Maceió, 19 de dezembro de 2014
Ao Conselho Médico da Santa Casa de Misericórdia de Maceió
Gostaria de expressar por escrito, o que inúmeras vezes o fiz verbalmente , sem ser levado em conta, sobre os rumos cardiologia e a cirurgia cardiovascular da Santa Casa de Misericórdia de Maceió.
É fato público o papel que teve a implantação do serviço de cardiologia e cirurgia cardiovascular na estruturação deste hospital e na Medicina de Alagoas. Podemos afirmar que colocou Alagoas no mapa cientifico do Brasil. Daqui saíram contribuições relevantes e originais que serviram de modelo para o país inteiro. O programa de Transplante de Coração, iniciado há 25 anos, foi referencia para todo o pais. O serviço formou mais de 70 médicos cardiologistas e cirurgiões em 35 anos de atividade. O impacto provocado pela estratégia de gerenciamento com a participação ativa dos médicos, sem nenhum tipo de remuneração, serviu de inspiração para os outros serviços do hospital e com essa sinergia em 10 anos a santa casa transformou-se no melhor hospital do Estado.
A cardiologia sempre foi o fio condutor dessas transformações. Implantamos a primeira UTI do Estado e com a evolução cedemos essa UTI para os clínicos e conseguimos com muito sacrifício dos médicos e apoio irrestrito da Direção, aproximar a UTI do Centro Cirúrgico Cardíaco, criando a UTI cardiológica condição ideal para se trabalhar com doentes graves que correm risco em deslocamentos e precisam de constantes reintervenções em ambientes diferentes. Não se conseguiu o que seria ideal e mais seguro para os pacientes que seria , aproximar centro cirúrgico, UTI e Hemodinâmica, facilitando o trabalho da equipe de cuidadadores e melhorando a segurança dos pacientes.
É fato também que há muito se tem tentado, sem sucesso, de forma sorrateira e as vezes ostensiva, desmantelar um dos serviços mais destacados da instituição. Mudanças são implementadas sem consulta a quem de direito e se eventualmente ocorre, não tem nenhuma consequência. Conversas de corredor são plantadas com o objetivo claro de desmerecer o trabalho dedicado de todos. O serviço encontra-se operando com grande dificuldade e sem nenhuma interlocução com a direção. Equipamentos sucateados, UTI com problemas crônicos de equipamentos e principalmente de pessoal, comprometem os resultados e levam a equipe a um esforço enorme para manter o atendimento regular. Novos projetos que deveriam ser implantados visando acompanhar o desenvolvimento cientifico e atender à população não encontram espaço para serem implementados e outros que obtém bons resultados e tem grande importância social são desativados. O maior exemplo é o programa de Cirurgia Cardíaca Pediátrica que foi descontinuado, gerando grande prejuízo social.
Com o discurso de melhorar a estrutura, a direção nos impôs a transferência do centro cirúrgico da cardiologia para o centro cirúrgico Geral num retrocesso sem precedentes, nos roubando uma conquista importante (não para equipe, mas para segurança dos doentes) , de ter um teatro de operações contigua à UTI. O movimento lógico seria melhorar o centro cirúrgico cardiológico, ampliar a UTI Cardiológica e pensar em aproximar a Hemodinâmica.
Essa idéia sem sentido vem sendo tentada de forma mais intensa nos últimos 6 anos, sem nenhuma sustentação técnica. Mais recentemente a arrogância tem se exibido de forma mais ostensiva na forma de que é uma determinação “superior”, ou vai por bem ou vai na marra, se sobrepondo ao interesse maior que é o paciente e desrespeitando o saber acumulado de pessoas que há exatos 40 anos se dedicam integralmente à cardiologia e à Santa Casa, supostamente acumularam algum saber nessa área.
Gostaria de apelar à mesa administrativa para que pudesse abrir espaço aos médicos e outros profissionais para de forma serena possam contribuir nos rumos da instituição. Se for um capricho, se atende a algum interesse oculto e for perpetrado este retrocesso, gostaria de expressar a discordância do grupo da cirurgia cardiovascular. É um retrocesso monumental. Não há como concordar. O que já está ruim fica pior.
Muito obrigado pela atenção dispensada e que Deus nos dê força para continuar essa luta em defesa da vida,
Cordialmente,
Dr. JOSÉ WANDERLEY NETO
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