Jean François Revel
A propaganda é a alma do negócio. Mais do que isso, como mostrou o Dan Draper de Mad Man, a propaganda pode ser um negócio sem alma.
No tempo da inocência, ela se limitava a estimular desejos de consumo ou a comparar qualidades de refrigerantes, sabonetes ou cereais matinais. A mais furiosa das críticas à propaganda era que ela estimulava o consumismo desenfreado ao criar necessidades inexistentes. Milhões de almas puras sucumbiram à sedução do consumismo, e ainda que isso tenha feito girar a roda da economia, no imaginário moral a propaganda ficou estacionada no purgatório dos vícios da sociedade.
Entre as formas de mistificação presentes na sociedade moderna, a propaganda comercial talvez esteja entre as mais inocentes. Até o mais ingênuo dos seres, quando submetido a ela, sabe que alguém está tentando manipulá-lo para achar que um sabão em pó lava mais branco que o outro. E que preferir Omo a Rinso é uma escolha que representa ganhos econômicos para alguém.
Depois que descobriram o marketing político e ele se fundiu à ideologia – ainda que usada apenas como excipiente para a mais sórdida fisiologia – como mostra o andamento da atual campanha eleitoral no País, a receita desandou em veneno. Aqui é mais grave, porque trata-se de mistificar fatos que conduzem a escolhas políticas que determinam o futuro de um país. Não se trata apenas de escolher entre dois tipos de sabão em pó, mas entre formas de conduzir, tratar e administrar a coisa pública.
Ensinava Jean François Revel, ensaísta, filósofo e jornalista francês:
“O que é ideologia? É uma tríplice dispensa; dispensa intelectual, dispensa prática e dispensa moral. A primeira consiste em reter apenas os feitos favoráveis às teses que se defende, inclusive em inventá-los totalmente, e em negar os outros, omiti-los, esquecê-los, impedir que sejam conhecidos. A dispensa prática suprime o critério de eficácia, tira todo o valor de refutação aos fracassos. Uma das funções da ideologia é, ademais, fabricar explicações que justificam e desculpam esses fracassos”
Esse era o bom debate intelectual que o filósofo francês travava nos anos 70/80, quando no campo de batalha das ideias da Europa o socialismo real agonizante ainda era mantido vivo por respiração artificial pelos partidos gestados no pós guerra, que resistiam a todas as provas empíricas de seu fracasso no mundo real. Até que os fatos se impuseram às lendas.
A campanha eleitoral em andamento no Brasil, mostra que a máquina de moer conceitos da propaganda aplicada à política não tem sequer a pretensão de confrontar fatos reais e defender a superioridade de uma política sobre a outra. Os adversários não existem para ser confrontados, mas para ser aniquilados.
Esta não é uma guerra de posições, como diria Gramsci. Esta é uma guerra de extermínio. E a primeira arma da guerra é sempre a mentira.
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