– Nado Torres – Folha
da Barra
Masoquismo incompreensível até para Freud
Não haverá
democracia de fato no Brasil se perdurar a indecente concentração dos meios de
comunicação. Neste livre país, seis
famílias controlam 70% da imprensa. "Quando falamos em liberdade de expressão, temos de incluir a
liberdade de distribuição”, disse o fundador do Wikileaks, Julian Assange. Esse
grupo fechado de famílias são donos dos maiores jornais e revistas, das rádios,
das principais TVs e agora dos mais acessados portais na internet e de uma
grande fatia na TV por assinatura.
Quando o
então presidente Lula imaginou criar uma Lei dos meios, como a Argentina o fez
recentemente, os magnatas da comunicação, via seus cães de guarda (os
colunistas), chamaram o presidente de autoritário, de antidemocrático. Mas como
são incoerentes e cínicos. Eles escondem que nos Estados Unidos a lei proíbe, desde 1930, a propriedade cruzada.
Um exemplo do que seja isso: o grupo New
York Times, que publica o tradicional diário, não pode em hipótese alguma ser dono de TV. Tal proibição não faz
dos States um país ditatorial! Mas aqui
o grupo Globo – só para dar um exemplo –
é dono de jornais (os dois maiores do Rio), revistas, rádios, TV, portais de
internet, TV por assinatura...
Entre
tantas, uma das consequências desse
monopólio é, além da propagação e estabelecimento de um pensamento único, a morte lenta e asfixiante dos pequenos veículos – os teimosos que penam para
subsistir. Praticamente toda a verba
publicitária concentra-se na grande imprensa. Dez veículos recebem 70% da dinheirama. Segundo informações da
revista Carta Capital (acusada de ser chapa-branca sem fazer parte dos dez), do
início de seu governo até meados de 2012, Dilma liberou R$ 161 milhões para a
mídia. Só a TV Globo faturou R$ 50 milhões; a Editora Abril, que publica a
famigerada Veja, recebeu R$ 1,3 milhão.
Os governos federal, estadual e
municipal agem como mulher de malandro: dão dinheiro a quem os espanca. É inegável que os governos tenham
seus erros, mas eles são diária e didaticamente massacrados pela imprensa, a
qual, negligentemente e de má fé, escondem os acertos. É um masoquismo incompreensível até para Freud: o governo Dilma
paga a Veja para que a revista publique informações sem provas contra ele. A
mulher de malandro apanha e apanha e ainda beija a mão de quem a espanca.
O estranho deleite desses governos impede ver
que a imprensa chamada nanica é o contraponto a essa avalanche de inverdades
diárias. Bem que poderiam ser mais justo na distribuição
de verba – o que seria bom para a informação democrática, como quis dizer
Julian Assange, lá em cima. Dividir o bolo com equidade fortaleceria a pequena
mídia, que daria condições para o público ouvir o outro lado e formar sua
opinião baseada na multiplicidade de ideias. Com uma ideia só– a da Globo e a
da Veja, por exemplo – não há democracia de fato.
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