O corpo do ator José Wilker começou a ser velado por familiares pouco depois das 22h20 deste sábado (5), no Teatro Ipanema, na Zona Sul do Rio. Wilker morreu na madrugada, aos 67 anos, após sofrer um infarto na casa de sua namorada, no mesmo bairro. A cerimônia, que foi aberta ao público às 23h40, só termina às 15h deste domingo (6). Em seguida, às18h, ele será cremado no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária, em evento fechado.
As duas filhas, Isabel e Mariana, e a namorada, Cláudia Montenegro, chegaram por volta das 22h. Entre amigos e colegas de profissão, estiveram presentes os atores Tony Ramos, Renata Sorrah, Ary Fontoura, Giulia Gam, Marieta Severo, Eriberto Leão, Vera Holtz, Natália do Vale, Susana Vieira, Malu Mader e Marcelo Serrado, entre outros.
“Eu sou a maior viúva de todas as atrizes. Que me desculpem os outros atores, mas o Wilker era especial”, disse Susana Vieira, que lembrou o personagem Giovane Improta, da novela ‘Senhora do destino’, que sempre dizia “Se precisar, estou aqui”. “Como pessoa ele sempre foi assim. Sempre disponível para os amigos. Vou aproveitar vocês [jornalistas] para mandar um recadinho para ele. Zé, fica aí, bem bonitinho, com sua meinha colorida, seu tênis cor de rosa. Não sei onde você está, mas fica aí, bem bonitinho”, disse a atriz, que prometeu escrever uma crônica sobre o amigo.
O teatro, segundo familiares, foi escolhido porque foi no local que Wilker deu início à carreira de ator, na peça "O arquiteto e o imperador da Assíria", em 1970 — o artista foi premiado pela sua interpretação.
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Serrado estava emocionado. "Não há muito o que falar. É um momento de muita dor, de muita tristeza", disse. "É muito difícil você falar com uma pessoa às 13h e combinar de conversar de novo depois e receber uma notícia dessa."
O autor Gilberto Braga lembrou de desavenças do passado. "Wilker foi um dos melhores atores da geração dele. Fez minha primeira novela. Nós brigamos. Ele era de briga quando jovem, muito agressivo. Depois fizemos as pazes. E ele fez uma de minhas melhores obras, 'Anos rebeldes'", disse, antes de mandar uma mensagem para o ator. “Wilker, vou ficar com saudades das nossas brigas.”
Às 23h, cerca de 100 fãs já faziam fila na porta do teatro para dar adeus ao ídolo. Quando foi permitida a entrada do público, eles passaram a entrar aos poucos, de 10 em 10, e cruzavam o palco, decorado com quadros de personagens de Wilker.
Roque Santeiro, o queridinho do público
A dona de casa Antônia Lopes de Sousa, de 48 anos, foi uma das primeiras a chegar. Ele disse que se tornou fã de Wilker em 1985, quando o ator interpretou Roque Santeiro, personagem título da novela de maior sucesso da época. "Vou ficar aqui até a hora que der. Se não conseguir ver ele hoje, volto de manhã bem cedo", disse.
A dona de casa Antônia Lopes de Sousa, de 48 anos, foi uma das primeiras a chegar. Ele disse que se tornou fã de Wilker em 1985, quando o ator interpretou Roque Santeiro, personagem título da novela de maior sucesso da época. "Vou ficar aqui até a hora que der. Se não conseguir ver ele hoje, volto de manhã bem cedo", disse.
As irmãs Maria Suely, 52, e Nilza Guimarães, 40, também citaram o personagem como o preferido. "Ele era muito divertido", disse Maria. Moradoras de Campo Grande, na Zona Oeste, elas contaram que caminhavam pela orla de Ipanema quando o filho de Maria viu na internet que o velório seria no teatro que fica no bairro. "Nossos filhos querem ir embora, mas a gente quer que eles esperem. Queremos ver o José Wilker", disse Nilza.
Wilker ficou ficou conhecido por trabalhos marcantes em novelas como "Roque Santeiro", em que interpretou o personagem-título, e "Senhora do destino", em que interpretou o bicheiro Giovanni Improtta. No cinema, fez filmes como "Bye bye Brasil" e viveu o Vadinho de "Dona Flor e seus dois maridos".
A última noite de José Wilker, na sexta-feira (4), foi trabalhando. Ele estava dirigindo um espetáculo que tem previsão de estreia para junho e que tem no elenco o ator Ary Fontoura, que passou essa sexta-feira junto com o ator. “Ele estava magnificamente bem. Estava apressando o trabalho porque ele precisava fazer uma viagem para América. Na verdade, ele terminou a direção dele neste dia”, disse Ary, neste sábado.Sua última participação em novelas foi em 2013, em "Amor à vida", de Walcyr Carrasco, no papel do médico Herbert. Em 2012, ele foi o coronel Jesuíno no remake de "Gabriela", baseada no livro "Gabriela Cravo e Canela", de Jorge Amado. Na versão original, exibida em 1975, havia feito Mundinho Falcão. Na TV Globo, participou de quase 30 novelas. Com Lima Duarte, dividiu cenas inesquecíveis.
“Ele abre um buraco no meu coração, na minha vida. Difícil de ser preenchido. Mas resta-me saber que sobre a argila há de sobrar sempre aquele humor, aquele glamour, aquela graça que vocês podem constatar vendo em todas as cenas que eu fiz com ele”, revelou Duarte.
Com Mauro Mendonça, ele dividiu Dona Flor. “Sempre firme no papel e era muito divertido no Dona Flor. Eu tive episódios realmente muito engraçados. Ele partiu mas deixou a amizade e a lembrança dos amigos e a sua obra, seu trabalho”, afirmou. A amiga Betty Faria falou sobre o bom humor do amigo. “Um humor, uma cultura, uma solidariedade. Momentos difíceis, ele estava ali. Um amigão”, Betty Faria.
Com Mauro Mendonça, ele dividiu Dona Flor. “Sempre firme no papel e era muito divertido no Dona Flor. Eu tive episódios realmente muito engraçados. Ele partiu mas deixou a amizade e a lembrança dos amigos e a sua obra, seu trabalho”, afirmou. A amiga Betty Faria falou sobre o bom humor do amigo. “Um humor, uma cultura, uma solidariedade. Momentos difíceis, ele estava ali. Um amigão”, Betty Faria.
Começo
José Wilker de Almeida nasceu em Juazeiro do Norte no dia 20 de agosto de 1946 e se mudou com a família, ainda criança, para o Recife. A mãe, Raimunda, era dona de casa, e o pai, Severino, caixeiro viajante.
José Wilker de Almeida nasceu em Juazeiro do Norte no dia 20 de agosto de 1946 e se mudou com a família, ainda criança, para o Recife. A mãe, Raimunda, era dona de casa, e o pai, Severino, caixeiro viajante.
O primeiro trabalho de Wilker foi com apenas 13 anos, como figurante no teleteatro da TV Rádio Clube, do Recife. "Ficava por ali aguardando alguma ponta", lembrou ele em depoimento ao site Memória Globo. A aparição inicial foi como cobrador de jornal na peça "Um bonde chamado desejo", de Tennessee Williams.
Sua carreira no teatro começou no Movimento de Cultura Popular (MCP) do Partido Comunista, onde dirigiu espetáculos pelo sertão e realizou documentários sobre cultura popular. Em 1967, Wilker se mudou para o Rio para estudar Sociologia na PUC, mas abandonou o curso para se dedicar exclusivamente ao teatro.
Em 1970, após ganhar o prêmio Molière de Melhor Ator pela peça "O arquiteto e o imperador da Assíria", foi convidado pelo escritor Dias Gomes o para o elenco de "Bandeira 2" (1971), sua primeira novela. Seu personagem foi Zelito, um dos filhos do bicheiro Tucão (Paulo Gracindo).
"Eu fazia teatro há dez anos, não tinha nada. Uma semana depois de estar no ar, eu era um cara com uma conta no banco, identidade, residência fixa e reconhecimento na rua. A resposta era muito imediata, intensa. Acabei gostando", afirmou Wilker ao Memória Globo.
Ele interpretou o seu primeiro papel principal na TV em 1975: foi Mundinho Falcão em "Gabriela", adaptação de Walter George Durst do romance de Jorge Amado, um marco na história da teledramaturgia brasileira.
Personagens conhecidos
Wilker tem em seu currículo personagens memoráveis, como o jovem Rodrigo, protagonista da novela "Anjo mau" (1976), de Cassiano Gabus Mendes.
Wilker tem em seu currículo personagens memoráveis, como o jovem Rodrigo, protagonista da novela "Anjo mau" (1976), de Cassiano Gabus Mendes.
Em 1985, viveu Roque Santeiro, personagem central da trama homônima escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Em 2004 interpretou o ex-bicheiro Giovanni Improtta, de "Senhora do destino", de Aguinaldo Silva, um personagem com diversos bordões como “felomenal” e “o tempo ruge, e a Sapucaí é grande”.
O artista dirigiu o humorístico "Sai de baixo" (1996) e as novelas "Louco amor" (1983), de Gilberto Braga, e "Transas e caretas" (1984), de Lauro César Muniz. Durante uma rápida passagem pela extinta TV Manchete, acumulou direção e atuação em duas novelas: "Carmem" (1987), de Gloria Perez, e "Corpo santo" (1987), de José Louzeiro.
Apaixonado pelo cinema, o ator participou de filmes como "Xica da Silva" (1976) e "Bye bye Brasil" (1979), ambos de Cacá Diegues, "Dona Flor e seus dois maridos" (1976) e "O homem da capa preta" (1985). Fez ainda o personagem Antônio Conselheiro em "Guerra de Canudos" (1997), de Sérgio Rezende. Além disso, foi diretor-presidente da Riofilme.
Wilker também se destacou em minisséries como "Anos rebeldes" (1992), de Gilberto Braga; "Agosto" (1993), adaptada da obra de Rubem Fonseca; e "A muralha" (2000), escrita por Maria Adelaide Amaral e João Emanuel Carneiro.
Em 2006, interpretou o presidente Juscelino Kubitschek na minissérie "JK", de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. O artista ainda escreveu textos para revistas e jornais e comentou a cerimônia do Oscar durante vários anos, para a TV Globo e para a GloboNews.
José Wilker deixa duas filhas. Mariana, com a atriz Renée de Vielmond, e Isabel, com a também atriz Mônica Torres. No Facebook, Isabel escreveu uma declaração para o pai e agradeceu as mensagens de apoio: "Só tenho amor, muito amor, e agora saudades, sempre. Obrigada a todos pelo carinho", postou, junto com uma foto
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