua volta alguns passageiros à beira da piscina, outros tomavam drinques,
turistas comemorando a vida em alto mar. Fabiano entrou no clima de festa, entrosou-se
com outros passageiros. Três dias em alto mar até Belém, precisava preencher o
tempo, as horas de Oceano Atlântico, afinal era um rapaz de 25 anos, tenente do
Exército Brasileiro, solteiro, sem algum compromisso. Com o olhar revistou
encarando as passageiras, algumas interessantes. Apareceu o comandante do
navio, contou aventuras e mentiras, tomou uísque, simpatizou com a história do
tenente Fabiano, viajante solitário, em Manaus saberia seu destino, em qual
quartel de fronteira no meio dos índios na selva amazônica, passaria os
próximos anos de sua vida.
Às 20 horas o jantar foi servido, mesas distribuídas no amplo
salão, Fabiano e mais três passageiros tiveram o privilégio de sentar-se à mesa
do comandante, Sara e Raquel, irmãs, solteiras, em torno dos 20 anos,
pernambucanas, viajavam para conhecer Belém, o outro convidado, um paulista de
pouca conversa, dizia-se poeta. Depois do jantar o comandante se fez cupido obrigando
os jovens a dançarem, rolou apenas algumas apertos e cheiros, época de
juventude virgem, ainda não havia estourado a revolução sexual, além do mais,
as meninas estavam vigiadas por uma severa tia, depois da meia noite se recolheram. Fabiano voltou
ao salão embalado pelo piscar de olho de uma
coroa bonita, parecia ser rica em busca de aventura. A festa não havia
acabado estava bêbada, foi arrastada pelas amigas.
Esses eram
os acontecidos da noite anterior lembrados pelo jovem tenente, transferido para
a fronteira da Amazônia, aliás, banido, por não ter se enquadrado no
desdobramento da revolução ou golpe militar de 1964. Tomou um banho demorado, ao
vestir uma bermuda frouxa ouviu conversa, abriu a porta do camarote, duas
camareiras tagarelavam. Ao vê-lo a mais baixa, rechonchuda, perguntou.
-"Não vai tomar café? Posso arrumar seu camarote?"
- Ele balançou a cabeça consentindo, dirigiu-se à sala de refeições, comeu
apenas frutas. Ao retornar, encontrou a moça passando o aspirador, ela sorriu,
brincou, pode entrar a casa é sua. Fabiano percebeu a beleza da gordinha, pele
alva, cabelos encaracolados, boca carnuda, carmim, olhos oblíquos irradiando
bom humor e sensualidade. Conversaram divertindo-se, ela nascida em Macapá,
morava em Belém, final da viagem, entraria em férias. O tenente atraído pela graça
espontânea de Verbena, chegou-se perto, tirou o aspirador de sua mão, olhou nos
olhos, pediu desculpas, encostou os lábios nos dela, Verbena abriu a boca. Durante
o resto da viagem não mais fecharam a boca. Quando podia a camareira fugia para
o camarote do tenente, explorar seu corpo, sua pele, seus encantos, dormir. Amor
em alto mar alcovitado por Netuno e Iemanjá, sentinelas entreolhando escotilha
à dentro.
Em Belém o tenente tomou hotel, esperou uma semana por um
navio menor, propositalmente, desejava explorar, sentir, a imensidão exuberante
do Rio Amazonas, aportando nas pequenas cidades ribeirinhas até Manaus, de lá
partiria para seu "exílio". Passou uma semana e meia de amor em
Belém, apreciando a belíssima cidade, a namorada como cicerone. Fabiano conheceu
sua família, quatro irmãs, Rosa, Hortência, Dália, Margarida, todas com nome de
flor, além da inesquecível Verbena, a bela camareira.
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