B-R-A-S-I-L - SEIS LETRAS GLORIOSAS
ALBERTO ROSTAND LANVERLY
Membro das Academias Maceioenses e Alagoana de Letras e do IHGAL
Uma das maiores alegrias do homem, com certeza, é poder deixar suas digitais no mundo, embora pequenas, mas que sejam inesquecíveis. Justamente nesta retrospectiva de vida, chega-se à conclusão de a memória ser uma das mais importantes ferramentas que cada um dispõe a seu favor.
Momentos há, de minha existência, que me deixam felizes. São instantes de recordações e reservas do passado que, em determinados momentos, chegam a nos fazer chorar. O que seria do homem sem suas lembranças? Esqueceríamos as amizades, amores, prazeres, até as intrigas e nossos negócios. O gênio não poderia reunir suas ideias, o coração afetuoso perderia sua ternura caso não se recordasse mais dela. A vida de cada um, então, ficaria reduzida aos momentos sucessivos que transcorrem sem cessar, pois não haveria passado.
Tenho vagas lembranças da Copa do Mundo de Futebol de 1966, lá na Inglaterra. Guardo, contudo, em minha mente, que nos dias de jogos, ao lado de meus pais e minha pequena irmã, sentávamos à mesa para escutar os jogos em um “moderno” rádio, marca Telefunken, comprado especialmente para a ocasião.
Recordo, porém, com nítida clareza quando eu era um dos noventa milhões de brasileiros em ação, torcendo fortemente defronte à novidade da época, a televisão, pela seleção canarinha nos campos mexicanos. O carro da família era um Gordine. A bordo dele, após as vitórias que sucederam até a conquista definitiva da Jules Rimet, descíamos para circular na Rua do Comércio. Naquela época, as calças boca de sino, camisas coloridas e minissais ditavam a moda. O vídeo cassete que ganhara, no ultimo aniversário, era meu maior orgulho.
As copas de 74, 86 e 90 são de trágicas lembranças, assim como as de 2006 e também 2010. Mas foi em 82 e 78 que mais sofri, após aprender que, assim como na vida, também no futebol nem sempre os melhores são os maiores. O italiano Paolo Rossi enterrou a geração de Sócrates e Falcão, enquanto a ditadura Argentina obrigava o treinador Cláudio Coutinho a afirmar: O Brasil é o campeão moral. Naquele ano fomos o terceiro colocado, sem havermos perdido um único jogo.
Tive porém esplendidas alegrias, nos pés de Romário em 94 e Ronaldo em 2002. Contudo, nunca consegui assimilar o ocorrido com nosso Fenômeno na partida final de 2006 em campos franceses. Nego-me a aceitar que a FIFA entregou o título a Zidane, após anestesiar nosso ídolo maior pois, se assim o fez, poderia também colocar em duvida os resultados do torneio que ora vivenciamos.
Uma coisa é certa. A magia de trazer o passado para o hoje não é tão difícil como a de fazer desaparecer o que está presente em benefício da recordação. Esta é minha primeira Copa, sem meu pai ao lado. Ele, apesar de imaginar que jamais morreria, ao final de cada um destes eventos sempre me advertia que aquela seria “a última” a estarmos juntos. Ledo engano de meu amado: sua imagem e energia sempre me acompanharão. E já se foram cinco jogos, mais da metade do caminho a ser percorrido... O Hexa parece estar se desenhando.
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