quarta-feira, 16 de abril de 2014

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA

O DOLEIRO MOSSORÓ
Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.

Maceió dos anos 50-60 do passado século respirava provincianismo. A Rua do Comércio, por exemplo, desembocando na Praça dos Martírios e terminando na Rua das Verduras era imutável. Consigo ver nas minhas cansadas retinas a Normande, a Casa Leahy, A Brasileira, a Jota Castro, o Café Central, o Bilhar do Comércio, a Casa São Miguel, a Soares Sobrinho, a Quatro/Quatrocentos, a Neno, a Farmácia Globo, o Bar Colombo, a Costa Júnior, as Nações Unidas, Capitólio Modas, A Radiante e até o monumento a Mercúrio em frente ao Café Central...

Guardo na memória a Joalheria Machado, a Livraria Ramalho, o Cinearte, depois Cine São Luiz, vizinho do prédio que o Banco Econômico construiu (ou reformou)... Mais adiante, em esquinas contrárias, Flávio Luz e a Cia. Força e Luz Nordeste do Brasil, depois Produban.

Sou do tempo do Carrocel Musical, da Loja Renner, do Edifício Passos (número 313 – onde José L. de Mendonça e Abelardo Duarte tinham consultório). Aliás, 

a Rua do Comércio era o “point” para os médicos. Com efeito, ali estavam Mário Mafra, Lages Filho, Ib Gatto, Rodrigo Ramalho, Ednor Bittencourt dentre outros... O próprio Estácio de Lima, antes de retornar definitivamente para a Bahia, tentou se fixar em Maceió. Consta que, ao encerrar suas atividades, ele teria dito que os alagoanos só queriam o dr. Sebastião da Hora...

Às tardes, legiões de ginasianos se misturavam àquelas figuras de terno branco S 120, que iam papear e receber a brisa que soprava da praia. O espaço abrigava renomados advogados, como Hebel Quintella e Afrânio Lages, artistas, intelectuais e tipos populares. Nesse último grupo, destaques para o pintor Sanduarte, o jornalista Donizette Calheiros e o cafetão Benedito Mossoró.

Em tempos de euros na calcinha, dólares na cueca, mensalões, rombos na Petrobras e o contubérnio entre petistas e doleiros, recordar Mossoró tem tudo a ver. Era ele um homem de rígidos princípios, certamente o velho proxeneta ficaria envergonhado por tudo que está acontecendo.

Por força de sua, digamos, profissão, acumulava dólares que os marinheiros trocavam na sua empresa. As elites (como diria o Lula), quando queriam viajar para o exterior, tinham em Mossoró confiável cambista. Chiques madames remetiam seus motoristas com o recado: “Faça um precinho camarada para sua amiga e admiradora...”. Ele era criterioso. Detestava misturar-se com qualquer um.

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