quinta-feira, 17 de abril de 2014

UM TEXTO DE ALBERTO ROSTAND

AS PALAVRAS
Alberto Rostand Lanverly
Membro das Academias Maceioense e Alagoana de Letras e do IHGAL

                
Acredito, cada dia mais, que os seres humanos flutuam sobre a realidade dos fatos, tomando como base a força das palavras. Elas norteiam nosso comportamento, às vezes pesando toneladas, mas, em outros instantes também apresentando a leveza das plumas que bailam ao vento tornando o céu infinito um teto, logo acima de onde nos encontramos.
            As palavras, quando oriundas de mentes puras, ou medianamente honestas, primeiro quicam no solo mais próximo para depois ricochetearem ganhando o mundo e virando história. Sem elas, o planeta onde vivemos seria outro e a eloquência dos grandes tribunos talvez fosse substituída por gestos que, de repente, não seriam suficientes para fazer escola, influenciando a  forma de viver dos homens.
            Por outro lado, pensando bem, as palavras conduzem os seres pensantes em suas atitudes, e quando escritas se transformam em legados materiais capazes de imortalizar quem as concebeu. A comprovação desta assertiva tive dias atrás quando, folheando documentos antigos, encontrei uma carta endereçada a mim, logo que nasci, por meu avô paterno, Manoel Procópio Júnior, hoje nome de Rua, no Bairro da Mangabeiras. Ele foi advogado e genitor de Rostand, meu pai, além de meus tios Helion, Eudes, Euda e Helionia Ceres. Era casado com a olindense Izabel Wanderley, a “Vovó Bebé”, a quem tanto amei.
            No documento que ele me deixou, datado de 14 de agosto de 1955, onde se vê a relação de todos os meus antecedentes, estão manuscritas as seguintes palavras: “Alberto Rostand, és hoje um ramo tenro desta árvore genealógica que aí vês pintada por tua mamãe. Logo mais compreendereis que o pincel que marcou suas cores são relampejos de um espírito cheio de fé, em tua futura trajetória por essa vida, alimentada pelo sopro de Deus. Serás, então, estamos certos, com essa graça, um tronco vigoroso capaz de, através dos tempos, encher-nos de glórias. Do vovô Procópio Junior”
Poucas são as recordações que guardo de seu aspecto físico, pois contava menos de dois anos de idade quando ele foi “levado para as estrelinhas”, pela mais inevitável das companheiras, que é a morte. Contudo, suas palavras o têm mantido vivo em meu coração, até porque há os que acreditam que nós morremos como vivemos e que, na realidade, entramos definitivamente na vida de alguém, após emitirmos nosso último suspiro.
São exemplos como este que me fazem cultuar até a mais simples das palavras, principalmente quando elas vêm enriquecidas por atos. Algumas há que, quando proferidas, mais parecem um domingo pálido, banhado por um ar frio onde até as chaves teimam em não caber nas fechaduras. Outras, porém, nos remetem a um dia ensolarado onde cada fiapo de raio, proveniente do astro rei, nos enche de alegria e satisfação, tornando inesquecível tudo o que escutamos ou lemos, pensamentos materializados que estão.
Definitivamente, apenas as palavras quebram o silêncio. Hoje, transcorridos mais de meio século, a voz de meu Avô Procópio reverbera em meu coração, como se ele, a meu lado, estivesse a pronunciá-las, dando-me forças, me incentivando e muito me amando.

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