UMA CARTA DE ANIVERSÁRIO
Alberto Rostand Lanverly
Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do HGAL
Faz muito tempo, que em uma das minhas primeiras leituras, aprendi ser o mundo uma fábrica, movimentada pela energia proveniente do sol e da lua, e que tem nos humanos não somente os seus maiores usuários, mas os responsáveis pela semeadura das mais variadas sementes que um dia, lá na frente, se transformarão na plantação que poderá ser vista de longe. Com esta ideia cada vez mais fortalecida, chego a imaginar que inexiste o futuro, e que o passado é cada vez mais presente, gravado que está em nossas memórias.
Foi vivendo este milagre que é burilado pelos detalhes do cotidiano, que meio sem querer encontrei em um dos muitos gavetões existentes na casa em que vivi nos tempos de solteiro, uma carta que escrevi para minha mãe há mais de trinta e cinco anos e cujo texto permanece tão atual. Naquela época, eu estudava fora de Maceió e aproximava-se o dia 23 de agosto – o seu aniversário. Hoje, mesmo consciente de que nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao anterior, porque estamos em constante processo de mudança, eu não hesitaria em escrever tudo outra vez:
“Muitos já disseram uma enormidade sobre as mães: “ser mãe é padecer no paraíso” etc... Aqui, porém sozinho em meu quarto de estudos, penso em muitas coisas, e entendo principalmente que, ser filho é ser feliz, e me conscientizo o quanto Deus foi bom para mim, por ter me dado uma mãe perfeita, com todos os dotes de bondade, inteligência, presteza e inúmeros outros atributos que pavimentariam uma estrada que nos levaria ao infinito. A distância é bastante válida, pois, faz com que as pessoas realmente saibam o que sentem, fato que as vezes o convívio do dia-a-dia pode se transformar em rotina.
Hoje, por aqui, consegui comprar um jornal de Maceió e minha alegria foi enorme em ver além do seu retrato, uma extensa reportagem sobre você. Tenho a certeza que este novo ano que se inicia, no próximo 23 de agosto, virá consolidar todos os seus desejos e projetos. Eu mesmo, já há muito tempo busco vitalidade no ontem, sempre mirando o amanhã, e é por tal razão que nos meus momentos de reflexão, procuro no máximo seguir seus passos e conselhos, pois, tenho a certeza que assim fazendo poderei um dia alcançar os pontos mais altos de minha escalada material.
Como digo em todas as minhas cartas, as saudades são muitas e não posso esquecer jamais dos bons momentos que sempre tivemos juntos, nossas infindáveis conversas, sempre regadas à sorrisos e brincadeiras. Hoje estou aqui com meus livros, companheiros inseparáveis, só faltando a sua presença.
Teria palavras para escrever um ano, mas creio que posso sintetizar tudo com “eu te amo” e só em ter tido a honra de ser seu filho, me considero feliz. Vou parar por aqui. Espero que tenha um feliz aniversário. Em seu dia, estarei pensando muito em sua pessoa. Saudades e beijos do seu Alberto (Beto) Rostand.”
Hoje, vivo um novo 23 de agosto. Longe, muito longe de Maceió. Sinto saudades de tudo o que marcou a minha vida. Quando vejo cores, sinto cheiro, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, o meu eterno presente. Eu te amo minha Mãe.
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